Auto ajuda e clonagem.

Outro dia fui assistir uma aula em uma dessas faculdades que despejam anualmente milhares de desempregados potenciais no mercado. Saí de lá aterrorizado.

Outro dia folhei uma dessas revistas que entulham as mesas dos marketólogos. Algumas páginas depois, arremessei a maldita no lixo, apavorado.

Outro dia, estava conversando em uma roda de executivos. Depois de duas formuletas “a nível de globalização e sinergia” emudeci até o final.

O mundo está estranho mesmo.

Nas escolas se ensinam modelos e mais modelos apodrecidos expressos por professores cansados quando não caducos.

Nas empresas, engole-se literatura barata e normatizante. Compêndios de auto-ajuda escritos nas coxas de gurus aposentados.

Nos happy hours arrotam-se as duas babaquices anteriores com ares de winner e bolso de looser.

É que no fundo, no fundo, está todo mundo apavorado com a velocidade das transformações. E nessa sociedade que cobra sucesso e onde este sucesso significa sucesso material, a gente se agarra à primeira bóia jogada ao mar. Dá pra entender. Só que não funciona.

Esse negócio de reproduzir modelos antigos, cartilhas e dogmas é pouco e bobo.

Os compêndios de auto ajuda são para o homem moderno o que o rosário e a penitência são para o retirante da seca. É que o paraíso é outro, mais palpável e se chama sucesso material. É que os santos são outros e se chamam Bill Gates ou Jeff Bezos. É que os templos são outros e se chamam Shopping Centers ou quinta avenida. Mas na prática toda essa classe meeira, esses leitores de gráficos e adágios econômicos, esses crachás humanos são retirantes travestidos.

O que estes não viram é que os tais gurus, os tais modelos foram premiados com o sucesso exatamente pela capacidade que tiveram de não reproduzir modelos. Capacidade de criar. Capacidade de transgredir. Os Bill Gates, Bezos, Soros, J.P. Lehman são grandes subversivos, isso sim.

Pois quando se estudam os modelos, o objetivo não deve ser jamais de aprendê-lo mas sim de entendê-lo. Mas não, as escolas, as empresas, os meios de comunicação não ensinam a entender mas a aprender. Não ensinam a criar mas a copiar. Não ensinam a pensar mas a executar.

E como é que se ensina a pensar? Pois pensar é igual a criar. Esse povo que lê essas revistas estúpidas muito melhor faria se aprendesse a pintar, escrever, tocar fagote, a cozinhar ou a fazer tricô. De que serve aprender tricô se devo me preocupar a aumentar a participação de mercado do meu produto? Não sei, mas tente porque com certeza, aquelas fórmulas que você acha que está dominando, além de serem igualmente usadas pelos seus concorrentes, já são velhas quando chegam às prateleiras ou à redação das suas revistas favoritas.

É assustador verificar que o grande motor da mídia de massa é a sua capacidade intrínseca de clonar a mediocridade. E o mais engraçado é que chamam isso de democratização do conhecimento. Pois mais parece uma democratização da estupidez. O mesmo vale para as escolas e sua voracidade comercial de produzir robôs em série. E as empresas transformando humanos em cartões de ponto.

Fuja das escolas, fuja da mídia de massa e fuja dos cursos babacas. Compre um cavalete e lambuze os dedos. Compre um Bashô e feche os olhos. Compre um cavaquinho, um triângulo, um apito. Seja homem!

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