Tenho ficado muito puto com a cobertura que uma certa imprensa faz da agora mal fadada nova economia.
Para aqueles que acham que vivem, rezam e comungam pela Internet desde criancinhas, até se esquecem que ainda era ontem e a Web ocupava uma coluninha obscura de certas revistas de tecnologia.
Daí, virou meio cult falar do assunto. Ele pipocou calmamente aqui e ali, nichadinho no material de leitura obrigatório de qualquer digerati, de qualquer moderno.
A grande imprensa, aquela de fácil digestão escrita por jornalistas fanáticos por suas jurássicas máquinas de escrever, não encontrava na Internet qualquer interesse. Até que de repente ouviram falar daquela mocinha que foi enganada por um sujeito tarado atrás de um computador. Opa, isso é legal. O povo gosta. E a Internet virou instantaneamente o hit das páginas policiais. Sites neozistas e de pedofilia que viviam no mais absoluto anonimato, vomitando suas obscenidades para meia dúzia de abjetos seres ganharam notoriedade. A Internet era o inimigo público número e uma onda de neo-ludistas ressurgiram das cinzas.
De repente, não se sabe ainda por qual conjuntura diabólica, o povo da grana passou a se interessar por essa possível fronteira. Talvez apenas e simplesmente porque sobrava demais. Então cagaram grana na cabeça daqueles pobre coitados que estavam começando, por convicção e paixão, uma atividade na grande rede. Dinheiro pacas. Um monturo. Instantaneamente, Internet virou assunto das páginas de economia e finanças até atingir as primeiras páginas dos jornais. Só se falava nisso e ficamos com o saco na lua de tanta espuma. Um horror.
E como não poderia deixar de ser, depois do inconsciente porre, vem a ressaca. Dor de cabeça, dor na alma. A grana ficou curta, curtíssima, sumiu. Quebradeira, demissões, etc e tal. Pronto, da primeira página diretamente para a de Falências e Concordatas. É óbvio que por conta de uma diabólica reciprocidade, o espaço tinha que ser proporcional ao anteriormente ocupado. Saco, de novo.
Mas o que resta de tudo isso? O que restará daqui a 10, 20, 30 anos? O mesmo que aquele famoso e disputado bal masqué que a Imperatriz Leopoldina deu no Palácio em mil oitocentos e bolinha e que foi noticiado com fervor quase religioso pela imprensa. Vocês não lembram? Nem eu. Não tem a menor importância nem relevância. Tudo faits divers. Conteúdo efêmero, supérfluo, pra encher linguiça.
Fico então me perguntando, e agora, o que vai acontecer? Pra onde mais uma vez irá migrar o assunto Internet e que tais? Muitos desejam raivosamente um expresso da página de Falências e concordatas diretamente para o obituário. Tragédia vende papel.
Mas nada disso importa muito não é mesmo? Faça uma análise consciente, clara, fria, lúcida. A Internet é ou não é do caraio? É sim. Isto sim é que importa.
O resto são palavras impressas no embrulho do cocô do meu cachorro.