Preguiça de sair do lugar e preguiça de não sair. Preguiça de pensar se devo ou não fazê-lo. Preguiça de pensar nessa preguiça.
Hoje de manhã, o sol nasceu lá atrás de um teatro de sombras quadrangular. Uma neblina fina projetava sua luz por entre os prédios, atravessando as vidraças. Era bonito. E enquanto o dia se espreguiçava no horizonhe, pensei nela de novo.
A preguiça de acordar de manhã. A preguiça de ficar na cama. A preguiça de levantar. De decidir. A preguiça de não decidir nada e de ficar só na preguiça.
Olhando para os lados, as pessoas caminhavam no frio. De suas narinas uma névoa de fanasma saia aos borbotões, misturando-se ao ar farinhento de uma manhã de maio. Era curioso de se ver. E aos poucos, as pessoas despertavam. E lá veio ela de novo.
A preguiça da rotina. A preguiça de que rotina trás preguiça e que agir não é antidoto. Preguiça de quebrar a rotina. Preguiça de um longo dia que quando acaba ficou curto.
Mais tarde o sol aqueceu aquela humidade vaporosa e os vultos ganharam forma de gente. Aos poucos todos eram pessoas diferentes que se agigantavam. Iam trabalhar. Chacoalhar a espuma dos sonhos e o torpor dos músculos.
O dia se foi, como uma bolinha de neve que vai crescendo quando desliza ladeira abaixo. Crescendo e acelerando, acelerando, acelerando, e quando não há mais declive, a imensa massa se espatifa no muro. E fica tudo como antes. Inerte.
Talvez preguiça seja a mesma coisa que inércia. Mas se há força na inércia – força da gravidade, que seja – talvez haja força na preguiça.
Quando o dia acabou, quando o sol apagou-se e foi dormir atrás do teatro do mundo, voltei para casa, sob a lua que se esticava no céu cristalino de maio. E lá veio a preguiça com toda força. A preguiça de viver e a preguiça de não viver.
Mas talvez preguiça seja isso, sinônimo de viver. Como sua força, seu inconsciente reflexo que me faz sair do lugar sem saber para quê.
Morrer um dia, ai que preguiça!