Ainda hoje

Baby olhava com atenção o móbile em espiral. De tanto olhar, adormeceu ninado pela confusão de cores. Mais tarde, o azul penetrou-lhe o peito e saiu vermelho pela boca. Derramaram-lhe uma paz leitosa pela garganta, diluindo a dor da fome. E lá atrás do móbile, mamãe esparramava uma purpurina rosa das dobras da boca que debruçava-se no berço. O arroto saiu pardo com bordas esverdeadas. Mamãe abriu-se de prazer e deitou uma onda nos olhos de Baby, que desabrochou em estrelinhas cintilantes. Elas voavam, dançavam na luz e deu sono de novo.

Um dia, Baby acordou e nem chorou. O pato conversava com o urso. Era um papo difícil e, quando perceberam que estavam sendo encarados, gargalharam. Baby riu com eles, agitou as mãos e alcançou o móbile pelo rabo do macaco. Um grito trovejou lá longe e Baby berrou. Mamãe carregou o macaco, o urso, até o pato e o berço ficou sem móbile. Ainda bem que tinha os raios do sol fazendo cócegas no nariz e a mamadeira descendo do teto.

Quando Baby descobriu o pé, foi uma alegria. Ele brincou  muito e, cada vez que o danado escapava, caindo no fundo do berço, ele suspirava, abanando a mão. Até que ele cansou, dormiu e, quando acordou de novo, uma baleia branca boiava na sua frente. Ela era boazinha e até arrepiou-se toda, quando Baby aqueceu-lhe o dorso. Quando mamãe chegou para cobrir a barriga de Baby, a baleia foi embora. Daí ele chorou até se engasgar.

Teve um dia que Baby esperneou, chutou, fez força que até saiu um pirulito do bumbum. Mas ele conseguiu se virar e cair num gramadinho cheio de flores coloridas. Foi tão gostoso o piquenique na fronha que Baby nem chorou. Dormiu assim mesmo, de bruço.

Hoje, Baby ainda ri do macaco, do urso e do pato. Baby ainda gargalha com a baleia branca nadando nas flores bordadas. Hoje, que Baby não é mais Baby e que mamãe é quase um baby.

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