Desde que surgiram – ou se popularizaram – as novas tecnologias da informação e comunicação, e em particular a Internet, foram alvo de superexcitados debates.
Balbuciou-se, no início, sobre os efeitos nocivos que tão espetacular mudança poderia ter sobre éticas e costumes. A Internet estrelava um sem-número de “faits-divers”, atravancando retrancas policiais.
Arrastados por seu irresistível poder de sedução e uma incontornável necessidade, os editoriais afastaram-se da crítica factualmente supérflua e concentram-se hoje na revolução que se avoluma nos calcanhares dos sistemas tradicionais de produção e difusão de informação. Fala-se de adaptação, convergência, substituição, adjetivando os discursos com expressivas quantificações. Fala-se, com frenesi, da democratização do acesso à informação e ao conhecimento. Gargareja-se, com paradoxal inveja, da transformação do receptor em emissor e vice-versa. Do novo poder na mão de milhões de implacáveis editorialistas, capazes de destruir ou enaltecer reputações num piscar de cliques.
Pega mal, muito mal, falar mal da popularização da informação e do conhecimento agora disponíveis para quem quiser, num browsear de olhos. Pega mal, falar mal de “open source, “colaboração” ou “co-criação”, que está na genética da própria Internet e que agora aflora para a superfície.
Criticar a Wikipédia ou o Google (como sistema, e não marca) é um crime.
Negar o valor do jornalismo colaborativo, da informação e opinião difundidas aos borbotões em bilhões de sites, blogs, redes sociais e que tais é um genocídio.
No entanto, é hora de liberar-se do fetichismo tecnológico. É tempo de encarar alguns efeitos dos novos paradigmas, com olhar crítico ou ao menos compreensivo.
O quanto estamos substituindo a necessidade de aprender por uma simples possibilidade? Houve um tempo em que a condição para uma existência confortável era conhecer coisas “a priori”. Era como se o que se aprendia estivesse em compasso de espera para um aproveitamento futuro. Quando a necessidade surgisse, estaríamos prontos. Por isso, a gente passava um tempo danado pesquisando, decorando, aprendendo.
Agora, é mais fácil porque tudo está aí, muito barato e principalmente mastigado. É só entrar na Internet. Mas, se somos humanos, de tanto esperar, a gente acaba esquecendo que está esperando e que preguiça que dá! E, se somos humanos, dormir é muito mais gostoso do que processar e pensar.
Será também que não estamos dispensando a crítica pela intuição? A opinião embasada pelos discursos ejaculados precocemente? O quanto estamos preferindo a espontaneidade às idéias embasadas? Antes a gente era mais desconfiado, ficava cabreiro e ia atrás das fontes. Hoje, já que sabemos que somos agentes poderosíssimos de mudanças, sozinhos, “só eu com minha Internet”, por que quebrar a cabeça atrás de fatos e fontes? Mais do que nunca, agora, se dá melhor quem melhor e mais rápido se expressa, e não quem melhor pesquisa e pensa.
No limite, o acesso livre à informação pode ser um soporífero intelectual. No limite, a Internet pode ser a negação das verdades.
: @google: Our @washingtonpost commentary on free expression challenge: Keeping the Internet Open – http://bit.ly/9VfKEN