Dó do Andy Warhol

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Prezado,

Estou realmente muito feliz de que você possa fazer nosso novo álbum. Aqui estão duas caixas de material que você pode usar, e as gravações.

Na minha pequena experiência, quanto mais complicado o formato do álbum […] mais difícil a reprodução e angustiantes os prazos. Mas, eu deixo tudo em suas hábeis mãos para fazer o que bem entende……..e por favor, escreva me dizendo quanto dinheiro você gostaria.

[…] ele (o empresário) vai parecer nervoso e dizer “faça logo” mas não ligue.

Está carta foi escrita por Mick Jagger para Andy Warhol em 1969. Briefing: faça o que quiser, verba: quanto achar justo, prazo: urgente.

O briefing é a pedra angular (aquela que sustenta as ogivas das catedrais góticas) de qualquer trabalho, mas quem nunca sonhou em trabalhar livre de cabrestos, de enfadonhas descrições de problemas e qualidades, de pesquisas e insights óbvios e objetivos pouco palatáveis? Quem nunca atirou em um briefing que atire a primeira pedra.

Um personagem da Peste de Albert Camus é escritor. Diariamente, ele inicia seu deleite atormentado: preencher as folhas com originalidade. Muitos anos passam-se e o frustrado funcionário público não consegue evoluir  monótonas linhas sobre uma cavalgada no deserto. A folha em branco (mental) é o pesadelo das musas e o homem medíocre morre antes de completar a primeira lauda.

Por mais odioso e enfadonho que seja um briefing, ele é melhor do que a carta “em branco” do Mick Jagger ao Andy Warhol que levou mais de um ano para realizar o trabalho urgente.

Um briefing é importante demais para ser assassinado pela pressa ou burrice. Mas maus briefings são melhores do que nenhum. Pense nisso quando escrever ou recusar um.

Em tempo, não sei se foi excesso de briefing ou falta dele, mas a capa criada pelo Warhol tinha um ziper de verdade que arranhava o disco.

6 thoughts on “Dó do Andy Warhol

  1. Será que não é possivel considerar que o briefing foi passado, não todo em texto, mas musicalmente também? Afinal, o Andy Warhol recebeu as gravações para que pudesse se inspirar e orientar seu trabalho.

  2. Nessa cartinha que vem rodando pela web durante a última semana, o que o Warhol recebeu não foi um job. Foi um pedido. “Por favor, deixe-me usar a sua interpretação da minha arte. Faça sua arte para que ela esteja junto com a minha – de artista para artista.

    Mas o ponto é bom. Guidelines facilitam as coisas.

    1. Adriando, qual é a diferença entre job e pedido? Não peguei. Acho q no fundo – artes à parte – esse bem bolado é mais ou menos o nosso trabalho, não?

  3. Bacana vc ter levantado a discussão.

    Tenho acompanhado a repercussão disso e vi que essa história tem levado a muitas reflexões e interpretações, cada um puxando a sardinha para a sua brasa.

    Tem gente defendendo que é este é o brief perfeito e que, mesmo riscando o disco, o album foi um dos mais bem sucedidos da história; e a capa uma das mais marcantes (detalhe que o único “guide” do Mick foi para que Warhol evitasse traquitanas complexas e muitas páginas…).

    Tem gente defendendo que ele ficou com medo do “criativo” não aceitar o seu pedido e por isso não deu muitos “insights”.

    Gente dizendo que foi um brief ruim. Gente dizendo que não foi brief. Gente dizendo que foi só um pedido formal e que o grande insight estava nos “anexos”.

    Ser só um mau brief versus nenhum é muito pouco.
    E às vezes o “nenhum brief” pelo menos não atrapalha.

    No final, pra mim fica a velha conclusão: ainda precisamos conversar muito sobre o papel do brief e mais ainda sobre os critérios que os levam a ser bons.

    Um abraço.

    1. Um bom briefing talvez seja simplesmente uma questão de custo X benefício onde custo = tempo e benefício = tesão.

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