Chora menos e vai trabalhar

O planejamento, em uma agência de propaganda, é um frisson. Seu glamour é lustroso e, embora não rivalize em prestígio com o da criação, é a Meca das inteligências, pretensões e egotrips above the line.

E, como se deve, a minúscula corporação dos “Planejadores” é unida, corporativista e fuxiqueira. Assim, apesar de defender sua preocupação integradora, a bandeira é um discurso retórico. Na prática, uma enrustida dor de cotovelo – contra o cliente e a criação – realimenta uma separação das atividades, responsabilidades e brilhos. Nasce assim uma série de regras, preceitos, teorias, definições: “planejador é isso e não aquilo”, “deve fazer menos isso e mais aquilo”, “exige mais isso e menos aquilo”.

Na prática, planejamento é a atividade mais difusa e barbapapa de uma agência de comunicação. Ele não atende mas atende, não faz mídia mas faz, não cria mas cria. Não produz mas produz. Não acompanha mas acompanha. Ele não é cliente mas é, não é agência mas é. Esse nada que o caracteriza é precisamente sua força. Só mesmo metáforas podem definir seu papel, sua importância.

Eduardo Lima, com o chapéu de Presidente do Clube de Criação de São Paulo, talvez tenha criado a mais singela e inspirada imagem do que é um planejador na Conferência de Planejamento: é um mateiro, que entra com facão na selva, abrindo picada para a criação (perdida por definição).

Se o planejador é um sertanista, um cão farejador, um atirador de elite, um espião, o Presidente do Clube de Criação de São Paulo tem razão quando percebe tanto bebê chorão ranheta vituperando, demarcando territórios e parindo definições.

15 thoughts on “Chora menos e vai trabalhar

  1. 100% de acordo.
    A míope manifestação do auditório me faz crer que deveriam mudar o tema da Conferência de “Na Real” pra “Me engana que eu gosto”.

  2. Meu, não sei se vc é “tocado” ou não pelos comentários do blog (quando não há “reply”, não dá pra saber se vc gostou, não gostou, ou nem tchuns). Mas se todos os planejamentos do mundo tivessem sua capacidade de pensar e discutir, a vida de nós, que somos da criação, seria muito mais fácil.

  3. Sim os planners devem entender os criativos, como os criativos devem entender os planners, aissim como os atendimentos devem entender os dois, para simplificar, todos devemos nos entender, afinal vivemos em uma cultura de mercado onde e Lei Aurea foi assinada em poucas agências, TODOS SE F….., TODOS SE SACRIFICAM PELO JOB, PELO PRAZO, PELO OBJETIVO, PELO CLIENTE E PRINCIPALMENTE POR SEUS EMPREGOS. É muito triste, mas muito triste mesmo, um criativo, PRESIDENTE DO CLUBE DE CRIAÇÃO, nos chamar de “CHORÕES QUE NÃO QUEREM TRABALHAR”, sem levar em consideração que estavam presentes PLANNERS DE SUA PRÓPRIA AGÊNCIA. chega a ser uma INFANTILIDADE ARROGANTE, ao invés de aproveitar a oportunidade do evento para aproximar as disciplinas, preferiu rachá-las, uma pena.
    Pior ainda é o cliente que não entende nada dos processos de uma agência dando aval as palavras do ilustre criativo.

  4. Uma das principais qualidades de um bom planejador é saber ouvir.
    Falei de miopia, mas acho que o mais adequado seria falar de surdez.
    O cara elogiou o planejamento da conta e da agência, falando de contribuição verdadeira no trabalho e gestão da marca e que não se importa se ele se chama planejamento ou João da Silva.
    Se existem, é verdade, criativos menos generosos e abertos a nossa contribuição, existe do nosso lado um contingente gigantesco de enroladores e cagadores de regra.
    E como vamos falar de aproximar as disciplinas se no menor sinal de discordância ao invés de ouvir, discutir, refletir… nos comportamos como tordedores organizados.

  5. Ser bom ouvinte, aceitar criticas no trabalho, novas idéias, conceitos e etc, é uma coisa totalmente diferente de ouvir em claras palavras que fazemos corpo mole. Concordo que do nosso lado também existe um mar de “pescadores” que sugerem pescar baleia em água doce, mas isso ocorre em todas as disciplinas.

    Me desculpem posso estar errado, mas não consigo entender o que foi falado como uma simples discordância, e sim como uma visão totalmente errada. Me desculpo novamente, entendo que precisamos ouvir, ser abertos, mas ouvir julgamentos e ficar calado, para mim não dá.

    Imaginem se fosse um planner, falando para um criativo, chore menos e trabalhe mais, depois do mesmo virar noites e noites na agência.

    Respeito o esforço de todos e quero que me respeitem também.

    1. Você não está errado, não, meu filho. Foi muita grosseria e muita ignorância. Pior é o Alphen defender e meter o pau nos planners (até entendo, era isso ou pedir demissão). Do contra é pouco.

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