“Prezado senhor. Desde pequeno, gosto de propaganda. Tenho muito interesse em ingressar nessa carreira. O senhor poderia me indicar as melhores escolas de comunicação?”
Todo profissional já enfrentou esse tipo de pergunta. Cabeluda. E a primeira reação é relativizar a importância de um curso superior especializado. Gostamos de ser não convencionais e o ditado “quem sabe faz; quem não sabe ensina” pesa.
A propaganda deve ser uma das especializações mais datadas. Assim, de pouco adianta conhecer a história da propaganda e menos ainda as pseudoteorias dos best-sellers de marketing. Suas hipóteses e técnicas são quase sempre chumbadas em circunstâncias peculiares e únicas, portanto, incrivelmente perecíveis. A menos que o aluno se interesse por uma antropologia da propaganda, na real, é uma prática informal.
As influências da propaganda flutuam atormentadamente na correnteza dos movimentos sociais, da cultura, da língua, da tecnologia, da economia, dos hábitos, dos valores individuais. Qualquer tentativa de sistematização teórica nasce vencida. A técnica publicitária não se aprende, experimenta-se.
Portanto qual seria o currículo útil para um aspirante a publicitário? O que se deve ensinar?
Se a propaganda é tão permeável a todas as atividades humanas, se ela carece de ética própria, fazer boa propaganda é fator de alguns indispensáveis gostos – curiosidade, observação, risco – e desejáveis habilidades – expressão, análise, autocrítica.
Assim, um bom currículo deveria atender ao desenvolvimento desses gostos e habilidades.
Por exemplo, para atiçar a curiosidade: cultura geral, clássica e étnica; para a observação: excursões para museus, festivais, favelas, cadeias, ruas; para o risco: paraquedismo, roleta-russa, circo. Para trabalhar a expressão: literatura, música, dança e oratória; para a análise: filosofia e xadrez; para a autocrítica: psicanálise.
Metade do currículo deveria ser dedicado a teorias de outras cadeiras (história, literatura, geografia, filosofia, antropologia, estatística) e a outra metade à prática em oficinas, ateliês, estágios, serviços comunitários.
Nas horas extras, no extracurricular, se quiser e tiver tempo e saco, Kotler, Porter e que tais.
Estudar propaganda pra quê? – http://www.alphen.com.br/2011/02/15/estu…
@Alphen Eu nunca li Kotler. Mas já li livros que muita gente de publicidade não leu.
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Faz tempo que isso me incomoda.. mt bom! @Alphen Estudar propaganda pra quê? – http://www.alphen.com.br/2011/02/15/estu…
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@Alphen a PP não é uma carreira de fórmulas, e sim de estratégias. Por isso, o estudo acadêmico se torna extremamente necessário!
Academia: um lugar aonde vai um monte de gente interessada em estudar o mesmo assunto. É bom que não seja uma merda, mas às vezes mesmo quando é uma merda é bom. Vc não acha?
@Alphen Não prime pela desvalorização acadêmica!!!
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outro dia me perguntaram algo parecido num evento, e respondi: o primeiro passo é tirar a bunda do computador e ir viver, amar, trabalhar, errar e ter experiências concretas de vida. perguntei quem os caras mais admiravam (steve jobs, talvez?) e pensassem sobre o que os tornava únicos. a resposta certamente tem a ver com vidas singulares e corajosas, o oposto de ser um web-potato 🙂
Adorei o termo web-potato. Posso usar? rs
Passei pelos questionamentos, ainda tento resolver. Passo pela “sistematização teórica” que nasce vencida, ainda procuro respostas para evitar. Mas sendo sincero, acho que a graça tá aí… em tudo ser errado e acabar funcionando… ou pelo menos parecer funcionar. A falta de certeza sobre o que está sendo feito, faz a gente correr atrás. Acho que esse incerteza maluca (sobre tudo… desde o que foi ensinado na faculdade até qual o título devo usar no anúncio) ajuda os curiosos e afasta as “pedras”.
“Metade do currículo deveria ser dedicado a teorias de outras cadeiras (história, literatura, geografia, filosofia, antropologia, estatística) e a outra metade à prática em oficinas, ateliês, estágios, serviços comunitários.
Nas horas extras, no extracurricular, se quiser e tiver tempo e saco, Kotler, Porter e que tais.”.
Desculpe-me pela discordância, mas não é isso que, geralmente, acontece? Estudei Propaganda e minha grade tinha uma divisão programática muito parecida com isso.
Sinceramente,
O nome do texto deveria ser “Estudar pra quê?” pois acredito que suas ideias não se aplicam somente à área de propaganda, ter referências multidisciplinares é fundamental para a carreira de qualquer profissional que deseja ter uma carreira de sucesso, independente da área de atuação. O conhecimento teórico é importante, porém, cabe a cada um ter discernimento para analisar as peculiaridades e aplicabilidade dos casos e estudos realizados e publicados.
Um abraço!
é o modo de escrever.
boa.
Gente com conteúdo cai bem em qualquer profissão.
Como diria o mestre dos títulos Eugênio Mohallem: “Diploma de publicidade não serve para nada e ainda faz você perder a carteirinha.”
Ele também disse “Mais prudente é duvidar de tudo. Aliás, não acredite nisto.” E agora? rs
Xi, assunto pantanoso. Meu comentário vai ser longo… Em grande parte, vc está certo. Em outra parte, foi contaminado pelo preconceito. As faculdades não são mais as mesmas, nem os alunos, nem muitos professores e coordenadores. Nosso amigo Kent (será o Clark?) aí em cima está certo. As grades curriculares já são assim, como vc falou, com ênfase em disciplinas humanísticas. Já eram assim quando eu me graduei, 20 anos atrás. Nos melhores cursos, também se busca a interdisciplinaridade. Então, a pergunta do título está respondida: estudar propaganda pra quê? Pra vivenciar tudo o que vc diz que um publicitário precisa e a academia já se propõe, nos programas, a proporcionar. Para experimentar um aprendizado dirigido. Mas vc está certo em algo que seu texto somente tangencia: a caretice crônica e o academicismo derrotado, e derrotista, podem tornar a bela proposta já existente no currículo uma grande tortura vã para os estudantes. Mas não acho que a faculdade seja inútil. Melhor lutar para que ela seja interessante, dinâmica, desafiadora, analítica, sem apregoar verdades prontas e imutáveis. Seria um lugar para estimular a busca pelo conhecimento abrangente e metamorfo – aprendendo a lidar com ele – exercitar o raciocínio e o improviso, tendo como base certos parâmetros, digamos, científicos (sua área, planejamento/pesquisa, por exemplo). E com professores que fossem, obrigatoriamente, profissionais com experiência de mercado. Eu, redator de carreira, bastante bem-sucedido, já dei aulas em duas universidades e fazia isso. Dava muito certo. Fazia os alunos felizes – e a mim também. Fazia-os crescer – e a mim também. Considero a frase “quem não sabe ensina” uma ofensa pessoal. Pode marcar o lugar para um duelo.
Gustavo Barakat,
parabéns pelo comentário, como um todo.
“quem não sabe ensina” foi a parte mais infeliz do texto, desnecessário.
Thanks, mas mesmo quando discordo do Alphen, gosto da sua provocação. Quase sempre.
Apesar de polêmica a discussão é interessante.
Como tem gente carente, não?
Mário, não sei bem a quem vc se refere, mas os “carentes” (toda a humanidade) se dividem em duas categorias: os que assumem que são e os que não. Pertenço, orgulhosamente, à primeira. Mas garanto que isso não tem nada a ver com meus comentários.
É fácil ficar nesse posicionamento abstrato. Parece que muitos publicitários não querem iluminar o caminho para os estudantes, deixando no ar: se vira! dá o teu jeito! Ferdinand você é muito inteligente, gosto do seu posicionamento em diversos assuntos, mas esse foi lamentável. Eu sei que a Publicidade não está em nenhuma receita, mas soluções e esclarecimentos muitos cursos dispõem, e com certeza o candidato para alguma vaga, munido de cursos extracurriculares, será mais bem quisto. Você pode imaginar, mas não sabe como é difícil ter dois filhos pequenos, e você perder suas noites de sono, por estar desempregado, sonhando com uma inserção, em um mercado tão fechado. Todos querem apenas esclarecimentos para chegar ao sucesso e trabalhar dignamente e com muito prazer. Sorte para todos!
Feranndo, permita-me dizer que sou também professor, e por isso me senti mais à vontade para emitir minha opinião. Meu texto era uma provocação a alunos também, porque se na universidade – indispensável – não há a necessária ênfase naquilo que eu defendia, cabe ao aluno procurar pelos seus próprios meios. Minha crítica dirigia-se também muito específicamente aos currículos que me parecem ruins na maioria das faculdades de comunicação.
Estudar propaganda pra quê? http://www.alphen.com.br/2011/02/15/estudar-propaganda-pra-que/ via @alphen / Exatamente o que penso.