Tenho uma grana sobrando. Quem me aconselha melhor? O amigo do peito que tem uns trocos investidos ou no desconhecido que manja de dinheiro? Tenho uma proposta de trabalho. Quem me aconselha melhor? O parceiro que me conhece como ninguém ou meu ex-chefe que admiro? Vou ao cinema. Quem me aconselha melhor? Meus contatos do facebook ou o chatonildo que escreve no jornal sobre cinema?
Em quem confio mais?
Na sabedoria do povo ou no poder da sabedoria?
Essas prosaicas interrogações estão no centro da revolução cultural que vivemos. Desde que quebraram-se as estruturas de poder da circulação de informação e conhecimento, vivemos uma enorme crise de confiança e navegamos à deriva, num mar de incertezas.
O primeiro movimento creditou muita energia no sufrágio da maioria. Na sabedoria do povo. Quando a Internet abriu a porteira da livre expressão, fomos enebriados pela extaordinária produção represada de conhecimento, que emanava da maioria anônima. Foi nessa febre que estabeleceu-se uma equação nunca antes imaginada entre colaboração e qualidade. Wikis, jornalismo cidadão, blogs colaborativos, redes de conhecimento alternativas, etc. Esse primeiro estágio era uma reação do tamanho da opressão que vivíamos: o poder concentrado (da informação e conhecimento) ditava o rumo da cultura. Era a tirania do braodcast em todas as esferas: nas instituições políticas, na mídia, na iniciativa privada, no poder paralelo das grandes marcas.
Mas parece que já estamos vivendo um contra-fluxo e o sinal precursor desse movimento é o novo poder que emerge agora: o poder da celebridade. Não há dinheiro nem poder suficiente para fazer uma marca ganhar relevância se ela não associar-se com uma celebridade. As marcas (de produtos, de imprensa, de instituições, etc) estão a cada dia mais dependentes desses imãs de relevância. Principalmente na Internet (que é o que importa).
O que isso significa?
Significa que as pessoas, novamente, estão buscando credenciais culturais para aderir ou acreditar. O amigo do peito ou da rede não dá mais segurança suficiente para aconselhar. Nem a soma dos amigos do peito ou da rede. E se hoje, acredita-se na celebridade, é uma transição para voltar a acreditar também na reputação construída sobre conhecimento e não apenas intimidade (amigo do peito) ou fama (celebridade).
publiquei ontem mais um dos meus videocasts bizarros e mencionei a novidade que os gregos trouxeram pro pensamento: antes algo só era verdadeiro quando dito por alguem divinamente legitimado (rei, sacerdote, xamã). depois dos gregos, um enunciado tinha que ser verdadeiro por si mesmo, independente de quem falou. 2500 anos depois parece que voltamos a esse mundo mítico-religioso onde vale mais o que é dito por quem é adorado.
o videocast é o “comunicação tambem tem hackers” e está aqui http://www.usina.com/rodaeavisa/2011/07/videocast-comun.html
Xiii, e agora, posso concordar com você ou vai parecer q meu firewall é uma peneira?
Texto muito bacana do @Alphen http://t.co/RKvxJH9
Celebridades e a redenção da Internet « Fernand Alphen’s Blog: http://bit.ly/pOiTRy
“reputação construída sobre conhecimento” é a melhor frase do post. Deus ajude! A pior é “… na Internet (que é o que importa)”. Quantas dessas celebridades vieram “de fora” da Internet? Da “velha e ultrapassada” TV? A maioria? Aposto. E quantas surgem na Internet mas só bombam mesmo depois de uma boa entrevistazinha no Jô? Pelo menos por enquanto, tudo tem relevância, tudo se realimenta. A Internet importa muito (tanto é que estou nela), mas não importa só.