Você já sentiu alegria pelo sofrimento do outro? Quando aquela pessoa humilhou, debochou ou foi indiferente com você e de repente ela escorrega e se esborracha no chão, fisicamente e de forma escandalosa e você tem aquele prazer indizível mas incontrolável? Quando cai o queixo do pérfido e sua soberba é desarmada, e para curtir esse momento, você vira para o lado e dá aquela risadinha de Muttley? Isso se chama Schadenfreude ou mauvaise joie.
Agora pense no sentimento inverso, quando você entra numa fossa obscura e solitário por causa da felicidade do outro? Quando aquela pessoa que você mal conhece e que, portanto, não tem nenhum motivo para ser tão alegre, saltitante e sortuda, escancara, debaixo do seu nariz, uma vida idílica, despreocupada, agressivamente realizada? E para cutucar mais fundo a sua dor, apunhalando seu amor próprio e tingindo de negro a sua inveja, você aperta o botãozinho de coração, fingindo um like sincero?
Então para compensar, você simula uma pose, retoca as olheiras, reforça o biceps, capricha no sorriso blasé, e de costas para um microambiente cautelosamente pinçado no meio do cenário desolador que lhe envolve, clica a foto e acrescenta uma frase de efeito, levemente inspirada, discretamente evocativa de sua felicidade de Penélope Charmosa.
Este sadomasoquismo filtrado, a maior curtição do nosso tempo se realiza, nas redes sociais, a ficção nossa de cada instante.
Para complementar seu texto (como sempre) preciso como um ataque de um AC-130 Gunship…
“As redes sociais estão dilacerando a sociedade”, diz um ex-executivo do Facebook
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https://brasil.elpais.com/brasil/2017/12/12/tecnologia/1513075489_563661.html