Me responde Zé. Estou com saudade.

Numa carta datada de 1865, o alfaiate Schneider cobrava Monsieur De Pléxis du Four, oficial do exército francês que estava em missão no México, despesas não pagas de fardas elaboradas para sua promoção. Para desespero do artesão a carta voltou, dois anos depois, com uma anotação diligente do carteiro informando que o oficial em questão estava desaparecido. Não é dito se Schneider estava vivo quando recebeu a resposta. Talvez tenha ido morrer na Prússia servindo a França em 1870 mas a carta aterrissou numa bancada do mercado de pulgas de Lyon e na minha coleção de selos no Brasil mais de um século depois.

Quantas dívidas, notícias, óbitos e carinhos de comerciantes, amigos, parentes e amigos naufragaram nas caixas de correio? Quantas preocupações, alegrias, tristezas e saudades dormiam de um sono agitado nos corações dos homens antes dos comunicadores pessoais móveis existirem? Antes de sermos a cada instante informados e solicitados pelas incansáveis pressas e aflições dos outros.

Antes da pipoca infinita das notificações, a espera era sofrida. Mas o que aconteceu que ainda estamos distantes e tão sós?

A cachaça da instantaneidade fez tudo piorar. Ou deu ressaca.

Piorou porque se bombardeamos na velocidade da luz , esperamos respostas na mesma velocidade. Piorou porque o que era uma espera exógena, de agentes terceiros, hoje é deliberada: Por quê será que ele não responde? Será que ele não quer responder?

Piorou porque estamos lá e cá, esperando e sendo esperados constantemente. Piorou porque não somos respondidos e não respondemos. Piorou porque estamos o tempo todo carentes e em falta. Pela latência correspondida. E ficamos cada vez mais sós. Cada vez mais egoístas.

Não que fosse melhor antes. Mas não ficou melhor agora.

Não ficou porque continua-se sem saber porque De Pléxis du Four não respondeu ao alfaiate Schneider nem porque o Zé não me responde.

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