Muitas linhas ilustraram nos últimos dias o impacto da saída temporária de Fabio Fernandes do cenário publicitário. A maioria delas, revestidas de saudosismos inconfessos, eram memorialistas: seus feitos, suas conquistas, suas glórias. Alguns também se aventuraram a diagnosticar – sem vergonha de destilar comparações autoelogiosas – uma espécie de ocaso nostálgico e funesto. A maior parte das homenagens eram conjugadas no passado e do tipo “depois de mim, o dilúvio”.
Mas uma obra não se constrói apenas com monumentos, comendas e lindas histórias. Uma obra que vale a pena infiltra-se no presente porque influencia e inspira pessoas.
O fabiofernandismo talvez seja uma escola ou uma filosofia, um jeito ou um cacoete, mais do que uma obra. O fabiofernandismo acontece no presente edificante, e não no passado reconfortante.
O primeiro traço dessa escola é a fome enorme, insaciável e incontrolável de trabalho: gosto e prazer que nutrem a vida. Fabiofernandismo é não achar que trabalho é dever nem direito. É entender que trabalho é sentido. Em um país atingindo por séculos de clientelismos, favoritismos e outras preguiças, a demonização dos ébrios por trabalho, tão anos oitenta, criou raiz. Em tempos em que se confunde rigor com pressão, o fabiofernandismo talvez seja uma higiene redentora.
Outro traço corolário do primeiro é uma extraordinária obsessão pela qualidade e pela superação. O fabiofernandismo pratica enduros, extremos e competitivos, até a linha final. É por isso que erra às vezes na dose, mas, quando acerta, vira o jogo para sempre. É por isso também que, em um mercado de comunicação todo regrado, tabulado e repleto de outros medos, o fabiofernandismo foi assimilado a tempos mais fofos ou fodas, quando, na realidade, ele está aqui e agora, lutando contra um conformismo que mascara a falta de originalidade com uma arrogância cheia de pragmatismos decorados.
Além disso, o fabiofernandismo reza o catecismo do humor. Para os seguidores dessa escola, humor não é truque nem formato. Humor é coisa séria, porque ainda não descobrimos uma melhor maneira de distinguir os Homo sapiens: o que faz sorrir engaja mais. Mas o riso sempre apavorou os carolas, pois, além de convencer, ultrapassa limites moralizadores. Tristes daqueles que levam sua marca tão a sério que toda a comunicação vira mandamento, bula ou cuspidas automatizadas.
Não foi Fabio Fernandes quem inventou o fabiofernandismo. Foi o fabiofernandismo que inventou o Fabio Fernandes, assim como inventou outros que vieram antes e que virão depois.