É atribuída a Richelieu (o grande ministro do rei Luís XIII na França) a frase “se me dão seis linhas escritas do mais honesto dos homens, eu encontrarei o suficiente para enforcá-lo”. Seis linhas, um post, um tuíte, uma foto.
As redes sociais liberaram a palavra e deram palco e espelho narcísico para as pessoas – qualquer um capaz ou não de dominar discursos, articular argumentos e estilos. E isso é bom porque a liberdade começa pela fala. Não se luta contra a opressão com o silêncio. É de se esperar que, depois do caos, surja certa disciplina e alguma ordem. É de se sonhar que reine a etiqueta e a reflexão.
No entanto, as plataformas de opinião inauguradas pela internet– as redes sociais e suas lógicas únicas – privilegiam duas estruturas de discurso pouco elaboradas: a instantaneidade e a hipérbole. Tudo tem de ser imediato, no calor e no atropelo; é preciso ser rápido e valorizar a moeda social do engajamento. As postagens também devem ser enfáticas, muito adjetivadas e exclamadas, justamente para repercutir, causar e se espalhar.
As redes sociais são o veículo de reação com aparência de opinião. Quem nunca soltou, espalhou ou creditou, no reflexo apaixonado, informações ou ideias das quais se arrependeria se tivesse a chance de analisá-las minutos depois? Quem nunca? Contudo, os efeitos da praga de opinião precoce e enfática são incontroláveis e invisíveis. Soltou e vociferou: esqueça ou reze.
As redes sociais, da forma como estão e progridem, são arenas de embates e não de debates. Reagir e refletir são verbos que não se conjugam da mesma maneira. A reação tem de ser rápida e exagerada para ter efeito. A reflexão deve ser lenta e cuidadosa para ser justa. E não é possível reagir e refletir ao mesmo tempo.
Se acreditamos na opinião reflexiva ainda que acessível, argumentada ainda que democrática, serena ainda que impactante, as redes sociais e seus públicos precisarão evoluir para constituir espaços civilizatórios.
Enquanto isso, o que grassa como um vírus biônico é a opinião apressada, maniqueísta e binária de bulas de autoajuda 2.0.
E esse vírus tem cura. Não precisa suicidar-se das redes nem impor censuras. Basta sossegar o dedo nervoso. Basta deixar que falem sem dar bola à gritaria.
Ainda por cima, inteligente e de bom senso! Agora quero casar!