Eu acuso os profetas, os manipuladores, os bons de fala e, sobretudo, os ases do engajamento. Todos os pequenos influenciadores escondidos covardemente atrás de seus teclados são mensageiros e agentes do caos, da tentativa desajeitada, de opereta, de tomar de assalto os poderes institucionais do País.
O semiburguês, semiletrado e semirrico – que advoga em defesa de seu fundo de comércio, de sua pensão, de sua renda e de seus valores semiconservadores, semirreligiosos e semimoralistas – possui letras, tempo e, principalmente, amigos como ele, semibabacas.
É esse baixo clero conservador, deitado na rede, olhando para a piscina de azulejos, cercada de fina balaustrada de concreto armado, um olho no churrasco e outro nas redes sociais, que destila o levante patriótico. Essa turma da vida semiganha alimenta a conspiração, o complô e a insurreição.
Não é só o pedreiro de Lagoa Santa, o estoquista de Jaguariúna, a enfermeira de Votuporanga, a manicure de Pântano Grande, o agricultor de Gravataí, o servidor de Pancas e a comerciante de Porangatu – que ganharam um lanche e uma passagem para Brasília – que devemos processar, julgar e incriminar. Eles são inocentes e talvez os verdadeiros mártires de uma “elitezeca” egoísta, manipuladora, preconceituosa, covarde e preguiçosa. Eles seguem, não influenciam ninguém.
A internet e suas redes sociais não são a redenção do oprimido nem a democratização da informação, tampouco o megafone do encarcerado na busca pela sobrevivência. Este não tem tempo nem paciência para isso. A elite socioeconômica, de outra perspectiva, torce o nariz para esses canais subalternos. A grande mídia também. Elas não têm tempo nem paciência para isso. As redes sociais são, antes de tudo, o playground e a tribuna do mediano, do medo da mudança e do pavor da perda de pequenos e frágeis privilégios – herdados, meritocráticos ou “surrupiáticos”.
Sim, vamos julgar quem fez poo-poo no Palácio do Planalto ou apunhalou o Di Cavalcanti. Sim, vamos julgar quem pagou a excursão ou a merenda. Sim, também os autores intelectuais e os ideólogos. Mas são os banalizadores da infâmia, da irresponsabilidade e da mentira os mais perigosos, porque invisíveis.
Não existe pessoa mais loquaz e atrevida do que o cara da piscina de azulejos, armado de um WhatsApp do último tipo e que conta os dias para comprar um jet ski quando se aposentar. Ele não precisa fazer esforço nenhum para mover a massa que despreza: é só compartilhar sem pensar, sem analisar e sem buscar fonte. É só compartilhar mesmo, porque, no fundo, no fundo, ele talvez nem concorde que a esquerda seja comunista ou que as eleições foram roubadas. No fundo, no fundo, ele talvez não queira que ninguém invada e deprede nada. Ele só quer se achar mais informado e mais responsável. Ele só quer se achar mais brasileiro e mais patriótico. Ele só quer se achar.
O triunfo desse patriotismo é o triunfo da mediocridade digital de uma poderosa malha de influenciadores inexpressivos que reverberam mentiras, verdades alternativas, imprecações e palavras de ordem para uma pequena centena de outras pessoas medíocres e seus seguidores silentes de Rio Verde e Cacoal.
Talvez 08 de janeiro de 2023 seja lembrado como o dia da insurreição da mediocridade. O dia do fracasso definitivo das conspirações semi-histéricas dos mensageiros que tardam em calar seu arsenal tagarela. Que assim seja!