Em democracias mais maduras, os órgãos de imprensa costumam declarar suas opções políticas e eleitorais. Na França, um dos maiores jornais do país, o Libération, se anuncia “anti-Sarkozy” convicto.
No Brasil, boa parte da mídia abriga-se sob o manto de uma confortável e aparente neutralidade. Portanto, se Obama pode eventualmente agradecer o inequívoco apoio do New York Times à sua campanha, o mesmo não poderia José Serra fazer à Veja.
O sonho hegemônico dos principais veículos de imprensa no país justifica essa neutralidade de opereta que transborda um falso apartidarismo.
Justifica em parte também a propaganda eleitoral gratuita, porque, por trás da máscara (furada) da neutralidade, os órgãos de imprensa fazem perniciosas campanhas. A neutralidade presumida é um poderoso argumento de convencimento. Era.
O candidato derrotado à eleição para presidente, em seu discurso logo após o resultado da apuração, agradeceu aos seus eleitores “nas ruas e no Twitter”.
Singela delicadeza, já que seguidores são eleitores potenciais e ele também poderia ter agradecido aos leitores da Veja – que devem ser os mesmos, inclusive.
Mas mídias sociais são diferentes porque o conteúdo editorial é necessariamente “partidário”, portanto, honesto. Sem essa de fingir neutralidade.
Embora não se possa calcular ainda a importância da Internet nessas últimas eleições, já se pode perceber que a maior parte da imprensa brasileira “tradicional” teve muito pouca.
A imprensa tradicional brasileira está perdendo capacidade de mobilização também por falta de transparência?