Experiência

– Um, dois, três, quando eu contar até três, a gente pula de cabeça, fecha os olhos e abre os braços. Só vale acordar quando eu disser, combinado?
– Combinado.
– Então, vamos começar a preparação. Em que você está pensando nesse momento?
– Em nada.
– Ótimo, mas não é possível. Fecha os olhos. O que está passando pela sua cabeça?
– Deixa eu ver. Bom, agora acho que estou com medo.
– Medo de quê?
– Sei lá. Dessa sua experiência estranha.
– Certo. Mas qual é esse medo exatamente? Você está achando que vai acontecer alguma coisa ruim?
– Sim. Alguma coisa perigosa.
– Por exemplo?
– Ué, sei lá, me machucar, desmaiar, ter dor de barriga, morrer.
– Mas se você nem sabe o que vamos fazer, por que você está com medo?
– É verdade. Mas mesmo assim.
– Mesmo sem saber o que iremos fazer, você está assustado.
– É, você tem razão. Para que ter medo?
– Para quê? Então, limpa esse medo agora.
– Certo, não estou mais com medo.
– Bom. E agora você está pensando em quê?
– Em nada, quer dizer, só estou pensando que foi fácil espantar o medo.
– Foi mesmo. Agora seria bom você espantar qualquer outra coisa que passar pela sua cabeça, inclusive essa.
– Está bem. Combinado. Como se eu estivesse dormindo.
– Isso.
– E agora?
– Agora eu quero que você tire da sua cabeça qualquer coisa.
– Mas é isso que eu fiz!
– Fez nada, porque está me perguntando o que iremos fazer agora. Isso é sinal que você está antecipando o que irá acontecer.
– É verdade. Mas como faço para continuar a brincadeira então, já que não sei o que é para não ter medo e não posso perguntar, porque senão fico antecipando o que vai acontecer depois?
– É fácil. Não faz nada.
– Nada. Está bem. Não estou fazendo nada.
– Ótimo.
– Estou sem fazer nada. Nadinha de nada.
– O quê você esta pensando?
– Nada.
– E de que você está com medo?
– De nada.
– Em que você está pensando?
– Em nada.
– Então, você está pronto?
– Estou.
– Fecha os olhos.
– Fechados.
– Abre os braços.
– Abertos.
– Vou contar até dez.
– Certo.
– E daí a gente pula. Certo?
– Certo.
– Um, dois, três, quatro, cinco, seis,
– Mas a gente pula no dez ou depois do dez?
– No dez.
– Certo.
– Vamos lá. Um, dois, três, quatro.
– Só uma pergunta.
– Fala.
– Pode ser até doze?
– Pode. Vamos lá?
– Para onde?
– A gente combinou. Não é para pensar. Nem ter medo. Nem fazer nada. Lembra?
– Lembro.
– Vou contar.
– Pode contar. Não estou pensando, nem estou com medo, nem fazendo nada.
– Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove.
– Vai a doze ou a dez?
– Doze, dez, como você quiser.
– Doze, então.
– Então, vamos. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze. Vamos lá.

– Oi. Cadê você? Você está aí? Alô? Você conseguiu mergulhar? Meu Deus, o que aconteceu com você? Fala comigo. Por favor. Você ainda está por aqui? Fala alguma coisa. Era de brincadeira. Não era pra valer. Por favor, volte aqui. Que brincadeira de mau gosto. Volta aqui já! O que eu fiz? Por favor, eu estou pedindo. Não era sério. Onde você está? Vou contar até dez. Daí você volta, tá bom? Estou falando sério. Vou contar, tá? Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove.
– Pode ser até doze?

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