Bento viajou

Bento viajou muitas estradas, muitos vales, muitas montanhas. Atravessou rios, desertos, fomes e saudades. Bento viajou, mas, quando na cumeeira da idade ele olhou para trás, ele só viu um imenso vazio bagunçado de lembranças. Deu desânimo de continuar.

Do Bentinho, sobraram alguns remendos, raros pique-esconde, escapulidos prazeres. Do jovem Bento, fogos no limite do gozo, experiências tremidas, intenções, vocacões e incertas saídas. Do adulto, poucos amores, suores despencados e gritos amortecidos. Do Bento de agora, lidas  de pescoço arriado, estrias, sobrevivências e inércias incontroláveis.

Quando Bento finalmente cansou, o resgate do passado foi de triste pescaria. Mas cá e lá, no balaio dos anos idos, relâmpagos de verdades deram-lhe forças para ir-se além e morrer.

Bento viajou mais um bocado, mas, já não Bento, ele era mais para sofrer.

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