Enquanto isso

Enquanto isso, lá no País d´Oc, um bebê nascia, filho de pai tropeiro e mãe poeta. Era o segundo, e sua vocação foi definida no momento exato em que ele abriu os olhos molhados sob o rosto observador da mãe: o pequeno seria trovador.

Parte de sua educação foi dada aos solavancos, nas viagens do pai. A outra metade de sua iniciação foi provocada pela mãe que exercitava no menino a capacidade de retratar em lágrimas, sorrisos e silêncios os cenários sempre renovados do comércio do pai.

Aos quinze anos, o adolescente já estava maduro no seu ofício e, bandolim a tiracolo, partiu no lombo de uma mula com o destino temperado pela chuva dos caminhos, o opróbio dos ricos e o suspiro das princesas.

A despedida da família foi tímida. O pai, na soleira da porta, abençoou o filho, dizendo: “Vai, filho, aonde te leva o vento.”

A mãe, apoiada no seu ombro, verteu dois soluços, declamando: “Cultive o amor, filho, o amor pelo amor, filho”

Assim viajou o trovador, pelo País d´Oc e além. Muitos ventos açoitaram sua nuca, muitos amores transbordaram a garganta também. Ele seguiu, com o pai tropeiro no pulso, a mãe poeta na alma, por toda a vida e além.

Enquanto isso, aqui, os homens colocam os desígnios do homem na proveta. Sem vento a desfolhar o coração.

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