Azulão

A escassez era tanta, tão miserável o terreiro, tão doída a roça que Severiano da Tábuia nem fum.

Caipora esparramava-se no chão leproso, acerca das taperas, dos cupinzeiros e do esturrico que desvalava do morro.

E lá onde as nuvens branquelas descansavam no horizonte da lida quente, era a chuva desenganada que já não sabia chorar.

Lá pelas onze da manhã, Severiano, de olho bronco na terra, voltava para casa para abrigar-se. Muito quente o dia, muito seco e muito igual a todos os outros. Arrastava a chinela, fazendo trilho no pó e cantando a novena do santinho. Bem baixo no vento, desafinado que só.

Tinha um pau fincado no açude lameado. Lembrança de outra fartura a marcar o nível da bênção do céu. E no pau, tinha um azulão cantando.

Severiano, apoiado na enxada, encarou o pássaro. O bicho encheu o peito de orgulho e soltou um longo pio, primeiro agudinho, depois cheio de gorgorejos. Severiano sorriu de satisfação. Demorou a cantoria de azulão, exibido, e a observação do sertanejo, com muito gosto.

Depois, teve lá uma curupira de pé troncho, alguma coisa que fez sinal. Ninguém não viu a danada, mas o bicho parou de cantar e voou. Severiano também apeou do concerto e deu de ombros para o intermezzo.

Azulão cantou, Severiano apreciou. Na caatinga tem disso, às vezes.

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