Floresta assassinada

Soou volumoso, persistente, profundo, monódico. Uma única nota a ricochetear nas copas. O caçador anunciou assim o final da caçada.

Aos poucos o tropel de cavaleiros perfurou a floresta, manchando o plácido cenário de pinceladas rubras. Alguns cantavam, outros discutiam, um mar de cachorros se esparramava pelo campo e, mais atrás, uma horda de serviçais transportava o fabuloso butim. De carne feridas, sanguinolentas, doídas.

E quando descansou das febres bárbaras, um ponto silencioso, solene, fúnebre emudeceu a mata. Nem lamento de órfãos, nem descabelos, nem desesperos.

Assim, depois da carnificina ignorante, a morte suspende o tempo, o medo paralisa.

Quando a dor é enorme, gigantesca, do tamanho de uma floresta inteira, chorar é vão desperdício. Rezar, arrazoar e morrer, também.

Ou talvez cantar um infinito suspiro. Para continuar a viver, por falta de opção.

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