Quando abri a caixa, não tinha nada. Estava completamente vazia. Como não tinha remetente, não dei muita bola.
No dia seguinte, era um envelope. Virgem também. Nem selo tinha, nem nada escrito, a não ser meu nome.
Depois recebi um saco plástico e, claro, vazio. Continuou assim por alguns dias, embrulhos de todos os tamanhos e tipos, caixas, caixinhas, caixonas, papéis de presente, elásticos também e fitas coloridas.
Passou-se um ano, um ano de uma regularidade impressionante. Vazios anônimos chegavam todos os dias, à mesma hora e era sempre uma surpresa. O que será desta vez?
Com o passar do tempo, minha curiosidade se acalmou. Era uma deliciosa rotina.
Até que desisti totalmente de tentar desvendar o enigma: quem mandava, por que mandava e se um dia eu saberia a origem daqueles embrulhos virgens.
Quando abri o correio àquela manhã, uma mão trêmula, muito diferente das etiquetas datilografadas das anteriores, escrevera meu nome num envelope pardo.
Eu logo saberia: aquela que me amava e se corroía de vergonha, aprisionada do outro lado das convenções, que não ousava desafiar seus algozes nem enfrentar o meu amor me presenteava com seu silêncio, sua desesperança, seu desejo invisível.
Por isso, não abri o envelope. Queimei. Não tive coragem de traí-la, nem a meu sonho.