Outro dia me perguntaram o que faz a propaganda brasileira ser diferente, original, e por isso mesmo interessante, atraente, inspiradora em outras culturas. Tive enormes dificuldades de responder, até porque, infelizmente, não acho que a propaganda brasileira tenha tanta personalidade assim.
Mas talvez possamos fazer uma análise um pouco mais futuro do pretérito: “o que faria da propaganda brasileira” ao invés de “o que faz”.
Pois pensamos um pouco na própria formação da cultura nacional. Essa cultura crioula, miscigenada, “maxixada”. Essa cultura da preguiça antropofágica.
Talvez devêssemos, sem nenhuma pretensão, remontar ao final do século XVIII, início do século XIX, aos indícios tão férteis da formação da nossa identidade cultural. Naquela época em que a aristocracia culta debruçou-se sobre a rua, abriu seus salões e, não sem ironias e sarcasmos, recebeu os libertos mestiços para seus saraus dançantes. Quando a intelectualidade européia saia às escondidas dançar maxixe nos bordéis enquanto as jovens prometidas tocavam valsas ligeiras nos seus Pleyel importados.
Foi então que o fenômeno se deu. Foi então que da busca frustrante pelos píncaros do pensamento culto europeu contaminado pela influência contagiante da senzala e dos libertos segregados que nasce esse jeito, essa ginga tão brasileira, essa mistura sincopada, essa inspiração tão extraordinariamente original.
É desse pulso irresistível que surge a nossa ímpar, admirada, comprada, copiada cultura nacional, mais tarde sintetizada pelos modernistas.
E, para ser propositalmente radical, não há absolutamente nada de realmente interessante na produção cultural nacional fora dessa perspectiva. Só pastiches pobres, torpes, datados ou tardios.
Mas parece que, hoje, tangenciamos, nos meios “cultos”, de forma assustadora, uma certa amnésia obtusa que reverencia a produção cultural “estrangeira” (não dizem que até a China é mais legal?).
Parece que o nacionalismo criativo, o patriotismo cultural – palavras propositalmente batidas – não está mais na ordem do dia. Parece que estudamos estrangeirices antes de Machado de Assis ou Guimarães Rosa. Como se estivéssemos padecendo de um neo-clasissismo envergonhado. Cabala antes de Candomblé, Baudrillard antes de Wally Salomão, Phillip Starck antes de Lina Bo Bardi, Nietzche antes de Gilberto Freire, Cirque du Soleil antes da Mangueira, Big Brother antes do auto da compadecida, Friends antes de Grande Família, antes Olivier Messien do que Villa Lobos.
Antes morar na Place des Vosges, my dear, beber vinho chileno, arrotar em Aspen e torcer o nariz para os selvagens que somos.
Ou então que se aplauda o mau-humor nihilista e preconceituoso de Diogo Mainardi antes de Caetano Veloso, que dispensa elogios e cujo currículo não merece tão rasa comparação.
O preconceito está na ordem do dia…
Portanto, a propaganda brasileira (e quem a aprova)… ah sei lá… Deu preguiça.
eu acho que a @marimoon tem preconceito comigo PQ EU SEMPRE PEÇO A SUA AJUDA NÃO TENHO REPSOSTA