Ai, se!

Ai se,

Quando Germaine pôs o ovo, ela não sentiu aquele alívio matinal. Ela virou-se, dobrou a cabeça de um lado, de outro e caiu de joelhos. O ovo era vermelho.

Matilde tirou a cabeça para fora da toca e farejou o ar, mas o céu estava escuro apesar da hora. Ela pôs as patas no focinho e se assustou.

Se Adélia soubesse o que lhe esperava quando mergulhou, ela não teria saído: a água tinha deixado lugar a uma lama escura. Voltou apressadamente para a borda do lago, muda.

Mesmo insistindo, Marcelinho não conseguia ir para frente. O chão andava e para trás. As árvores, as nuvens, as pedras no caminho, tudo para trás. E sua memória retrocedia também.

E foi parecido também com Valéria, cujo cabelo amanheceu crespo, com Sílvio, que teve suas economias dilapidadas de repente, Maricota, que cresceu vinte centímetros, Abelardo, que saiu voando quando abriu a janela. Noêmia não acordou e Felisberto perdeu o sono; cresceu um pelo no nariz do pequeno Carlos e Clotilde cuspiu chocolate, Gláucia e Luzinete e Deolinda e também Fábio, Graciliano e Olívio gargalharam no enterro das avós, enquanto Fátima, Cristiano e Lucila choraram sem motivo algum.

O souflé cresceu demais e o pudim espatifou, o vento entornou e o rio encolheu, a chuva esquentou e as pedras todas rolaram montanha acima. As formigas brincaram de estátua e os colibris cochilaram, os jacarés gargalhavam no pântano que secara, e todos os cachorros latiam em inglês.

Meu relógio cantou pagode, minha poltrona preferida me engoliu, meus sapatos ficaram pequenos, minha gravata bateu asas e até a geladeira se encheu de sorvete de morango.

O mundo e meu coração soluçam juntos nesse todo dia que, de tão igual, dá saudade de nascer.

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