É da nossa natureza positivista enxergar a tecnologia como uma espécie de panacéia desvairada de todos os males e aflições. Se ela se desenvolve para encurtar o tempo entre o desejo e o prazer, então, tecnologia é um fim em si.
A tecnologia, por definição, acelera, precipita o prazer e atrofia o desejo. Ela cria um prazer precoce, e no limite, um não prazer.
É nesse vácuo de frustrações que a tecnologia realimenta e recria novos desejos, incessantemente.
Iludimo-nos portanto porque acreditamos que a Internet existe para democratizar o saber num sistema capilar de distribuição, de auto-gestão, de colaboração, de subversão das estruturas de poder, etc etc etc. É o nosso desejo.
Quanto tempo durou nosso entusiasmo com a conexão discada de 9600? Mais do que nossa excitação com a de 14400 que por sua vez deu-nos um prazer mais longo do que a de 28800 e assim por diante. Qual revelação nos trouxe o browser gráfico? Maior do que a das animações do início que nos alegraram por mais tempo do que o flash, que também reinou mais tempo que o vídeo e que terá vida mais longa do que as experiências de imersão e tal e coisa. Por quanto tempo o Facebook? Menos que o Orkut, e mais que o Twitter e bla bla bla.
Por reflexo humanista, defendemos a revolução, a mudança de status, de patamar. Numa interpretação simplista, acreditamos que evolução significa melhora ao invés de adaptação. Por isso, o Twitter e outras redes sociais elegeram Obama (há quem ainda acredite nisso).
Mas a tecnologia não está a serviço do bem comum mas da administração dos desejos individuais que no fundo, no fundo, continuam exatamente os mesmos desde sempre. Não é de espantar o estrago que as ferramentas da nova era americana estejam fazendo à popularidade do novo presidente.
E, como Virilio, estamos acelerando tanto o amanhã que talvez não haja amanhã. Sejamos otimistas: tudo precisa piorar muito, antes de melhorar.