É fácil hoje em dia diagnosticar os erros da Televisão: programação calibrada pela busca desesperada de audiência (portanto que fere os cérebros dos bem-pensantes críticos) e excesso de espaços publicitários de má qualidade (logo, que irrita os bolsos dos bem-comprantes algozes). Para uma mídia que poucos anos atrás era acusada por seus nefastos poderes manipuladores, os argumentos tornaram-se simplórios.
Estranhamente, a TV Paga simboliza ainda melhor a decadência presumida da plataforma, uma vez que os assinantes compraram a quimera de que a assinatura seria capaz de, simultaneamente, elevar o nível da programação (seja lá o que isso queira dizer) e dispensar a propaganda (supondo que ela irrita).
Detratar a TV Aberta e, mais ainda, a Fechada, está na ordem do dia. Mas a excitação excessiva dos ânimos parece esconder inconscientemente algumas verdades mal assumidas.
A primeira estatística inquestionável, dá conta da audiência. Não é verdade que ela está caindo de forma acentuada. A menos que o ódio reprimido seja cego. O que houve, sim, é verdade, foi uma redistribuição das audiências entre as diferentes ofertas e canais. Mas as pessoas não estão assistindo, globalmente, menos Televisão do que 10 anos atrás.
A segunda constatação qualitativa (os canais e operadores pesquisam muito mais do que os críticos) é de que – salvo em grupos muito segmentados, micróbios estatísticos – falar mal da Televisão é parte da atração que ela exerce. Estimulado, o público encontra argumentos que por vezes se aproximam daqueles dos analistas, mas em geral é tudo muito básico e nada muito novo. As pessoas não costumam achar que piorou, é como sempre foi. E, verdade verdadeira, a paixão que a Televisão exerce é infinitamente mais palpável e contagiante do que o entusiasmo que a Internet pode suscitar.
Outro dia, eu estava em um ambiente cujo target é quase que majoritariamente de bem nascidos, bem instruídos e bem jovens. Do ponto de vista de consumo de mídia, poderia ser uma espécie de Internetlândia. Pois havia Televisões ligadas nos capítulos finais da novela, aquela da fantástica Brasilindia. Estava todo mundo assistindo de soslaio a morte do Raj. Quando o corpo apareceu, todos pararam suas atividades e fixaram-se, sem vergonha, de frente para a tela. Mandei imediatamente um sms para uma amiga “O Raj morreu?”. E com a resposta em punho, declarei aos aflitos telespectadores que era tudo uma farsa, Raj não estava morto. Ganhei muitos agradecimentos e fiz vários amigos.
Que milagre é esse que nossa critica não é capaz de apreender?
Vitória da mídia interativa sobre a tradicional “via de mão única” que sempre operou no foe sistema de televisão até aqui.