Faça assim: pegue uma camisa de marinheiro, dessas bem fedidas e jogue no porão de um navio. Espere alguns meses e quando você menos esperar, daquela coisa podre, nascerão milhares de horrorosos mickey mouses com peste bubônica.
O povo tem se acanhado cada vez mais em programar e defender as chamadas mídias tradicionais. É quase como se estivessemos pedindo desculpas: “olha, aqui vamos fazer uma campanha de televisão, mas não se preocupe, vão ser filminhos de 30 segundos, daqueles lá que se fazia antigamente, com atores, trilhas e tal, sabe? Mas veja que todo o suporte de mídias stroboscópicas vai complementar a estratégia”.
E até situações mais inusitadas ocorrem: “caro cliente, essa é uma coisa revolucionária, vai acontecer bem devagarzinho, nas mídias sociais, e vai crescendo, crescendo, crescendo de tal forma que não vamos precisar de nenhum único filmezinho na televisão, nem revista nem coisa nenhuma. Vai ser uma bafafá e iremos cobrir todo o nosso target apenas com a boa vontade da mídia falada, escrita e televisionada que vai se acotovelar para publicar nosso feito”.
Ou mais psicodélico ainda: “vamos criar um fato novo, que nunca ninguém sequer imaginou possível. E sabe o que vai acontecer? Não vamos fazer nenhuma mídia e sequer vamos precisar produzir nada. É uma espécie de estratégia pré-pasteuriana: vai ser tudo geração espontânea. Quem tem que nos consumir vai também nos divulgar.”
Ficou tão escalafobético mostrar um mapa de X que os mídias estão com os dias contados. Ou os planejadores já que tudo é espontâneo e intuitivo. Ou os criativos porque estão terceirizando a mão de obra com os consumidores.
E no final, para a broxada geral, a decepção e a mágoa, vem o dono da caneta que nos lembra que ele comprou um pacote de televisão. O dono da batata que avisa que no dia seguinte ele quer todas as Severinas fazendo fila na porta da loja. Ou nerd maldito: caiu o servidor. Ou o patrão que só se arrisca nos festivais.
Pergunta ingênua: qual foi a última vez que você trabalhou, como consumidor, para uma dessas campanhas de mídias sociais? Não minta: eu disse trabalhou, ou seja, acompanhou, seguiu, produziu, espalhou, tudo ao mesmo tempo, como se fosse a última coisa que você quisesse fazer na vida?
Nossa propaganda da geração espontânea – http://www.alphen.com.br/2010/06/15/noss…
RT @Alphen Nossa propaganda da geração espontânea http://www.alphen.com.br/2010/06/15/noss…
Fernado,
Acompanho seu blog com interesse e respeito à sua inteligência. Na tua abordagem sobre a vergonha que os publicitários estão tendo em defender as mídias tradicionais, faço uma provocação reproduzindo trecho do seu post “cronica medieval”. Abs, Sérgio Lopes -“Aposentem as fórmulas prontas, as pesquisas de público e os novelistas de pijama porque a realidade que está a um clique de ser vivida é mais excitante que a pretensa fantasia da televisão.
Engraçado, ontem mesmo eu estava pensando sobre abiogênese também, para alguma coisa que ia fazer, mas não vem ao caso agora.
Acho que quando um comercial é sugerido, parece que a agência está levando vantagem em cima do cliente, por causa de todo aquele lance de BV. Já escutei isso da boca de alguns clientes, que chegaram a sugerir um fee baixo e bonificações por resultado. Também acho que todo esse imbróglio se agrava mais quando a galera cria esses video cases de projetos online. Pode parecer idiota, mas toda vez que vejo um case digital, eles parecem se apresentar como se fossem a melhor coisa do mundo, mas poucos projetos isolados me impressionaram com os seus resultados até hoje, talvez seja por isso que eu concorde com o que você escreveu. A impressão do digital ser de graça também favorece, além de passar uma sensação de onipresença que todo cliente acredita e adora. Sou favorável a mais investimentos no digital, mas essa efusividade ao redor do assunto e o medo do tradicional me irritam.