Quem tem medo do espelho?

Quantas vezes não gaguejamos de dúvidas, muitas vezes inconfessáveis, sobre a qualidade do que produzimos?

Desenhistas seguram seus desenhos na frente do espelho para apreciar o resultado. Músicos fazem gravações para avaliar sua interpretação. Desencarnar-se da criação é um ato violento, mas emancipa o julgamento.

Outro jeito é submeter-se à apreciação dos demais para formar a imagem. Todo sufrágio avaliza a qualidade. Só os elogios ou perjúrios dos semelhantes é capaz de julgar.

Quem é mais sincero? O espelho ou o outro?

Você faz careta para seu reflexo ou pose para as fotos?

Depende da patologia social, e a atual aposentou o espelho cruel.

Likes no Facebook, seguidores no Twitter e número de conexões nas redes sociais são as novas patentes do século.

Se a sociedade de consumo entronizou a massa, a sociedade da informação beatificou a fama quantitativa.

Quando qualidade vira número, a autoimagem perde importância; a individualidade, o sentido, e toda criação vira mash-up, remix vulgar, mínimo denominador comum.

One thought on “Quem tem medo do espelho?

  1. Cara, você está muito desanimado! Eu também me angustio pelo raquitismo criativo do que muitas vezes agrada à maior parte da massa, mas não acho que ninguém sério veja isso como “sinônimo” de qualidade. É sucesso, ponto. É fato, que pena! Mas qualidade, no que se refere a conteúdo (portanto tirando características físicas como velocidade, durabilidade etc.), é e sempre será algo subjetivo. Vejamos a coisa por outro ângulo: a mediocridade (na nossa opinião, claro) do que é dominante permite que nós, guerreiros do inconformismo, lutemos pela ampliação do repertório, pela profundidade do pensamento, pelo refinamento da percepção estética. Que seria de nós sem essa batalha?

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