Repatriados e transpatriados

O mundo está girando muito mais rapidamente. Tanto que estamos – física ou virtualmente – em muitos lugares quase ao mesmo tempo. Tende a não fazer mais sentido falar de fluxo migratório, mas desde que a emergência do Brasil saiu do folclore, o assunto pipoca a torta e a direita. Mas a nossa recente afluência não justifica tudo, ainda bem, e existem pulsos diferentes que motivam uma pessoa a migrar.

Fugitivos ou exilados.

Se você não tem onde cair morto e não consegue emprego nem de coveiro, melhor cair fora. Qualquer lugar é melhor do que a miséria sem perspectiva. Nesse caso, você é um fugitivo. Mas se o seu lugar ficou burro, preconceituoso ou retrogrado, é de fome intelectual que você sofre. Se as pessoas a seu redor lhe parecem provincianas demais, então está na hora de você se exilar.

Trabalhador ou talento.

Tem gente que vende o que dá. Suas horas de trabalho, por exemplo, seu suor, sua alma. Esse é o trabalhador cuja mais valia é extorquida pelo empregador. Mas tem aquele eufemismo de trabalhador que chamamos de talento. Esse cara vende capacidade e potencial de transformação. Vale pelo que pode, não pelo que entrega. Vale pela promessa.

Repatriados ou transpatriados.

As vezes é um bom negócio mandar gente passear, experimentar e trazer de volta o que aprendeu. São os repatriados, espécies de emissários-espiões. Mas as fronteiras de hoje são vagas e ser cidadão do mundo não é mais uma ambição mas uma questão de necessidade. Raízes se formam com culturas, não com países, estados ou empresas. Ser transpatriado é carregar identidades e assimilar as novas, onde e para onde a curiosidade soprar.

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