Ritualbrands: uma ética para as marcas

A grande – e talvez única – inteligência do ex-presidente dos Estados Unidos foi ter trabalhado sua marca como se fosse a de um produto comercial. Com as mesmas técnicas, as mesmas métricas e as mesmas campanhas utilizadas pelo mais banal dos bens de consumo: ouve-se o povo para moldar a mensagem. O que será de Trump? Pouca coisa, mas o irresponsável e nocivo trumpismo venceu – e de seu autor deu cabo.

Se numa democracia o poder emana do povo, uma marca pertence a quem a consome. É a partir do sufrágio da boa vontade do consumidor que uma marca trona, e são sujeitos de seu poder a empresa, seu marketing e suas agências de comunicação.

As marcas têm poder, e esse poder emana do povo: daqueles que as compram, amam ou odeiam.

Uma marca é a representação simbólica – portanto abstrata – de um produto (ou serviço) e tem como objetivo reconhecê-lo e distingui-lo dos demais que são seus equivalentes concorrentes. Uma marca também é a representante universal e popular de um sistema produtivo, de uma organização, de uma empresa e de seus colaboradores, acionistas, fornecedores e clientes. Uma marca não é, portanto, um acessório charmoso e dispensável. Uma marca não existe apenas para encher de graça e história um bem comercial. As marcas não têm somente méritos mas também culpas, deveres e responsabilidades.

Durante muito tempo, as empresas e as agências entenderam que as marcas estão a serviço dos produtos que comunicam e devem ser domesticadas ou aliciadas para servir aos propósitos econômicos das organizações que representam. Muitas vezes, são armas de dissuasão para dourar a pílula de práticas subterrâneas ou servem de biombos, trampolins ou máscaras a interesses individuais daqueles que as manipulam.

Contudo, se a força de uma marca emana de quem a consome e não de quem a gere, ela tem deveres para com essas pessoas.

Essa perspectiva, contraintuitiva para tantos profissionais de marketing e comunicação, no entanto, abre novos universos de atuação.

Também achávamos que existiam dois mundos: o das coisas concretas, do dia a dia, e o do imaginário, da imagem e dos estímulos sensoriais da propaganda. Achávamos que esses dois mundos se encontravam apenas no fundo do nosso bolso, também conhecido como fundo do funil de conversão de consumo. Naquele instante mágico, que fazia estremecer de prazer marqueteiros e publicitários, a rede agarrava o peixe, sem dilema.

A crença de um tempo em que peixes não falavam, não gritavam e não filmavam. A crença de um tempo em que George Floyd morria em silêncio, de um tempo no qual os peixes eram presas fáceis. Para o bem e para o mal, para a luz e para a mentira, com tolerância ou sem: o povo opina e fala, debate e polariza, acredita e age.

Não há mais dois mundos, o mundo onde estratégias e mensagens são urdidas e o mundo da boca do caixa. Este mundo é um só, e as marcas são porta-vozes do povo que lhes dá poder.

Foi com essa crença que criamos Ritualbrands, uma nova maneira de pensar e trabalhar para as marcas. Ritualbrands é um projeto audacioso, muito além da estética insensata da comunicação tradicional. Não é apenas um raciocínio nem só uma metodologia. Não é somente uma forma de auferir e mensurar a performance de estratégias de marketing e comunicação.

Ritualbrands é uma ética que coloca as marcas no centro de suas responsabilidades como agentes influentes da nossa sociedade.

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