O trabalho pode ser bom, mas pode ser excelente.

Existem bons restaurantes, e restaurantes excelentes. Nos bons, o endereço é central e fácil de chegar. Nos excelentes, pouco importa onde fica. Nos bons, a galera é legal, bonita e alegre. Nos excelentes, você encontra pessoas que você nem pensaria em ver. Nos bons, a comida é inventiva, bem feita e farta. Nos excelentes, não tem comida, tem experiência e ela será inesquecível. Nos bons, o serviço é atencioso e sorridente. Nos excelentes, você nem percebe que está sendo servido.

Uma empresa de serviço não se chama serviço à toa: sua missão é servir. Um banco, um comércio, uma academia, um hospital, uma agência de propaganda são empresas de serviço. É óbvio, mas é importante lembrar-se, sempre, se queremos ser bons ou excelentes.

Servir não é um ato vil nem vergonhoso. Servir é retribuir às pessoas e ao mundo o que elas e ele lhes deram. Servir é a palavra que qualifica a palavra trabalho, qualquer trabalho.

Desde a revolução industrial, o trabalho foi associado a uma mercadoria, algo que se vende – ou algo que se explora, dependendo do espectro ideológico.

Podemos ver o trabalho como um cárcere (é uma certa origem etimológica da palavra inclusive), que tortura e espreme nossa energia para que seja usada, sempre mal paga, a um poder ou força que nos oprime. Aqui o trabalho é usado, sem ser servido. É uma visão de mundo e, nela, felizes os libertos que mandam.

Mas também podemos ver o trabalho como um “don de soi” ao mundo (“don” de doação, doação de si em tradução desajeitada). Trabalhar é um ato de generosidade, de justiça, de entrega. Nessa concepção, o trabalho não aprisiona, liberta, não confina, define. O humano que trabalha é agente do mundo, da sociedade, dos seus. Aqui o trabalho é servido, e nunca usado. É outra visão de mundo e, nela, felizes aquelas maiorias que dão antes de de receber.

Na primeira visão, o trabalho só serve para ganhar dinheiro. Na segunda, o trabalho serve (e ganha dinheiro).

Essas concepções opostas, não são conjugáveis. Não é possível conceber o trabalho como mercadoria e como doação. Se o trabalho é cárcere, se servir é mero ato de troca, então seu produto será sempre mediano, correto, passável. Já se o trabalho é dar-se aos outros, então seu produto será sempre cuidado, capricho, inventividade.

O trabalho pode ser bom ou excelente. Servir pode ser bom ou excelente. É uma questão de escolha de vida e de mundo em que queremos viver.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Connect with Facebook