Às vezes, dá vontade de esquecer as guerras em Gaza e na Ucrânia, as eleições na Argentina e nos Estados Unidos, os rebeldes houthis no Iêmen e o Boko Haram na Nigéria. Às vezes, dá vontade de apagar do feed a banquisa que derrete no Polo Norte e a inutilidade de mais uma COP em Dubai. Dá vontade de esquecer que a usina de Belo Monte está sem licença ambiental há vários anos. Dá vontade de esquecer que centenas de pessoas desmaiaram em um show no Rio e que tem tiroteio da polícia todos os dias no Complexo da Maré.
A convite do AfroReggae, fomos conhecer uma de suas operações no Centro Cultural Waly Salomão, em Vigário Geral, no Rio de Janeiro. E foi redentor, como sempre é. Sem intenção nenhuma de dourar a pílula de nada – nenhuma favela é linda –, por detrás dos nossos medos e preconceitos – medos e preconceitos de elite –, existe vida, negócios, consumo, esperança, criatividade e potência.
E existe o trabalho de instituições comprometidas com a sustentabilidade de sua atuação, formação, geração de renda e empreendedorismo. Não é captação de filantropia ou caridade. Não são, tampouco, organizações com engajamentos ideológicos estéreis que exploram a culpa da burguesia bem-pensante. É criação de progresso para que o dinheiro circule. Ganha-ganha. Sem vergonhazinha do capitalismo.
O AfroReggae tem centros de treinamento de e-gamers, o AfroGames, com mais de 500 alunos, em várias comunidades do Rio de Janeiro. Lá, eles recebem, de modo gratuito, capacitação, oportunidades para criar times e cursos de inglês, além de acompanhamento médico e psicológico. Tudo isso para que a turma se forme e ganhe dinheiro jogando profissionalmente.
É de verdade, é sério, é crível, é sustentável. Ninguém é coitado: ninguém é menos porque é pobre ou preto ou favelado. Tem disciplina, tem trabalho, tem incentivo, mérito e recompensa. Ninguém se encosta, brinca, cochila ou cabula. A turma quer progredir, vencer e se dar bem – na paz, mas com dinheiro no bolso.
Às vezes, dá vontade de esquecer as guerras daqui e de lá longe.
Às vezes, dá vontade de dizer que não deu errado um país que tem um AfroReggae e um Waly Salomão. Deu errado quem chora com as lágrimas dos outros. Quem tem medo com a miséria dos outros. Quem sente culpa com a miséria dos outros.