Graciliano Ramos disse certa vez: “Deve-se escrever da mesma maneira com que as lavadeiras lá de Alagoas fazem em seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”.
Este post poderia parar por aqui, e nada do que você ler daqui pra frente se compara ao que já foi dito acima. Assim mesmo deu vontade de parodiar a frase do mestre exatamente naquilo que faço todos os dias: comunicar.
A propaganda – e que o velho Graça me perdoe tamanha “intromissão e ousadia” – não foi feita para “enfeitar, brilhar”. Não foi feita para surfar modismos nem enfeitar estantes. Comunicar não é repetir chavões de encomenda nem aplicar receitas prontas. Também não é parar na primeira ideia, aceitar qualquer prato feito cuspido por uma inteligência qualquer, mesmo natural, mesmo artificial. Colocar à prova, surrar até não ter mais forças. Precisa de capricho. Precisa de disciplina. Suor e sorriso. Tem que torcer, retorcer e contorcer.
Precisa limpar a poluição, a sujeira, a preguiça, a distração, a platitude, o fluxo alienante de informação e distração.
A propaganda precisa vencer a dúvida, a insegurança, a mediocridade. Precisa passar por muitas águas, até “não pingar uma gota só” de besteira e ego.
Quem se mete a fazer propaganda devia fazer a mesma coisa. Excluir a vaidade, o brilho do ouro falso, a tagarelice, o automatismo. Para dizer.