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A Internet enche que até transborda

Com a Internet, uma nova economia nasceu. Com a Internet, muitas gente ficou milionária da noite para o dia. Com a Internet, a democracia renasceu, e a política e a justiça. Com a Internet, as pessoas estão menos sozinhas, mais participativas, mais poderosas, mais instruídas, mais inseridas, mais criativas, mais, mais, mais.

E também com a Internet, o mundo está menor e mais igual. Com a Internet rouba-se mais, infringe-se mais a lei. Com a Internet o lixo tem seu lugar ao sol, a produção cultural perdeu referências de qualidade. E a produção tout court também. Até nossos valores. E nossa ética. E nossa fé. Com a Internet, ninguém quer mais saber de olhar no olho, nem tocar, nem falar, nem trepar, nem, nem, nem.

Todas as virtudes e todos os vícios: é tudo culpa da Internet.

Tem até uma patologia nova, os internetisícos, que tossem bits. Coitados, ficam doentes se não tiverem um computador, um pad, um celular, uma lan-house à mão.

E tem aqueles outros, os internetofóbicos, que ficam verdes se alguém falar “google”, azuis se ouvirem a palavra “youtube” e explodem só de ver o passarinho azul.

Se pessoas morrem em acidente de carro, não é culpa dos carros, nem das estradas, nem das montadoras. Se as pessoas engordam, não é culpa da gordura, nem da lanchonete, nem do maldito azteca que inventou o chocolate.

Tomara que chegue logo o dia em que a palavra Internet fique obsoleta, careta, saudosista ou bizarra. E que a palavra Criação ou Deus ou Liberdade cresçam e apareçam no tag-cloud.

O anonimato é falta de caráter, na Internet também

Semana passada, a policia anti-terrorista americana interpelou um ativista (e invadiu sua casa), sob a acusação de twittar para manifestantes da reunião do G-20. Aparentemente, o elemento estaria dando informações a respeito da movimentação da polícia (além de possuir uma foto do Lênin!).

O fait divers, que se soma a muitos outros usos do Twitter com finalidade pública ou politica (vide o Iran), levanta uma questão importante a respeito da liberdade e identidade das pessoas na Internet.

Em alguns países, o anonimato de um blogueiro é proibido. Em casos de crimes previstos em lei como difamação ou divulgação de conteúdos ilícitos na Internet, qualquer pessoa pode ser perseguida com quebra de sigilo autorizada.

Essa é uma das discussões que deve integrar o marco regulatório da Internet brasileira em breve.

A inocência do twitteiro americano é tão indiscutível quanto a culpa de muitas iniciativas ilegais que a aparente liberdade da Internet acoberta.

Como regular a Web?

De uma maneira geral, talvez baste seguir o exemplo da Inglaterra que simplesmente exige a identificação pública de qualquer autor. Ao invés de partir para ações criminais (como deseja, o senador tucano Eduardo Azeredo), medidas mais simples e civilizadas podem resolver.

A Internet é livre mas será que isso quer dizer que sua explosão depende do anonimato?

A liberdade é refém do anonimato?

O anonimato é precisamente o recurso que se usa para driblar possíveis coerções. Ladrões assaltam bancos com máscaras para não serem reconhecidos, terroristas idem e também vitimas de criminosos usam o anonimato para protegerem-se.

O anonimato não seria, ao contrário, uma espécie de covardia, assim como a falsidade ideológica? Desvios sérios de caráter? Na vida e na Internet também?

A liberdade, ao contrário é o corolário da coragem. Ser livre é não ter medo de pensar e agir. É não ter medo de assinar embaixo. É assumir opiniões e autorias. Na vida e na Internet também.