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Minha tevezinha

– Você vai viajar esse fim de semana?
– Não, quero ficar na minha casinha, tranquila, com minhas gatas e minha GloboNews sem som.

– Menino, tire logo deste desenho!
– Vó, só mais um pouco.
– Vai começar minha novelinha, dá o controle remoto aqui.

– Chato esse canal.
– Parece que nada acontece.
– É. Vamos mudar.
– Vamos. Outras propagandas!

– Vamos na Mostra de Cinema?

– Ver o quê?
– Um filme sueco.
– Suécia? Hoje não! Vou assistir o Seu Silvio.

– Vou ao Brasil no fim do ano.
– Que ótimo! Já tem programação?
– Praia, feijão com arroz e a novela das 8.

– Esse menino é engraçado, sabe?
– Por quê?
– Ele chega da escola, deita no sofá com o PlayStation, fica escrevendo pros amigos no celular, arrasta o computador e só dá para ouvir o tuc-tuc-tuc das teclas.
– Como toda criança na idade dele.
– É, como toda criança: é só ligar no Pânico, na Champion League, no desenho e até no Jornal Nacional que fica abilolado grudado na TV.

Dizem que a TV está ficando tão boçal, tão burra, tão sensacionalista, dizem que a TV tem mal de Parkinson, cólera e urticária, dizem que a TV trona putrefata nos lares de 180 milhões de brasileiros, dizem isso e aquilo e aqui também já se disse muito.

Apesar da merda anunciada, TV é como cheirinho de café, refogado cozinhando, bolo assando. Dá para viver sem, mas que dó de saudade que dá!

Nego que vê TV é igual nego que tá na web

Se é verdade que 41% dos americanos entre 8 e 18 anos assiste conteúdo de televisão em outras plataformas além do aparelho que trona na casa de bilhões de pessoas em todo mundo, a constatação pode parecer um atestado de falência premeditada para os fabricantes. (Vale observar que isso é uma tendência de comportamento que irá aplicar-se a todas as faixas etárias e povos). Por outro lado, a previsão parece redentora para quem produz conteúdo televisivo.

É provável que 10 em cada 10 fabricantes de televisão digam que nunca se vendeu tanto aparelho e que 10 em cada 10 críticos da televisão afirmem que nunca a audiência do meio foi tão baixa.

Mas esse debate é chato.

O que interessa mesmo é, a partir dessas evidências, preocupar-se frenética e obsessivamente, em mensurar verdadeiras audiências de conteúdos.

A única saída é calcular de forma exata – e não amostral – todas as audiências somadas e precificar os custos de mídia a partir dessa nova base.

A única saída é um custo único, por audiência, e uma venda verificada. “Nessa estratégia você teve X de audiência – eis a comprovação – portanto você deve Y onde Y é X vezes o custo unitário”. Ou variantes escalonados dessa equação (com tetos e pisos ou faixas de descontos).

Já dá pra imaginar os espíritos de porco dizendo que a audiência do computador é diferente da televisão, da revista, do celular, do vídeo game, do sinal de fumaça, da telepatia. Complicação sócio-antropopops. Audiência é audiência e ponto final.

Essa coisa da TV Interativa.

Agora resolvi quicar sobre a coluna do Zimbemberg de terça-feira passada.

Ele fala da tal ameaça proporcionada pelos tais aparelhinhos (TiVo) capazes de castrar a programação das TVs abertas de seus comerciais e de uma tosca tentativa de novo formato de publicidade inspirado na ainda mais primitiva idéia do pop-up nos sites comerciais.

O problema central, no entanto, não me parece ser o desafio de criar novos formatos publicitários. O verdadeiro embate se trava na qualidade do conteúdo publicitário.

Devemos entender, de uma vez por todas, que a publicidade não é mais apenas um espaço para vender as incríveis qualidades dos produtos que ela serve.

Essas ameaças que por vezes pairam sobre a indústria têm lá seu valor, que é de discutir, reabrir o debate e, obviamente, avançar. A publicidade sem dúvida mudou e ainda vai mudar muito. Pois, de fato, o consumidor tem tolerância zero para a propaganda chata, mentirosa, falsa, careta. O consumidor não tem mais saco para a mulher Palmolive, aquela que não acorda amassada, não solta gases, não quebra a unha, nem menstrua. O consumidor não suporta mais garotos-propaganda berrando promoções, atores de novela fingindo a  compra de cozinhas vagabundas, nem demos de produtos. No entanto, consumidores vibram e comentam comerciais engraçados ou emocionantes, produções caprichadas, roteiros com pé e cabeça, trilhas, fotografia, efeitos especiais. Gostam de histórias de verdade. Aplaudem e vibram com idéias. A propaganda não precisa reinventar seus formatos. Propaganda é conteúdo, e, de conteúdo, o consumidor gosta. Propaganda só é um mal necessário, quando ela é ruim. A ameaça, portanto, que paira sobre essa indústria é a ameaça da má propaganda. Essa é muito mais perigosa do que o aparelinho que capa os comerciais.

Em segundo lugar, a publicidade é o motor da mídia. Sem publicidade não há mídia, não há informação, não há conteúdo. Logo, antes mesmo de pensar em dispensar o motor, vamos pensar em formas alternativas de propulsar a indústria da informação. A grande revolução do século passado consiste no acesso livre e gratuito à informação. Taí a Internet para dar uma idéia do que isso significa: a mais formidável mudança de sociedade de que se tem notícia. Significa também a verdadeira esperança positivista de acesso democrático à cultura e à educação. Isso tudo tem um custo, claro, e quem paga é você, consumidor, numa extraordinária, intangível e mágica ferramenta de transferência de riqueza. Todos conhecemos os discursos inflamados que alimentam os debates sobre o viés da publicidade. Mas os 60 bilhões de dólares investidos em publicidade no mundo financiam a Dona Maria que faz telecurso no Maranhão, o Seu Joaquim que refresca a cuca na novela das oito e o garotão que dá risada com as macacadas do Casseta e Planeta. Quem quer abrir a mão disso levante a mão. Eu não quero. E podem me chamar de cínico.