Não se nasce Kayapó ou Bororo.
Perguntaram a um índio, portador de avantajado alargador labial, se venderia o artefato. O índio respondeu: ” te dou o botoque e você me dá a sua orelha”.
Um japonês, um pigmeu ou um albino pode tornar-se tão Kayapó quanto o Raoni. Basta agir como um Kayapó para ser aceito como tal.
O “savoir vivre” dos nossos índios ultrapassa muitas vezes nossa capacidade de entendimento.
Os Kayapós organizam-se em grandes aldeias nas quais os homens pertencem a associações independentes, com seus próprios chefes. Mas chefe entre os Kayapós não manda em ninguém. É só aquele que recebeu, por doação de tios ou avôs maternos, alguns privilégios ritualísticos.
Além disso, para legitimar a liderança da associação – da qual pertencem todos aquele que possuem um dos privilégios (uma pessoa pode ter até uma dezena de privilégios, compondo assim uma enorme combinação de possibilidades) – o homem deve possuir uma qualidade essencial à vida social Kayapó: a oratória.
Ainda criança, o pequeno índio recebe um alargador de lábios e tem as orelhas furadas. Os botoques e pesados brincos simbolizam uma espécie de amplificação simbólica dos dois sentidos mais nobres: a fala e audição (a visão é meramente funcional e “ver demais” é qualidade depreciada).
Quando há desavenças na aldeia – quando um índio ousou portar um cocar de cores não compatíveis à sua classe de privilégios ou simplesmente se um garoto chavecou uma garota casada – as questões serão resolvidas em embates de oratória entre os oponentes. Os chefes das respectivas associações tomarão a palavra e defenderão seus pontos de vista, na casa dos homens, até entendimento final entre as partes.
Entre os Kayapós, tudo se resolve no gogó. Privilégios (de qualquer natureza) não dão poder. Só o gogó. E o gogó se aprende, se desenvolve, se afia.
A gente vem subestimando demais a importância da oratória.
Capacidade de apresentação não é um detalhe de convencimento.
É com paixão e convicção, inteligência e articulação, simplicidade e humildade que se expressa e vende uma idéia.
O resto é natimorto.
Taí..falou e disse.
Cara, um iPad pra apresentação dos meus trabalhos acadêmicos não seria uma má ideia. Vou refletir sobre o assunto.