A formação do gosto é história de uma vida e fator de referências e digestão.
O brasileiro é uma esponja de influências. Conectados e multitarefa, travestimo-nos de novidades com naturalidade e até um certo penacho. E põe penacho, adereço e brilho nisso.
Qualquer pessoa é capaz de recitar, sem gaguejar, uma penca de marcas com suas devidas apreciações qualificadoras. Qualquer micro tendência vem com tudo (e desaparece como nada) num piscar de olhos. É só pintar na referência do momento (na revista, na televisão, no jantar, no braço do ídolo) que já dá comichão no bolso e estimula malabarismos financeiros para possuir o ícone.
Culpávamos a mídia pelo bombardeio e pela incontinência, mas basta levantar a orelha para perceber que o futebol não é o esporte favorito do brasileiro, mas a cópia, o pastiche, sem vergonha nenhuma.
9 em cada 10 pretensos arquitetos ganham a vida como decoradores e transformam as casas dos brasileiros em album de figurinha. 9 em cada 10 pretensos estilistas ganham a vida inspirando-se profundamente nas referências que “descobrem” e transformam as pessoas em vitrines decoradas. 9 em cada 10 pretensos jornalistas são clipadores que escrevem jornais com o charme de um painel de aeroporto. 9 em cada 10 pretensos publicitários (talvez 10 em 10) são mata borrões e transformam nossa paisagem comercial num tabloide de varejo popular. Isso para ficar em alguns exemplo.
E porque temos pressa, nosso sistema digestivo desemboca, célere, numa cloaca.
E o gosto fica assim como é o nosso: igual que nem que tudo. Um gosto de soldado de chumbo, de palito de fósforo, de big brother.
Não gostamos. Copiamos. – http://www.alphen.com.br/2011/01/05/nao-…
RT @Alphen: Não gostamos. Copiamos. – http://www.alphen.com.br/2011/01/05/nao-…
RT @Alphen: Não gostamos. Copiamos. – http://www.alphen.com.br/2011/01/05/nao-…
RT @Alphen: Não gostamos. Copiamos. – http://www.alphen.com.br/2011/01/05/nao-…
Não existe o inédito. Existe a versão mais recente.
sad but true
essa compulsão de sempre ter alguma coisa nova para substituir a antiga e na velocidade da mudança das estações do ano , é assustadora . Tudo novo o tempo todo. Será que nos faltou consistência cultural para suportar uma bolsa velha mas faz parte da nossa historia e continuar usando …
Epa, epa, epa! 10 em cada 10 publicitários não! Inclua-me fora dessa! Mas sabe qual é o problema? Pelo menos parte do problema? Eu defino assim: vc pode ter uma padaria e vender pão, e para ganhar o seu pão vendendo pão, vc pode fazer um bom pão – ou não (e colocar bromato e outras quinquilharias que fazem mal para o freguês mas dão lucro para vc). E para vender o seu pão, vc pode mentir para o freguês, dizendo que o seu pão é o mais barato e o único acessível na região, e que vc devolve o dinheiro dele (devolve nada!) se o pão não chegar crocante em casa. Ou vc pode fazer um bom pão, por um preço justo, e não mentir para ninguém, e aí talvez vc não tenha a primeira padaria do bairro, mas vive bem com o que vende e pode dormir em paz de noite. E como vc não mente, vc usa de toda sua simpatia para vender o seu pão, falando das qualidades que ele realmente tem e tratando bem o freguês. Aí, mesmo que o seu pão não seja “o” melhor nem o mais barato, vai ter muita gente indo comprar o seu pão porque vc é simpático, e honesto, e afinal o seu pão é bem gostoso. E tanta gente, mas tanta gente, que vc pode até chegar a ter a maior padaria do bairro. Mas, se não chegar, tudo bem, porque vc prefere vender o seu pão sem bromato a vender sua alma. Hoje quase todo mundo prefere vender a alma a fazer um bom pão. Por isso, o sujeito não “pensa pão”, ele “pensa bromato”. Aí, fica tudo com gosto e cara de bromato. E todo mundo fica dizendo para o bom padeiro que ele está ultrapassado, que o negócio dele é fazer o pão pelo dinheiro, e não ganhar o dinheiro via pão. Tem bom padeiro que resiste e toca a vida, um boa vida, tem uns que cansam e se aposentam e tem até uns que morrem sem ninguém para deixar o seu legado. Por isso, veja que coisa triste, está acabando o pão sem bromato – e a simpatia foi para as cucuias. Os vendedores de pão também estão ficando com gosto, cara e discurso de bromato. Acredite, eu entendo disso. Sou filho de padeiro. Viva o pão! Abaixo o bromato!
tratratratra… bonito é o texto, o contexto a gente já sabe. não é p discutir, é p apreciar.
olha, como diria o picasso, melhor copiar os outros que copiar a si mesmo.