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Censurar ou não censurar conteúdos colaborativos

Na propaganda eleitoral gratuita, um ex-presidente enaltece a “transparência” suscitada pela “Internet e Facebook” como uma nova exigência pública que transforma os comportamentos políticos. Mas é tão ingênuo acreditar que a Internet é causa quanto crer no poder transformador de uma ferramenta.

A origem das invenções humanas se perde na noite dos tempos e sua gênese raramente está associada à necessidade. Os Mayas inventaram a roda, usada em brinquedos de crianças, mas nunca a utilizaram como ferramenta porque não viam nela nenhuma aplicação técnica. O princípio do pistão a vapor também remonta a muito antes da era industrial, mas quem é que poderia achar útil substituir milhares de escravos baratos e com capacidade de autorreprodução por máquinas? A Internet não causa nada, nem o Facebook.

É evidente que após um tempo toda ferramenta se autoalimenta de necessidades, transformando-se. Dessa forma nascem afirmações como a do ex-presidente, falsas na explicação, mas possíveis na prática. Na Internet, mentira tem perna curta (talvez não por causa, mas por consequência).

Mas essa afirmação também é ingênua.

Os governos totalitários, assustados com a capacidade de propagação de ideias subversivas, tiveram como comportamento inicial a censura ou o controle da Internet. Mas já há algum tempo que esses próprios governos – os menos imbecis – perceberam que a Internet pode ser utilizada a favor de suas ideologias e que isso é mais eficiente e barato do que proibir. Assim, fazem exatamente o mesmo que seus opositores, a saber, difundem-se publicitariamente.

A mesma regra, simples e lógica, deveria ser entendida amplamente também pelas marcas.

Com a Internet, a censura tem pernas muito mais curtas do que a mentira.

O políticamente correto: outra forma de censura

O que mais inquieta, com a revolução dos meios de comunicação, com o acesso irrestrito ao megafone virtual e com a multiplicação das plataformas de leitura, não é nem tanto a pulverização da atenção, agora fragmentada ao infinito. Disso já sabíamos.

O que assombra é perceber a dificuldade que as pessoas têm de entender o que lêem. O analfabetismo de entendimento, se ele sempre existiu, está doravante escancarado.

Esse blog escreveu um pequeno texto (A propaganda do futuro) sobre sua visão do futuro. Dizia-se preocupado com a hipocrisia do políticamente correto que censura a expressão e coloca cabrestos idiotizantes na propaganda. E para colocar de outra forma polêmica e radical – pois não há outra maneira de despertar a acomodação do raciocínio – vivemos sob o julgo de uma censura com pele de cordeiro.

Pois assim, dou livre cobertura a um comentário do post que não autorizei de imeditado pois me parecia merecedor de destaque.

Disse o leitor, na íntegra, sem correções:

“Aumentou muito o número de blogueiros aqui no site da EXAME, e a qualidade caiu, como este último post, que fala mas não diz nada. No meio de tanta baboseira, diz “gordos, feios e sujos… ” blá, blá. Ora, eu sou gordo, e não gosto de ver a palavra “gordo” como se fosse algo diferente. Totalmente reprovável. Acho que EXAME deveria selecionar melhor os blogueiros. O que dizer e um indivíduo que se apresenta como quem “binca com o…… (Leia na apresentação do bloqueiro no top da página”.

Dizia o texto que originou sua manifestação:

…no hipotético futuro as pessoas vão perceber que fumar não é um crime de lesa-pátria; que chupar chupeta não provoca um holocausto; que gordos, feios e sujos são gordos, feios e sujos; que mulher é diferente de homem e que homem é diferente de mulher; que homens gostam de ver mulheres bonitas e mulheres gostam de ver homens bonitos; e mulheres, mulheres e homens, homens também; que a sátira não é uma ofensa e que não existe humor sem sátira; que o mundo sem humor é chato e monótono e, finalmente, que propaganda é só propaganda.”

Os leitores precipitados procuram detectar ironias e sub-entendidos onde eles não existem e são incapazes de percebê-los onde os a. Nesse caso, não havia nenhum: gordo é gordo e não há nada de errado em tratar um gordo como gordo. Não é uma questão de interpretação, mas de constatação. Não há nenhum julgamento de valor, nenhum.

O que se dizia é que a censura do políticamente correto impõe-nos, quando muito, dourar a pílula com eufemismos: forte ao invés de gordo, avantajado, proeminente, espaçoso.

O politicamente correto é que proíbe o gordo de ser, simplesmente, gordo.

O politicamente correto carece de energia e exala hipocrisia ou burrice por todos os poros.

Censura combina com CQC?

O jornalismo é a profissão de dilemas de consciência medicados com cabrestos éticos e regras de conduta. Afinal de contas, além de escarafunchar, debater e analisar os fatos de sociedade, o jornalista torreia seus impulsos e epifanias para que o retrato seja limpo, claro, inequívoco e acima de tudo, honesto.

Assim rezam os ortodoxos.

Mas nos tempos da mídia espetaculosa e seus rolos compressores de audiência, o homem atrás da notícia também estrela a pantomima do carisma. A observação, a  análise, são o palco da intenção e opinião. O script deve cativar e emocionar. Sensacionalismo oblige.

Assim doutrina a mídia de massa.

E eis que surge o big bang: os meios de distribuição de informação explodem ao infinito e os públicos se esfacelam. Quando existe um jornalista potencial atrás de cada cidadão, quando existe um órgão de imprensa em gestação por detrás de cada browser aberto, o ofício quebra todos os juramentos. Improvisa-se com seus próprios parcos meios e métodos.

Todo mundo que já é técnico de futebol vira jornalista.

Temos também um híbrido de tudo isso. O jornalismo honesto, carismático e caseiro, mais conhecido como jornalismo pentelho e mal educado. Aquele jornalismo com pose de inocente mas cheio de malícia. Mascarado atrás de um humor imberbe, ridiculariza-se o mundo, os fatos e as pessoas. É o jornalismo do senso comum e da obviedade ululante.  Quando a inteligência, o carisma e o improviso estão a serviço da sabedoria de boteco, o desperdiço de talento desopila o fígado mas cansa.

Há espaço e utilidade para os doutos vovôs, os super stars maquiados e os palhaços.

Na coluna do Ancelmo Góis de ontem, um repórter do Globo entrevistava um integrante do CQC à La CQC. Nada demais, mas engraçado. E lá fui eu, indicar o link para ilustrar esse post. Mas vejam que curioso: o vídeo indica: “esse vídeo não está mais disponível devido a reivindicação de direitos autorais da Rafinha Productions”. Quem é Rafinha Productions?