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TED: conhecimento versão instanântea

Desde que o TED surgiu como uma manifestação grandiloqüênte das boas causas e caridosas experiências, 3 em cada 3 citações bem-pensantes vêm calçadas por suas respectivas muletas do TED.

O TED é um enorme repositório de lágrimas de sabedoria expressas e self-service. Tem de tudo, pra todos e pra qualquer momento. É só buscar. Quase um calendário Seicho-No-Ie versão vídeo.

Mas além de espalhar boas intenções e ensinamentos com mais abrangência do que o sermão da montanha e os livros de auto-ajuda que ladeiam o caixa de qualquer livraria, o TED faz mais pelo bom mocismo-pop-star do que Britain’s got talent.

Ironias à parte, o TED é lindo. Feio é o que fazem com ele.

Sua superficialidade, proposital, deveria ser início e  inspiração, não fim. O problema é que nesse mundo-miojo, em que conhecimento é produto de consumo, nego desliza no aforismo, idolatra o autor e devora o próximo como um Bis.

Muita gerência e pouco projeto

A vida é cheia de projetos. O projeto de ficar com corpinho em cima, o projeto de casar, o projeto de viajar, o projeto de ficar rico, o projeto de relaxar com a pressão hedonista, o projeto de divorciar-se, o projeto de ficar mais em casa, o projeto de aproveitar mais a vida, e o projeto de ter menos projetos.

Para tocar tantos projetos, temos que saber administrá-los, gerenciá-los. Planilhas, listinhas, cronogramas, agendas, alarmes e vamos partindo a vida como salame, abusando da nossa capacidade de assoviar e chupar cana ao mesmo tempo.

Além de sermos homens, mulheres, pais, filhos, amantes, amados, caseiros, bohemios, responsáveis, desmiolados, profissionais, cantores, atores, esportistas, antropólogos, astronautas, arqueólogos e publicitários, também temos que ser gerentes de projetos, de tantos projetos.

Gerenciar projetos significa aproveitar o máximo. Ou seja, otimizar recursos. Ou seja, espremer. Até o último caldinho.

Em outras palavras, gerenciar projetos significa acabar com a preguicinha, a piadinha, o pipizinho, a piadinha.

Ainda, gerenciar projeto é perder um tempo enorme gerenciando e um tempo mínimo projetando.

Se tá barato, eu preciso

Por que diabos tem tanto guarda chuva nesse voo? É moda apoiar-se nele com nonchalance pra ver o povo desfilar na Oscar Freire?

–       Moça, o que são esses guarda chuvas?
–       Como, você não sabe?
–       Não. Perdi alguma coisa?
–       Sim, a liquidação da Victoria Secret.

Três garotas conversam animadamente ao meu lado, como se tivessem saido de um encontro tupiniquim de Sex in the city.  Ah, estão planejando momentos idílicos em Nova York. Eis então que sacam do guia da cidade, um xerox. Deve ser alguma dica preciosa. Alongo o olhar para um mapa do Outlet de New Jersey todo marcado com as estações da procissão projetada: Mac, Prada, Gucci, Lacoste, Vicotria Secret, claro.

As pessoas não vão mais aos Estados Unidos, se é que algum dia foram. Vão ao mall mais barato e diverso do planeta para os brasileiros.

De quebra, aproveitam um museuzinho básico para o alibi cultural. Ou um restaurante hip para criticar os preços de São Paulo. Ou um musical da Broadway para poder dizer “só os americanos!”.

Mas são as malas transbordando de inúteis utilidades que vão dar a confortante sensação de que afinal de contas nós  somos eles amanhã.

O português dos modernos

Não é fácil acompanhar a velocidade de inovação dos gadgets que nos servem de esqueleto existencial. Essas novidades ocupam o centro do desejo contemporâneo.  Moda, tecnologia, decoração, viagem, etc, e para justifucar tantas presumidas mudanças de comportamento, atitudes, valores, precisamos inventar também termos.

Qualquer pesquisa ou publicação que quer impressionar, precisa cunhar palavras novas, seja abusando dos prefixos (o que está na boca de todos os bem aventurados profetas da modernidade é “trans”), seja germanificando o português, com a juxtaposição de várias palavras (até porque usar palavras mais precisas em outras línguas ficou fora de moda).

Parece que todo o esforço e busca pela simplicidade, minimalista e econômica, é saudosista e o pecado mortal é tentar encontrar paralelismos com o passado. Não, tudo é inequivocamente COMPLEXO e NOVO.

Todo mundo quer se “adaptar” às transformações como se essas mesmas “transformações” fossem independentes. Como se as “mudanças” fossem paridas por geração espontânea, pré-programadas e sempre acelerando. Temos que correr atrás, sempre em débito com a nova-novíssima-nova palavra.

Mas o novo sempre foi fator de uma necessidade genuina e humana. Nunca de uma projeção. Menos ainda de uma compensação.

Queremos fazer bonito, mas na maioria das vezes é ridículo.

O primo de Marília estava certo: “comprei uma bota nova, lindona, pra fazer bonito na sua festa. Mas acabei colocando essa que é essa que eu aguento, né?”

Pesquisa ou a falácia da verdade

Menos impostos significa mais investimento e mais investimento, mais emprego. Depende, porque quem não gosta de imposto é o lucro, não o emprego. Energia limpa é energia renovável, como a água. Depende, pois água depende de floresta e floresta de água. E a floresta não gosta de barragem. A verdade do sistema capitalista é o lucro, a do sistema ambiental o equilíbrio. E a verdade é inimiga mortal da malandragem, do truque, da cortina de fumaça, da falácia.

A propaganda é muitas vezes uma fábrica de falácias poderosíssima que sobrevive à base de agendas pessoais justificadas por pesquisas.

Funciona mais ou menos assim:

Tem-se um problema de marketing. Entra então o arsenal dos falaciosos que gargareja achismos intelectuais que gostam de chamar de criatividade. E a ciência da manipulação mais conhecida como pesquisa comprova os insights mais conhecidos como agendas pessoais. Bingo: o chute vira verdade e a verdade vira briefing.

Mas tudo bem, quando a plataforma,  mais conhecida por campanha, vai para o ar, tem mais pesquisa para comprovar a verdade que se queria.

A verdade é inimiga da vaidade e por isso dói. Mas como disse o economista M Reich, “a verdade não é o meio do caminho entre o certo e o errado”.

E nenhum, nenhum grande posicionamento nasce no meio do caminho.

É o de quem que está na reta?

Existe uma movimentação ao mesmo tempo inquietante e excitante na forma como os clientes das agências de comunicação vêm se movimentando principalmente no que diz respeito ao papel desempenhado pelo marketing.

A percepção superficial do fenômeno dá-nos a desagradável sensação de juniorização das equipes e a apreciação mais comum dá conta de que os clientes não estariam mais fazendo o que deveriam, a saber, municiar suas agências de informações e objetivos claros sobre suas marcas.

Mas a realidade por detrás dessa falsa idéia, é que os clientes tendem a colocar em xeque o papel mesmo de seus fornecedores de comunicação. Passam ainda a superpor-se às tradicionais funções atribuídas às agências. É nesse nem sempre evidente ponto que a relação fica dramática: “afinal de contas, qual é o papel de cada um?”

Existem duas formas de encarar essa tensão.

A primeira é o belo discurso da parceria, que somos um time que se mobiliza em  torno de um único objetivo. O lugar comum é uma falácia muito pouco objetiva. Afinal de contas, parceria significa comungação de interesses comerciais e embora isso possa ser aplicável em alguns casos, não resiste da porta para dentro de ambos os lados da fronteira cliente/agência.

A segunda consiste em resignificar as diferenças. Consiste também em reconhecer os erros, as acomodações, os medos. Em determinado momento, as agências renunciam a suas convicções, intuições e até evidências para adequarem-se aos briefings dos clientes, cada vez mais imperativos. E o acochambro é sinônimo, no tempo, de irrelevância.

Mas existem truques eficientes para fazer a auto-crítica dentro de casa.

– Conhecemos coisas, pessoas, assuntos, pontos de vista, que nossos clientes não conhecem (ou não podem acessar) ou estamos sempre mastigando aquilo que eles já sabem?

– O cliente está confortável com seus recursos? Ele acha que tem todo o dinheiro de que precisa? Ou falta-lhe sempre algo de que ele adoraria dispor para poder executar nossas idéias?

– Finalmente, estamos convictos das nossas propostas? E se fossemos o cliente no lugar do cliente, aprovaríamos? Estamos dispostos a investir na nossa idéia a ponto de demonstrar que o nosso também está na reta?