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Cuidado com o espelho

Intimidade ou privacidade são palavras muito fora de moda. É de se perguntar porque as pessoas ainda usam roupas para esconder as vergonhas. E vergonha é outra palavra que deveria ser extinta do vocabulário contemporâneo. Assim como compostura e senso do ridículo.

As redes sociais são infalíveis espelhos da natureza do nosso tempo.

No começo vemo-nos refletidos com cautela e recato. E aos poucos, a gente solta a mão, o verbo, a cerimônia. Quando menos percebemos, estamos de cueca na mão, saltando numa banheira de hidromassagem, fazendo pose pra câmera, exibindo-se sem nenhum filtro, com doses cavalares de pretensão. Com o tempo, nossas ambições pueris tornam-se públicas.

E quando vem a ressaca, perguntamo-nos: quem somos? Aquele exibido da suruba pública, que só revelávamos em sonhos, terapias ou confissões?

Em “A noite de Varrenes”, filme do Ettore Scola, Marcello Mastroiani faz Casanova, o velho nobre de tantas conquistas e corações partidos. Em determinada cena, ele adentra um banheiro público com sua monumental nécessaire. Senta-se no vaso e de frente para o espelho, retira a peruca, limpa o rosto e mostra-se. Feio, muito feio: “as pessoas não merecem minha decadência”. Ao segundo suspiro, retoca a maquiagem, penteia a cabeleira e sai, lindo, sedutor, irresistível.

Nas redes sociais, a caricatura oculta é o retrato público.

Na Internet, não adianta anunciar o que você quer vender

Porque os mapas nos situam e mostram o caminho, eles são um leme existencial. Mapa é uma coisa linda porque seus intricados desenhos transformam o caos em lógica serena. Mas sobretudo, adoramos mapas porque não precisamos mais manuseá-los para a gente se achar. A busca no GPS faz isso por nós.

Antigamente, a gente viajava cheios de mapas que nunca conseguíamos dobrar nos vincos certos.

Antigamente, a gente viajava na Internet na mesma lógica que nos ensinaram. Todos os conteúdos estavam agrupados em enormes portais que classificavam os assuntos em complexos mapas de navegação e menus. A Internet era uma espécie de enorme biblioteca. Impossível se achar nos seus infinitos corredores sem mapa.

Mas tanta organização é incompatível com a natureza da Internet: anárquica, orgânica, complexa, inefável, promíscua e mística.

O GPS da Internet são as ferramentas de busca. Essa obviedade é importante porque mudou ou tem que mudar a forma como fazemos comunicação.

Há tempos atrás, na Internet, quando uma marca queria vender uma coisa, criava um lugar na Internet para essa coisa e um mapa (através de inúmeras formas de fazer propaganda) para que os consumidores chegassem lá.

Mas ninguém quer saber de mapa na Internet. Procura o GPS (mais conhecido como Google).

Portanto, a lógica é outra: se você quer vender uma coisa, não adianta anunciar o que você quer.

Primeiro, descubra o que o consumidor quer de você. Se o que ele quer de você não coincide com o que você quer dele, fisgue-o primeiro pelo que ele quer e depois ofereça o que você quer dele.

Simples assim.

Vender online não é coisa de nerd

Fato: O e-commerce nos Estados Unidos representa menos de 5% das vendas do comércio. Está crescendo a taxa de roedor, mas a Amazon já tem quase 18 anos de vida.

Fato: 80,6% de todo trafego referenciado do e-commerce, nos Estados Unidos (alguém clicou em um link para chegar em uma loja) se origina no Google enquanto que apenas 9,7% vem do Facebook.

Mais e mais gente está comprando mais e mais coisas na Internet e as lojas físicas muitas vezes não passam de um showroom. Vamos as lojas físicas para ver, tocar, cheirar e compramos online pelo menor preço, não necessariamente na versão online da loja que visitamos.

Porque será que o comércio virtual não ultrapassou ainda o comércio de rua? Excetuando-se a justificativas surradas – falta de posse de computador / acesso à Internet ou falta de confiança nos sistemas de pagamento / segurança / privacidade – talvez exista uma razão que está no DNA da sociedade de consumo: comprar é um prazer sensorial e comprar na Internet é eminentemente um comportamento racional.

Por isso, o Google, uma ferramenta robotizada, é tão importante para referenciar sites de e-commerce. Por isso, o Facebook, um ambiente de relacionamento, tem pífia participação no referenciamento. Quem quer comprar não procura o Facebook, vai para o Google.

Mas isso evidentemente não significa que para que o comércio eletrônico cresça mais rapidamente, o Google precisa ficar mais sexy ou que o Facebook tenha que ser mais (mais ainda?), digamos, feio.

Significa sim que as iniciativas de e-commerce tem que evoluir sensivelmente na experiência de compra, se pretendem substituir o comércio off-line (mais caro, mais arriscado, etc etc).

Comprar na Internet pode ser muito eficiente, rápido, competente, mas raramente é uma experiência que dá tremedeira consumista, aquele reflexo incontrolável que devasta contas de cartão de crédito.

Uma loja de rua investe muito mais energia para permitir que o consumidor interaja com o produto do que com o check-out. Já uma loja de e-commerce parece investir mais energia na operação comercial. Por melhor que seja a iniciativa de tornar a experiência de compra on-line sexy, perto de uma loja física, parece brincadeira de criança.

A tecnologia de manipulação virtual de produtos em exposição está cada vez mais sofisticada assim como as bandas de acesso a Internet não param de crescer. Mas talvez, para além desse aspecto técnico, faltam duas outras prioridades que podem fazer o comércio eletrônico crescer mais rapidamente.

Uma de natureza filosófica não prioriza, nas lojas virtuais, as inúmeras possibilidades de fazer com que a experiência de compra seja sensorial. O que interessa é levar o comprador para o caixa.

Outra prioridade é o gosto. O bom gosto. O mau gosto estético parece ser uma diretriz na grande maioria das lojas virtuais.

Na Medina de Fès, no Marrocos, as lojas se atropelam umas as outras, ofertando praticamente a mesma mercadoria. O que faz uma pessoa comprar as babuchas de seus sonhos em uma loja em detrimento da outra não é o preço ou o tamanho da fila no caixa. É a experiência de entrar numa caverna de Ali-baba, tomar um chá de hortelã com o dono e ser assaltado por uma profusão pornográfica de estímulos sensoriais. Você queria babuchas e acabou comprando tapetes, copos de vidro, móveis marchetados, lustres coloridos e aquele indispensável suporte de tenda berbere.

All work and all play: 10 minutos num biscoito chinês

Desde de a década de 60, a sociedade-bem-nutrida banhou-se na quimera de que o bem-estar era um fim e não um meio: “não importa o que, contanto que eu faça o que amo”. Sabedoria de biscoito chinês.

Apesar de passados mais de 50 anos, os bem-aventurados dos anos 2012 – sempre reclassificados por antropólogos de videogame – ainda empunham as bandeiras de um revisitado flower power pseudo-consciente e um epicurismo semi-engajado, movidos pela valorização exacerbada de uma juventude cheia de energia e um empreendedorismo imediatista, com o perdão do eufemismo.

Imagens clipadas dos lindos e livres, movidos por filosofias de super-herói, citações precoces e pesquisas precipitadas são uma cachaça fácil de digerir.

Desde que o homem olhou para as nuvens e perguntou-se para onde rumavam apressadas, é mais fácil acreditar do que pensar, comer batata frita, evitar o amargo, falar antes de ouvir, dormir, trabalhar só o necessário, aprender na wikipedia e engolir o mastigado.

A receita, regurgitada, diz que a vida só vale a pena se gozada. “Dá trabalho? Desiste, parte para outra. Leva tempo? Cai fora, tenta outra. Não insista. Não persevere. Não estude. Não aprofunde.”

Tendência ou revisionismo oportunista? E no subtexto, sutil demais, duro demais: é a seleção natural dos belos e sortudos.

Como disse o vampiro Barnabé: ” É uma pena. Vocês são jovens e legais, mas vou ter que comê-los.”

O messianismo (do Google e do Facebook) são armas de dominação em massa

O que caracteriza a sociedade de informação e do conhecimento, é a explosão de intermediários que disputam espaço e poder no impulso das pessoas.

A utopia do acesso livre e universal é uma quimera e as coisas ficaram paradoxalmente muito mais intrincadas.

Entre uma pessoa e a mais singela e banal das informações, existem muitas camadas de acesso e todas essas pontes tem pedágios. Entre qualquer conteúdo e um usuário existe o device (um smarphone, etc), o provedor de acesso (uma operadora), o software de acesso (um browser, um aplicativo), um organizador (uma ferramenta de busca), um agregador (o curador do conteúdo), uma plataforma de recomendação (uma rede social), uma comercializador (uma loja de aplicativos), e por aí vai.

Portanto, em princípio, entre uma marca e um consumidor, a via de acesso é muito mais complexa e fragmentada. A marca e seu conteúdo têm que pingar uma energia em cada uma das etapas, o que teoricamente encarece o custo unitário do impacto.

Quando se ouvem os apelos entusiastas de qualquer um desses intermediários (o Google, o Facebook, para citar os da hora) enaltecendo o extraordinário potencial de retorno de suas plataformas, eles mal disfarçam sua real intenção monopolizadora: concentração é poder.

Para as marcas, a concentração também pode significar uma economia de esforços, mas numa perspectiva estratégica, ela está empenhando a sua liberdade, caucionando seu poder e tornando-se deliberadamente vassala dos intermediários poderosos.

A contradição é flagrante: se uma marca acredita que tem capacidade de produzir conteúdos relevantes e engajadores para seus consumidores, por que ela iria se privar do direito e do poder de também dominar a distribuição desse conteúdo?

Por que o conteúdo de uma marca tem que concentrar o pedágio no Facebook, no Youtube? Porque ela não pode ter seu próprio canal? Por que o Facebook não pode ser simplesmente uma mídia? É só uma rede social e como tal é imbatível. Mais uma. Por que o Youtube não pode ser simplesmente um organizador de conteúdos em vídeo? É só uma infraestrutura inigualável de exibição. Mais um.

Não, não pode, porque seus modelos de negócio passam pela concentração. Dependem dele. Não, não podem, porque seus discursos de venda são messiânicos. Dependem dele.

Uma marca que acredita em seu próprio poder, em seu próprio conteúdo, não pode ser dependente de uma estratégia concentradora. Deve dividir e equalizar, fragmentar para reinar.

Deus fez uma boneca de argila e apertou “on”

On significa ligado. Ou seja, estar on quer dizer estar conectado a um fluxo de energia. Um liquidificador tem botão de on e botão de off e, ligado, essa máquina se move, recebe informação, vive.

O progresso existe para humanizar as máquinas.

Off significa estar desligado. Ou seja, estar off quer dizer estar desconectado, fora de alcance, fora de circuito. Mas inventamos o computador, a internet, o celular e o facebook.

O progresso existe para maquinar-nos.

Tomara que um dia, as máquinas sejam always on. Tomara que um dia a tecla off não tenha a função que Deus lhe deu.

Se os olhos são as janelas da alma, o Instagram são as portas

Registrar e dividir o olhar é de uma eloquência reveladora. Tipificar essas observações do mundo é um exercício curioso.

O mundo orbita

A auto-câmera dá a exata dimensão do olhar deste tipo: “farejo o mundo da ponta do meu – imponente – nariz”.

O mundo modelo

Monocromático ou em contrastes saturados a percepção é uma abstração estética: “filtro e higienizo o mundo ao meu clique preciso”.

O mundo mal passado

São tomadas tremidas, impulsivas, repentes de um reflexo obsessivo: “o mundo hostil e cru que me assusta, congela, inofensivo, ao meu toque protetor”.

O mundo enorme

Pulsos aleatórios, agregadores, inclusivos, tentam neutralizar a solidão: “se eu morrer, que saibam onde encontrar meus restos, nesse mundo de meu Deus”.

O mundo elegia

Desilusões do viver, abandonos, dores da ausência carecem de desabafos: “fugi para longe, um longe estranho e diferente. Me esqueçam. In memoriam de mim.”

O mundo se exibe

Finalmente o tipo comum, vulgar e pornográfico: “olha como sou inteligente, bonito, interessante, querido. Olha como eu me amo”.

Prometeu não roubou a Internet do Olimpo

E se voltássemos por um instante à pergunta original: o formidável avanço das comunicação encarnada pela Internet, fez ou faz um mundo melhor?

Se pouco importa a intenção diante do fait accompli, se o mundo ficou pequeno da noite para o dia, não é fútil colocar as tendências em perspectiva, nem que seja para não cair num banal entusiasmo de primeira viagem, nem que seja para não alienar o poder de transformar. O que inventamos, desinventamos ou melhoramos. É só querer. Nenhum Prometeu roubou nenhuma Internet do Olimpo.

Qual o fogo, a Internet é um instrumento. Qual o fogo, aquece e queima. Qual o fogo, ilumina e cega. Qual o fogo, depende do cérebro para ser bom ou ruim.

Antigamente, algo acontecia do outro lado do mundo e depois de meses e incontáveis filtros chegava em outras praias. Quando a comunicação tornou-se instantânea, o tsunami lá longe, bate na nossa bunda no mesmo instante.

Da mesma forma que um medíocre documentário faz soluçar centenas de milhões de ingênuos mundo afora, a sede de vingança no Iraque explode bombas no ocidente. Da mesma forma que todas as notícias do mundo estão a um clique de distância, as fontes de informação preferidas são os 140 caracteres do vizinho.

O homem, afinal de contas, não mudou grande coisa. Só vive mais tempo mas continua não enxergando muito além do seu próprio nariz.

No entanto uma coisa esquecemos: o tempo é o melhor conselheiro.

Se a Internet encurtou o tempo, ela também atrofiou o tino.

Se pudéssemos ao menos nos dar um tempo antes de reagir, talvez fossemos menos escravos de nossos instintos. Se pudéssemos ao menos nos dar um tempo antes de responder, clicar, curtir, espalhar, talvez não responderíamos, clicaríamos, curtiríamos, espalharíamos.

O que é bom pode esperar. O que é ruim pode ser jogado fora. E entre o bom e o ruim, melhor dar tempo ao tino.

Cada um tem o like que gosta

O debate da moda é a likabilidade.

Muitas linhas já foram derramadas sobre esse tema e o consenso é meio óbvio: o like é o novo viewed, a quantidade de likes corresponde à antiga medida de pages viewed. Portanto a likabilidade é uma medida de atividade, ou se preferirmos uma metáfora ainda mais antiga, é cobertura: um like é um impacto em uma pessoa.

Portanto, like não quer dizer like nem engajamento, nem envolvimento. É só uma confusão típica de quem, ingênua ou maliciosamente, viu na Internet uma revolucionária nova fronteira – para a comunicação ou para ganhar dinheiro. A Internet e o Facebook estão cheios dessas armadilhas: assim como like não é like, fan não é fan.

Mas é bom ter muitos likes, claro que é. É sinal que a página não é um cemitério periférico. Tem fluxo. E como o excesso de métricas atrapalha o raciocínio: no fim do dia, o que se procura mesmo é o beabá dos beabás desde que inventaram a palavra mídia: likes (fans), ou seja, audiência. A “Internet” nos enganou vendendo sua improvável mensurabilidade in extremis.

Então qual seria a métrica ideal? Outras mais complexas são inventadas todos os dias. E assim tiramos do baú mais palavras falsas que convencem para justificar a falta de likes.

Talvez um dia a gente consiga praticar a “engajaganda”, mas certamente não será através do artifício esperto de confundir like com like.

A Internet é um Chevette de referências

Tinha um cara com um bigode mexicano, uma espécie de mascate, caixeiro viajante, carregando malas e mais malas cheias de tesouros. Era o vendedor de livros para as agências. Quando revelava seus mistérios, era um alvoroço. Catálogos, livros, referências raras. Economizávamos o mês inteirinho e tínhamos que fazer economias severas para possuir os Olimpos criativos do mundo inteiro. Quanto mais bizarra era a procedência do livro, mais disputado. Era a terra prometida, mais desejável do que as sonolentas exibições dos Festivais.

Passaram-se décadas desde então. Outra era, mas a mesma vida de caçadores solitários e avarentos atrás de referências iluminadas. Fiz uma limpa na estante empoeirada. Fez me sorrir com amargor: como ficaram inúteis e estéreis aqueles anuários. Tentei vender para o sebo da esquina. Nem doando o velho aceitou. Só árvores abatidas.

Saindo para almoçar, décadas depois, lá estava ele, na porta da agência. O mexicano, um pouco mais caído, mais triste, com o porta-malas de seu Chevette. Não vendeu sequer um catálogo para o mais neófito dos estagiários. Fiquei com pena. Dele e dos livros. Era como um past-upeiro viciado em benzina, um manchador artista demais, um fotógrafo sem Instagram, um redator que não twitta, um planejador que gosta de coxinha, um mídia-ás da calculadora, um atendimento habitué do Pariggi.

Se a Internet é o salva-vidas dos preguiçosos, a redenção dos iletrados, o cacoete dos apressados e ambiciosos, o mobral dos vagabundos e a prótese indiscreta dos millênios, a Internet é um Chevette velho e batido que não salvou as ideias, nem as árvores.

Internet: nem melhor, nem pior sem ela.

Facebook: uma exercício de orgia quantitativa

Parece que na média, 15% de todas as informações postadas no time-line de uma pessoa, no Facebook, são de fato vistas.

Se você é uma pessoal normal e tem 300 amigos que postam em média 1 vez por dia no Facebook, você vê, em média, 48 mensagens por dia.

Estima-se que menos de 20% de todas os posts são aprofundados (com cliques nos links por exemplo). Logo, das 48 mensagens, 38 são apenas uma passada d’olhos. Sobram 10.

Digamos que 10% de todos os seus amigos são mentirosos, exagerados ou apenas ingênuos. Das 10 mensagens que merecem destaque, uma não é crível. Deu 9.

Supomos, ainda, que apenas 40% de todos os seus contatos no Facebook sejam mais informados, cultos ou inteligentes do que você. Portanto, menos da metade são dignos de bagagem suficiente para você considerar válidas suas mensagens. Isso dá 4.

Pessoas de uma mesma rede social costumam compartilhar as mesmas informações a uma taxa de 40% em média. Portanto, apenas 60% das 4 mensagens diárias são inéditas, ou seja, 2.

Ainda, mais da metade (58%) de todas as informações compartilhadas no Facebook provêm de fonte tradicional (órgãos de imprensa principalmente). Logo, das 2 informações diárias que se lê na rede, aprofundadas, verdadeiras e da qual não se tinha conhecimento, menos de uma é o que poderíamos chamar de furo.

90% da motivação das pessoas dentro de uma rede social é para exprimir-se, falar de si, de sua vida, rotina, aspirações e frustrações. Assim, do único quase furo acima, sobra 0,1 mensagem relevante, séria e instrutiva.

Como todos os dados foram arredondados (acima de 0,4, para cima, abaixo de 0,41, para baixo), sobra 0.

Claro que esses números referem-se a médias e consideramo-nos todos acima dela. Portanto, devemos ser pelo menos 5 vezes “melhores” do que a média para tirar algum proveito nas redes sociais.

Ou se formos menos pretenciosos, precisamos 5 vezes mais assiduidade ou 5 vezes mais pessoas no Facebook (ou seja, todo mundo). Essas são as estratégias do negócio.

Já a estratégia publicitária é estimular as pessoas a serem 5 vezes mais sociáveis. Ou terem amigos mais abertos. Ou possuírem 5 vezes mais tempo livre. Ou conseguirem 5 vezes menos amigos mentirosos. Ou 5 vezes mais amigos mais inteligentes. Ou 5 vezes mais amigos originais. Ou 5 vezes mais amigos do FBI. Ou 5 vezes mais amigos menos preocupados com seu próprio umbigo.

Obs: todos os números acima foram deliberadamente chutados.

Internet, bela viola

Muitas guerras foram urdidas, fomentadas, incentivadas nas redações e muitos jornais foram idealizados, formados e impressos no front.

A política, através de sua representação estilizada mais perfeita – a guerra – forma com a imprensa um casal sinistro, disfarçado por um manto de respeitabilidade. Para a política, é o disfarce da democracia. Para a imprensa é o da liberdade de expressão. Mas a política é avesso da imprensa. A imprensa é a sombra da política.

A menos que se creia em neutralidade.

Então, se a imprensa mudou, espalhando-se, atomizando-se, individualizando-se, não será apenas forma? A voz do cidadão antes isolado, tonitruando para bilhões nas redes sociais, é esperança de paz?

A menos que se sonhe com neutralidade, nada muda assim.

As redes sociais, quando fomentam revoltas e derrubam poderes, fomentam revoltas e derrubam poderes. A nova imprensa permanece um fermento da guerra. E a guerra permanece o catalizador da imprensa, da nova e da velha.

A Internet não redime nada. É só uma bela (nem tão bela) viola.

Separar verbas on e off é uma questão de sanidade profissional

O grande dilema do profissional de comunicação hoje é fazer malabares entre contextos de mídia tradicionais cuja eficiência escapole pelos dedos e alternativas que não conseguiram ainda oferecer formatos suficientemente relevantes para apaixonar os públicos.

Outra forma de ver o paradoxo é que a compra de audiência, fórmula clássica de investimentos publicitários, é cara embora certeira. Já a compra de envolvimento, fórmula nova, é barata embora incerta.

Ainda podemos expor o problema da seguinte forma: a compra de mídia tradicionais é eficiente no curto prazo mas não garante resultados a termo. Já construir plataformas de comunicação nas mídias digitais pode ser caro na largada (ou mais difícil de justificar), mas é uma promessa no médio prazo porque essa é a lógica das mídias sociais.

As mídias ditas passivas engessam a liberdade de experimentação e assim travam a evolução das novas.

Não existe, no entanto, fórmula pronta para desatar o nó paralisante entre essas duas tensões, porque sim, o dinheiro e a energia são os mesmos.

Só há portanto uma recomendação que advém do bom senso. Por mais que seja correto defender que a integração dos esforços é necessária e que o potencial da conexão entre as duas formas de alcançar os consumidores (via audiência e via engajamento) é exponencial, bloquear os vasos comunicantes das verbas ainda parece ser uma boa.

Não é miopia separar verbas “off-line” de verbas “on-line”, é estratégico. Em nome do futuro, da liberdade e da sanidade profissionais de todos. Caso contrário, corre-se o risco clássico de puxar o cobertor, cobrir o futebol da Globo, e descobrir os dedinhos sonhadores.

Quem leva a melhor?

Por motivos que pertencem aos insondáveis labirintos escuros da mente, competimos uns com os outros para aplacar uma insaciável carência de afeto e atenção. Para justificar esse embate de egos, inventamos talentos e habilidades particulares e diferenciadores. É mais ou menos por isso – e talvez por outros álibis menos nobres – que nas agências de comunicação existem macacos trabalhando em galhos diferentes, em volta de um tronco.

Se a metáfora está correta, existem árvores na floresta com galhos mais desenvolvidos e valorizados do que outros. Criação portentosa e planejamento mirrado. Planejamento super-irrigado e criação raquítica. Por exemplo.

Maçãs não ligam para o tamanho do galho. Quem acha que a maçã de um galho musculoso é melhor do que que aquela de um fiapo, desconhece tudo da botânica publicitária. Maçãs-comunicação se desenvolvem a partir do concurso equilibrado e harmônico da árvore toda, da raiz abissal à mais débil das folhas. Bonsais, mesmo lindos, caros e raros produzem frutas insípidas.

O mercado brasileiro – quiçá global – é uma dessas esdrúxulas florestas de anomalias.

O cliente faz a colheita nessa selva artificial. Aqui ele prefere o planejamento, ali a criação, acolá a mídia, e outras bizarrices circunstanciais. E come maçãs belas mas ocas, feias mas rechonchudas, saborosas mas feias e ocas.

E mesmo assim, competimos. E por isso ouvimos que o cliente gostou do planejamento mas não comprou a criação. Adorou a criação mas roncou no planejamento. Curtiu o planejamento e a criação mas a mídia era banal. Ou aquele que detestou tudo mas contratou por causa da estratégia de mídias sociais. Ou ainda aquele que tudo amou mas refutou porque não curtiu o wobler de gôndola.

ROI é mixo

Apostar com entusiasmo em segmentação não é sempre a melhor estratégia. É também desprezar os inefáveis pulsos do consumidor acreditar que seu perfil, seja ele sócio-demográfico, seja ele psico-atitudinal, deve ser o primeiro estágio da peneira de esforços de comunicação. Muitas vezes, um tiro de canhão mata mais andorinhas do que mil arqueiros de elite.

Por que será que uma marca de luxo precisa comunicar-se com comuns mortais? Por que uma marca mais humilde precisa dialogar com o olimpo sócio-financeiro? Por que é importante falar de uma marca de golfe para jogadores de futebol e vice versa? Não é porque queremos convencer os peladeiros que jogar golfe é determinante na sua escalada social, nem o esnobe do taco que ele precisa sentir cheiro de povo para valorizar sua Ferrari. É porque é determinante na decisão de compra de qualquer marca, qualquer que seja seu “target”, construir reputação. Não se ergue a fama de nada nem ninguém chovendo no molhado.

É sub-estimar demais o poder da comunicação investir cirurgicamente em potenciais clientes com intenção de compra e perfil confirmados. É mixo.

Desde que a Internet surgiu como plataforma de comunicação, a gente tem se preocupado demais em vender o tiro certeiro. Fazemos comunicação super hiper calculada e cirúrgica. Será falta de sensibilidade desacreditar assim na criatividade? Será falta de ambição acreditar que só convencemos quem está convencido?

Por uma lógica perversa, compramos carros de luxo também porque aqueles que não compram sabem que não é para eles. Compramos cola de dentadura porque sabemos que o bacana que faz implante também é impactado pela comunicação da marca que gostamos.

Sim, não é lógico, mas quem gosta de lógica não dá pra propaganda.

Os novos normais

Nunca vi relatório de tendência dando conta do aumento da violência, da intolerância, do racismo, do egoísmo. Relatório que se preza tem sempre um componente de positivismo, bom mocismo e compaixão. Tendência é misto de observação com desejo. Todo guru é profeta de autoajuda.

Assim, hipocrisias à parte, compilamos aqui as novas tendências para 2012:

1) Anti-cafonismo. Chega de policiar o próximo. Quem quiser usar sapatênis ou andar de mini-cooper, tudo certo. Se você preferir passar as férias num hotel fazenda ou no Vietnã, tudo certo. Calça de prega ou saruel, anglicismos ou móoquismos, Facebook ou Orkut, cafona é chamar o outro de cafona. É definitivamente tendência defecar para a opinião alheia.

2) Anti-luxo. Chega de confundir shopping center com antidepressivo. O controle tarja preta do Rivotril é prejudicial à sanidade mental da humanidade. Parcelamentos sem juros, editoriais de certo e errado, modelos esquálidas e clínicas de rejuvenescimento, curadores e formadores de opinião, já eram. Uma bolsa Goyard a tiracolo é tão fora de moda quanto a pochette do Didi mocó.

3) Anti-virtual. Chega de mandar mensagem de aniversário no Facebook. Mande flores. Ou melhor, leve as flores. Ou melhor, apareça com um bolo, organize uma festa surpresa, com bexiga e apito. É a mais definitiva de todas as tendências ler livro e ultrapassado posar com ipad.

Curtir propaganda é clicar no botão curtir?

Talvez devessemos mudar as nomenclaturas do enorme saco de gatos daquilo que chamamos de comunicação. Isso evitaria uma série de mal-entendidos e expectativas nos briefings que parimos diariamente.

Já não é de ontem que o mantra universal para qualificar a boa comunicação é avaliar o potencial que seus conteúdos têm para emocionar receptores (ou consumidores ou seres humanos, pessoas, gente, comedores, dorminhocos, cagadores, amantes, mámiferos bípedes dotados de cérebro avantajado). Sem medo de errar, esse se tornou também o grande balizador de qualquer iniciativa para uma marca. Estratégias vencedoras devem emocionar, mas existem também todas as muitas outras, que, quando muito, informam.

A partir desse critério, portanto, encontramos dois formatos: o formato cuja vocação é tocar o consumidor no coração (emoção), o outro que deve atingir sua cabeça (razão). Sabe-se que o primeiro, quando bem executado, tem um poder soberano sobre o segundo porque o coração age mais rápido e de forma incontrolável. Já o segundo é escravo da comparação, portanto mais frágil.

Vale o adendo aqui de que os dois formatos são excludentes. Qualquer tentativa de despertar um ou outro dos sistemas (emocional e racional) elimina qualquer possibilidade de atuação do segundo. A confusão é comum e muitos acreditam ser possível emocionar e racionalizar simultaneamente.

Dando crédito de confiança à tese do tiro bilateral (emoção e razão), devemos portanto começar priorizando e, assim, todo e qualquer briefing deveria começar definindo, sem qualquer julgamento de valor, a sua prioritária vocação: emocionar ou informar?

Se o objetivo é emocionar, deve-se evidentemente dar livre curso à imaginação baseando-se em evidências ou descobertas motivadoras. O insumo criativo aqui são os pulsos, comportamentos, valores, aspirações, sonhos, frustrações ou recalques. Aqui não estamos falando com consumidores mas pessoas. Aqui o que importa são as  “Multiple Mind Motivations” e os “Points to Feel”.

Já se o objetivo é informar, o trabalho consiste em levantar os atributos concretos, funcionais, pragmáticos, operacionais daquilo que pretendemos comunicar. O insumo criativo é criar uma ordem, um foco, uma escolha em cada uma das informações colhidas em função das necessidades e das expectativas, corretamente alinhadas com as razões para crer na entrega. Aqui estamos com consumidores e não pessoas. Aqui o que importa é a “Single Mind Proposition” e o “Reason to Believe”.

O segundo passo portanto de um briefing deve ser definir, dependendo da primeira escolha (emocionar ou informar), qual é o Multiple Mind Motivations e o Points to Feel, em um caso, e o Single Mind Proposition e o Reason to Believe, no outro.

Isso seria relativamente simples se não tivesse surgido a Internet para bagunçar o trabalho. A Internet extrapola em vários sentidos o que nos acostumamos por décadas a chamar de mídia. E um dos erros clássicos incorre em chamar a Internet de mídia. Ela é mídia, inclusive, mas é também serviço: meio de comunicação interpessoal (como o telefone), espaço de entretenimento (como os games) e de negócios (como as feiras e shoppings), é plataforma de transação (como bancos, correios, serviços públicos) e por aí vai.

Para resolver a definição do que seria comunicação em uma era pós-Internet, decidiu-se pela solução mágica e imprecisa de substituir “comuicação” por “conteúdo”. E assim, tudo seria conteúdo (o emocional e o racional e esse monte de outras coisas que a Internet permite).

Mas essa é uma solução gauche ou na melhor das hipóteses que redefine para além do prático o papel das agências (ex-agências de propaganda, ex-agências de comunicação e agora agências de conteúdo).

Existe no entanto uma forma mais simples de resolver o nó  do briefing, contemplando agora o maremoto vago e polivalente das possibilidades nascidas pela Internet (ou digital pra ser mais genérico ainda).

Como vimos, o briefing deveria dizer se o trabalho deve priopritariamente emocionar ou informar. Pois talvez seja a hora de acrescentar a terceira variável: o trabalho deve prioritariamente emocionar, informar ou servir?

Assim, e inclusive na Internet, é possível definir a “question one” do briefing e, de forma precisa, o papel de cada canal.

Assim também, e de forma clara, não correriamos mais o risco de tentar emocionar numa mala direta, nem informar  em diárias na home do Youtube. Não tentaríamos, como cegos em tiroteio, arrepiar nossos públicos com estratégias de redes sociais ou de search. Isso também nos livraria da batalha das campanhas de preços e features que aterrorizam dispendiosamente os horários nobres da televisão.

Finalmente, poderíamos também julgar o que é boa “comunicação” e não dizer que uma caralhada de likes no Facebook é do caralho.

Perfil PJ da PF no Facebook

Compostura e entusiasmo são qualidades difíceis de conliliar.

Ensinaram-nos a ter atitudes diferentes no ambiente do trabalho e na vida particular. No trabalho, devemos assumir uma persona focada, educada, séria. Na vida particular, podemos largar as amarras, ser quem se é. Se na vida de todos os dias, podemos controlar as pressões sociais com alguma maleabilidade, das 9:00 às 18:00 a máscara deve ficar no prumo.

Mas várias coisas mudaram. Vivemos uma crise de disponibilidade e portanto de identidade. A vida não é mais compartimentada em trabalho e não trabalho. As invasões de território entre nossas duas vidas são porososas, indefinidas, difíceis de gerir.

Lidamos com fusos horários que não respeitam o sol e com prazos que escorregam velozmente. Em algum lugar do mundo, há sempre alguém nos solicitando, impaciente e desrespeitoso.

Lidamos com plataformas de comunicação que cruzam-se e chafurdam em bacanais digitais. Nossas vozes são públicas, privadas e profissionais, num cruzamento despudorado.

Lidamos com marcas que lutam por envolvimentos cada vez mais umbilicais. Somos agentes e vítimas de relacionamentos pornográficos com estratégias mercadológicas.

O lado nefasto dessa Sodoma é que vibramos e dependemos da sacanagem.

A nova revolução capitalista invade a vida privada, operando uma mais valia sorrateira, insondável, contagiosa.

A nova revolução anarquista ocupa a vida profissional, operando uma desordem maliciosa, envergonhada, escondida.

Trabalhamos fazendo amor e fazemos amor trabalhando.

Brochante.

Vamos abrir um perfil Pessoa Jurídica nas redes sociais e curtir com entusiasmo as engajadoras estratégias digitais dos nossos clientes.

Comprar pela Internet não é seguro. Banco Itaú, socorro!

Já virou esporte, uma espécie de hobby malicioso contemporâneo: acompanhar as faturas dos cartões de crédito, linha por linha e perder-se deliciosamente em seus emaranhados insondáveis.

Já virou esporte receber avisos pelo celular de compras dantescas oriundas de sites paradisíacos.

Já virou esporte deleitar-se ao telefone com atendentes muito simpáticas e diligentes, confirmando dados e mais dados, repetindo as mesmas informações mil vezes repetidas.

Já virou esporte cancelar cartões, solicitar novos, lembrar-se de todas as faturas que caem e ligar para os estabelecimentos solicitando a troca de cartões.

Já virou esporte decifrar os procedimentos de segurança, mandar emails ou fax solicitando reembolso de despesas que você lamenta não ter feito.

Já virou esporte, mas você não perde peso, não ganha músculos, não economiza um tostão e não dá uma risada.

Às vezes dá vontade de largar o osso, cancelar tudo, não usar mais a Internet, não usar mais celular, voltar ao velho e bom dinheiro vivo e fedorento agarrado com um clip no bolso.

Os bancos e a Internet são uma combinação perfeita. Ambientes igualmente secretos e opacos, igualmente indispensáveis e vitais.

Mas que não é seguro, nem um pouco seguro, comprar pela Internet com cartões do Itaú, mordo a língua, mas não é.