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O mundo é dos Nanos

Houve um tempo em que acreditávamos que os humanos formavam uma manada que pastava entre cercas, ruminava sem saltos de humores e até consideramos que a estação de monta era sincronizada e que a procriação era uma variação estatística.

Naquela época, o sucesso era medido matematicamente: é tanto de audiência, de participação de mercado, de penetração (a outra). Como as pessoas eram segregadas em lotes com comportamentos similares, o único objetivo das atividades econômicas era crescer, crescer, crescer.

Assim nasceram os Schumacher e os Bolts, os Guiness Books e também as metas mercadológicas. O dogma do século XX é de que “uma parte sempre pode crescer mais do que o todo”. O único fator de sucesso decente era aumentar o tamanho do naco. Por isso inventou-se o anabolizante de porcentagem que manda nas nossas vidas.

Mas, para a sorte da contabilidade histórica, estamos no século XXI e para a nossa sorte, as coisas mudaram.

Alguns críticos acreditam que Dickens criou cerca de 13 mil personagens em seus romances. Só em David Copperfield, devem ter algumas centenas e, embora seja impossível lembrar-se – e por vezes entender – a intricada rede de relacionamentos que se cruzam, alguns deles são mega-celebridades por poucos parágrafos.

Acho que a digressão foi excessiva até agora já que prometi nunca ultrapassar duas laudas (laudas? Porque será que ainda se contam textos em laudas no Word?).

No século XXI, a fragmentação é tamanha que você pode ter poucos milhares de consumidores e seu market-share centesimal, mas ser melhor sucedido do que esse monte de executivos que se descabelam para atender aos fatores de sucesso do século passado.

Em pelo menos metade de todas as conversas que tenho com a geração do milênio, eu bóio à deriva: “Não, eu não conheço esse site que é um sucesso, nem esse aplicativo incrível, nem essa pessoa famosérrima, nem esse produto blockbuster, nem essa marca que TODO mundo está usando”.

Embora eu tenha vocação para a rabugice, acredito piamente nos nano-sucessos, nas nano-celebridades e nas nano-economias.

Por instinto de sobrevivência, vamos desistir de aumentar nosso pedaço de pizza porque tem outros iguais a nós, do outro lado da mesa, fingindo a mesma coisa. Os tempos hiper-modernos nos salvarão da hipocrisia.

Quem já viu um consumidor ter insight em pesquisa?

Quem fundamenta suas opções em pesquisas de mercado, tem uma relação de amor e ódio com metodologias, análises e conclusões. Somos animais inseguros e presunçosos por definição e nesse equilibrismo caminhamos.

As pesquisas são por vezes muletas, por outras, guias. E por isso, as pesquisas estão mais a serviço de preconceitos do que de aprendizados. Mais úteis para quem pesquisa do que para quem é pesquisado.

Pouco importa a técnica, das mais tradicionais às mais moderninhas, das mais científicas às mais intuitivas, das mais isentas às mais dirigidas, pesquisa não esclarece, confirma.

Fazia 21 anos que a General Motors pesquisava sua queda de participação de mercado. E ano a ano, as mensurações seguiam a mesma ladainha: vamos desaparecer.

Pesquisas são muito úteis para antecipar e inúteis para evitar.

Ainda que as pesquisas possam ter intenções exploratórias, nossa compreensão só alcança aquilo que fomos treinados a entender. Passamos desesperadamente ao largo – bem longe – de tudo aquilo que não estava registrado no script consciente de nosso cérebro. Insights só existem em pesquisas póstumas.

Se você quer estudar um elefante, de que adianta ir ao museu de história natural? Se você quer entender um fenômeno social, de que adianta encarcerá-lo em metodologias e técnicas?

Pois para que servem, então, as pesquisas? Para muita coisa mas pouco para aprender e inspirar-se.

Ministro Ayres Britto para presidente

O presidente Ayres Britto do TSE é um alento esclarecido no vendaval obscurantista que sopra em Brasília.

Ele já se expressou de forma contraria e inequívoca sobre o projeto de lei que tramita no congresso e que trata, entre outros assuntos, de tentar regular o uso da Internet em período eleitoral. Na qualidade de ministro do STF, ele foi mais incisivo ontem (02/09), enviando para publicação o acórdão que julga inconstitucional a lei de imprensa. Aproveitando a oportunidade, o texto qualifica a Internet de “território virtual livre” deixando natimorto aquele projeto de lei que tente enquadrá-la.

O que isso implica para além de respirarmos aliviados e aplaudirmos a autoridade?

Esse tipo de visão reconhece que a Internet é um organismo que se auto-regulamenta pela livre participação das pessoas. Aceita o fato de que esse sufrágio está em franco processo de universalização no pais. Também é possível retirar a crença na maturidade democrática do brasileiro para além dos discursos reacionários de parte de nossa elite.

Do outro lado da moeda, essas decisões também deveriam engendrar um redirecionamento importante de foco na nossa mídia.

Por que a Internet seria livre? Por que um jornal em papel, por exemplo, é sujeito a certas regras e suas versões online a nenhuma, poucas ou outras?

Talvez porque as versões online dão direito de reação livre. Talvez porque permitem a livre circulação das ideias, copy-paste, mash-ups, “recriações” ao sabor da eloqüência virtual das pessoas.

Talvez estejamos no limiar de uma formidável transformação que vai dirigir um investimento colossal para a Internet.

Qual é o produtor de conteúdo, jornalístico ou de entretenimento, que não se sente seduzido por um meio livre, sem travas, sem telhado de vidro, sem interferências? Qual é o publicitário que não fica aliviado de poder utilizar sua criatividade sem cabrestos nem hipocrisias? Qual é o ser humano que não gosta do poder de desprezar, zapear, caluniar ou destruir os conteúdos que julga irresponsáveis ou impróprios?

E a experiência vai valer a pena, mesmo que seja para se perguntar, depois, o que a gente vai fazer com tanta libertinagem.

A criação autista

O autismo é uma doença que decorre de extrema sensibilidade e a conseqüente dificuldade de se comunicar com o mundo. E já há teses científicas que dão conta de uma espécie de epidemia de autismo. Isso é sério. Até aqui não estou ironizando.

Mas o autismo da propaganda não é uma epidemia. É um vício.

Os autistas fecharam-se numa bolha de mimos e auto-elogios patrocinados pelo narcisismo dos pais criadores do negócio. E como vivem em redes etéreas, virtuais, fantasiosas, mal se comunicam entre eles.

Nesse vácuo geracional nasceu uma criação que não sabe mais o que é propaganda, nem comunicação e muito menos que esse é um negócio. Ou nunca soube porque se nutre da compra do elogio de poucos.

Tristes os “11 de setembro” que cometem.

A opressão do Google

Uma pesquisa aponta que mais de 70% das pessoas que fazem compras em supermercados consideram essa atividade um pé no saco. Tem outra que diz que a maioria das pessoas vai às compras com a lista, ou parte dela – inclusive de marcas – decidida.

O suplício tem muitos motivos: orçamento apertado, mau humor do cônjuge, histeria infantil, luz gelada, fila, gente feia e a constatação de que todo esse tempo e dinheiro estraga a dieta. Compras de supermercado: se não matam, engordam.

Mas quando você tem a chance (ou o azar) de ir às compras sem obrigação, é possível isolar um indizível motivo de sofrimento: a liberdade de escolha. Colocar pesos e medidas, racionais e emocionais, entre tanta oferta é fator de insegurança. Fora a tentação pecaminosa do supérfluo. Liberdade uma ova.

Excesso de escolha aprisiona.

Um rebelde caçador na savanas africanas costumava lembrar-se dos elefantes em disparada quando encontrava-se na cadeia. Uma tropa de paquidermes sem freio era sua metáfora de liberdade salvadora.

Será mesmo que a Internet é nossa Meca de liberdade? Conceitualmente talvez, na prática nem um pouco.

A Internet peca por opressão de abundância e a falsa sensação de livre arbítrio.

E se os motores de busca fossem tiranos disciplinadores? E se os indecifráveis algoritmos de relevância, monetizados ou não, premeditados ou não, fossem obscuros inquisidores?

E se o Google fosse o HAL-9000 de “2001 – Uma odisséia no espaço”?

A Rede Globo era o grande irmão? Sei não.

Preguiça de Internet

Todos os artigos, todas as reuniões, todos os briefings, eventos, Power-points, showcases e papos de corredor comungam o mesmo mantra: “Internet geeennnte!” e de carona, ainda dá pra ouvir “se tu quer fazer algo na Internet, se liga que tu não vai poder ter controle sobre tudo, se liga que é tudo pulverizado, se liga que dá pra mensurar, se liga que ninguém quer ouvir uma marca, blablabla”.

A unanimidade também faz uma novena: “Mídia morta geeennnte” e na boléia ainda se cacareja “se liga que GRP é uma medida aproximada, as audiências estão caindo ou são artificialmente infladas, o jovem odeia isso, a classe C é aquilo, os formadores de opinião aquilo outro, tralala”.

Perdeu a graça. Todo mundo concorda tanto com tudo que já dá vontade de torcer para que caiam todos do cavalo. Todos os arautos do fato consumado, os profetas da obviedade e os evangelistas da causa ganha.

Parece mais difícil fazer um comercial blockbuster do que uma estratégia de mídias sociais acachapante. E a matemática da fantasia faz um baita efeito nas apresentações.

Sabe a meta do milhão da Internet que vale mais do que dez milhões na TV (média de um programa meia bomba num horário idem na rede Globo)? A menos que a gente seja mulher de malando, o milhão quimérico de lá deve custar mais que os dez milhões garantidos de cá.

Não é desejo de polêmica, é desejo de justiça. O pêndulo está bêbado novamente. Visionário aquele que fizer uma campanha que não tenha nada na Internet nem brand-experience, nem brand-content, nem brand-coisa-nenhuma.

Você tem talento? Grande coisa

Outro dia, um amigo se debatia com seu futuro. Apesar de viver no século XXI, ele continua com só dois olhos, poucos dedos e um único cérebro. Azar o dele porque devem existir bilhões de jornalistas, escritores, fotógrafos e artistas. O que vai ser da gente?

Muita gente afirma, ora com vergonha, ora com orgulho, que não tem jeito pra tecnologia, não se adapta, “não é comigo”. O mundo não está dividido entre aqueles que dominam e aqueles que se atrapalham. Tecnologia que confunde é tecnologia fracassada. Tecnologia simplifica, por definição. E sim, o dino que você goza hoje, vai aprender. O mundo não é dos nerds.

Tem outros que preferem abdicar das mudanças generalistas do futuro. “Sou um especialista, manjo pacas dessa coisa aqui e ninguém é melhor do que eu”. Esta também é uma falácia. Essa renúncia atrofia o mundo. A curiosidade é um sinal mais vital que o batimento cardíaco. O mundo não é dos experts.

Finalmente tem uns que se auto-justificam com o talento. “Foi Deus que me deu”. Essa justificada ou falsa pretensão é a tabua de salvação. Mas esse naufrágio da individualidade é o bug do milênio. O mundo não é mais dividido entre aqueles que sabem (ou acham que sabem) e aqueles que não sabem. Essa barricada do talento que nega a cauda longa já não é mais rentável nem competitiva.

É arcaico saber o que ninguém sabe, e a efemeridade desse poder deixa o mais sabichão de calças curtas, em dois cliques.

É senil desprezar os bilhões de anônimos talentosos neófitos que andam por aí.

O suicídio dos hiperativos é intriga

Todos os dias, toda hora, temos que ver centenas de posts, ler uma dezena de jornais nos quatro cantos em quatro línguas e ainda pensar sobre todos, produzir sobre alguns, atualizar os perfis, responder às mensagens, ser inteligente, original, analítico e histericamente curiosos. Também temos que fazer monstruosos exercícios de memorização, de associação de significados e organizar tudo em hierarquias funcionais e criativas. Meu pai só tinha dois jornais para ler. Sortudo.

Não é mole manter-se vivo hoje em dia. A menos, é claro, que a gente despreze o mundo com o ar blasé de um “isso eu já vi”, “isso passa” ou pior, “nada mudou”.

Minha tia Inha tem 103 anos. É lúcida e tem saúde. Por vezes, ela suspira “será que Deus esqueceu-se de mim?” mas enquanto ela puder ler e ver novelas, é feliz. “Sabe meu filho, eu adoro ler. Passo o dia lendo, lendo, lendo. Enquanto estou lá, no livro, fico muito curiosa, gosto demais. Mas quando chego no final, sabe de uma coisa? Já esqueci de tudo. Então, volto para o começo. Só troco de livro quando vocês me dão um novo. Mas não carece não, visse?”

Talvez tenhamos a pretensão de achar que nunca, na história do homem, a velocidade das transformações foi tão grande e profunda. Se leda presunção, complexo de insignificância ou vaidade crônica, a cobrança do mundo tempera nossa ansiedade. E vamos investindo, porque o cérebro é elástico e o tempo uma trapaça.

O pianista de redingote esbofa-se sobre a partitura para uma interpretação nova, fresca, contemporânea de uma obra composta há trezentos anos. A platéia em êxtase, trejeita muxoxos oitocentistas. Há mais de século que a cena se repete. O cara não tem facebook, nem blog, nem sabe, coitado, que ele pode dar um boost na sua popularidade twittando adoidado.

Se parte da humanidade reza “tomara que eu morra a tempo” todos os dias, a outra, felizmente, reza o contrario. Escolha e relaxe.

Youtube e Rede Globo são concorrentes sim

Quando o fundador do Youtube afirma que a mídia Internet vai acabar com a Televisão, não podemos nos deixar enganar pela já clássica falácia que confunde a plataforma com o conteúdo. A plataforma é a máquina, o conteúdo é o que a máquina exibe.

O que o cara está portanto dizendo pode ser visto de duas maneiras.

Plataformísticamente, o computador (ou que tais) vai acabar com o aparelho de televisão. É a HP versus a Phillips, por exemplo.

Conteúdísticamente, aquilo que se exibe na Internet, da forma como se exibe e da forma como se assiste é que está espezinhando os formatos tradicionais da televisão. Queiramos ou não, é sim o Youtube versus a Rede Globo.

Discutir plataforma é perda de tempo porque é nessa praia que a convergência rola, e bem.

Conteúdos e forma de produzi-los é uma discussão muito mais fértil.

O Youtube se diz uma plataforma de exibição. Ora, as emissoras de televisão também. Portanto, são concorrentes desse lado da moeda.

As redes de TV produzem ou adquirem conteúdos. Ora, o Youtube apesar de não ter estúdios e claquetes, também.

É que o Youtube sacou antes e melhor o que significa “produzir / adquirir” conteúdos hoje.

Ele sacou primeiro que direito autoral é uma vaga e fracassada utopia de dominação.

Entendeu que existem muito mais autores do que deixam supor as peneiras da Rede Globo.

Foi mais esperto porque entendeu que ninguém tolera mais o cabresto das grades de programação mas deseja o vôo semi guiado por algoritmos de relevância (audiência, cruzamentos de preferências, ratings, etc).

Ainda, o Youtube sabe da fragmentação da audiência e da atenção e que é muito chato ficar horas assistindo certos conteúdos quando se pode ir diretamente aos livremente editados. E “livremente” é palavra chave na afirmação como o contrário de “curado, escolhido por curadores”.

Por fim, o Youtube vai mais fundo na sua ciência e desenvolve ferramentas de produção / criação para seus fornecedores de conteúdo, inclusive seus concorrentes (com ou sem autorização). Ele dá espaço, ele dá interação, ele dá conexão e, vejam que louco, ele dá audiência.

E tudo isso, sem falar de medição de audiência e da maioridade do Youtube fechando contratos de exibição com estúdios.

Então deixemos de meias palavras: ou a televisão entende e aceita, e rápido, o que é produzir conteúdo hoje, ou ela aceita que é concorrente do Youtube. Ou vai dormir ou vai pra cima.

#ForaLeisDeControleDaInternet

Se as elites vivem num disco voador, movido por tendências gringas ingurgitadas com caroço, e em rota de fuga do planeta, o que dizer dos nossos augustos legisladores? São icebergs à deriva numa realidade que lhes escapa por proselitismo medieval.

Quando a inquisição reconhece o tamanho da heresia, é com o poder de sua ignorância brutal que ela reage: tramita no congresso uma lei que pretende estabelecer regras sobre o jornalismo e a propaganda eleitoral na Internet. O manicômio federal excita-se com as perspectivas de arrebanhar eleitores em troca de poucos espelhinhos. Mas os zelosos democratas querem que a corrida seja justa e não privilegie interesses financeiros.

O que fizemos a Deus para merecer essa corte dos milagres? Não, não entenderam nada e nunca vão entender.

Alô, presta atenção de uma vez por todas: não dá para legislar sobre a Internet, ta entendendo? Sim, ela está acima dos interesses porque contrariamente a vocês, ela tira sua força de um sufrágio legítimo.

Um portal de Internet não pode dar tratamento privilegiado a um candidato. Alô? Portal? O que é isso? Quem liga pra isso?

Ta bom, vão lá censurar os portais. Sabem o que vai acontecer? Os candidatos (vocês mesmo que legislam com tanta ética hoje) vão sair fazendo e comprando blogs individuais ou seus autores, e pronto.

Ah, espertinhos, querem obrigar a dar direito de resposta a quem “difamar” um candidato? Tipo assim, se eu disser, no meu blog, que o Jabba the Hutt é corrupto vou ter que dar espaço para ele responder? No meu blog que NÃO é uma concessão pública? Façamos assim: Jabba, te dou o blog inteiro, divirta-se, pode escrever o que quiser. Os leitores vão adorar te ver na minha praia e tenho certeza que você vai conseguir convencê-los que você é o Mister Magoo.

Mas o projeto ainda avisa que a propaganda eleitoral só será permitida nos blogs, sites, comunidades e outros veículos do próprio candidato. Como assim? Não vai ter propaganda eleitoral gratuita? Ué, mas não somos um povo ignorante que não sabe votar?

Vamos parando. Não dá para entender nada. Só que o projeto é conduzido pelos senadores #ForaMarcoMaciel e #ForaEduardoAzeredo. Sacaram o naipe do trem fantasma?

Bye bye dead tree society

Minha irmã acaba de escrever um livro (muito lindo) para a maior editora da França. Jabá orgulhoso feito, ela contou-me como se dá o lançamento.

Que a Internet já mudou toda a cadeia produtiva e de divulgação de muitos setores, todo mundo sabe. Mas é de se alegrar quando uma indústria tão empoeirada, que tira seu sustento precisamente daquilo que está moribundo – a coisa publicada em papel – desperta, do alto de suas sábias rugas.

Quando o livro ainda está manuscrito, a editora envia uma copia, digitalmente é claro, para cerca de 200 leitores que se interessam pelo tipo de literatura em questão. Até aí, nada de novo: as editoras sempre fizeram esse tipo de teste.

Mas o que é diferente é que esses leitores estão devidamente conectados com seus próprios blogs e redes. A turma do sem-blog não serve, assim como não interessa quem só escreva em veículos especializados dead tree society.

A segunda novidade é que essas pessoas estão autorizados a divulgar criticas e o que quiserem do livro para seus leitores, mesmo que seja para destruir a obra ou xupinhá-la. Já sacaram que censura, jabá cozinhado e controle de pirataria é feitiço contra o feiticeiro.

Tudo isso acontece muitos meses antes do lançamento. Depois de um tempo, a editora analisa as repercussões, dos blogueiros e da audiência. Isso irá pautar o tipo de lançamento, o investimento na divulgação, e, claro, a tiragem do livro.

Simpática formula de lançamento.

Mas perguntei-me o que seria da imprensa tradicional.

Pois bem, a imprensa tradicional corre atrás. Ela corre atrás dos blogs, lê os trechos divulgados, acompanha os comentários e depois de solicitar o livro para a editora, planeja sua cobertura. Simples assim: atrasadinha que só. E, eventualmente, para recuperar o tempo perdido, ela resolve patrocinar o lançamento se associando na empreitada. Faz publicidade no livro e nos blogs que já “lançaram” o livro. Como se a Rede Globo resolvesse anunciar no livro do Paulo Coelho lançado pela Planeta (chamando por exemplo para um seriado sobre o autor na TV).

A estratégia é tão cristalina e lógica, que assim contada, parece óbvia. E é.

Só assusta um pouco perceber que, com marginais exceções de nicho, o Brasil ainda valoriza conceitos tão antigos como exclusividade, jabás pagos, reverência aos veículos tradicionais, peneiradores de conteúdo e controle de direito autoral.

Sei não, mas no mercado editorial, na imprensa tradicional, nas agências de propaganda e além,“I see dead people”.

Seu burro! Tá na Internet!

Todo mundo tem um amigo sabichão, que lhe dá a escalação de todos os filmes, seriados e talk-shows, recita tiradas inteiras do seu personagem favorito e ainda dá uma aula sobre os bastidores íntimos dos atores. Ele também conhece todas as capitais do mundo, já visitou todas as exposições e museus, já comeu em todos os restaurantes, bebeu todos os vinhos e, como ninguém, debate sobre a fabricação do aceto balsâmico, a diferença entre bacalhau e seus primos sem cabeça e a dieta alimentar de um esturjão iraniano. Alguns desses ainda pontuam as interferências com vasta bibliografia.

Notas de rodapé ambulantes, esses xuxuzinhos da ‘fessora, sempre têm uma palavra amiga para completar sua falta de memória ou disfarçar sua ignorância.

A gente passava horas copiando enciclopédias, decalcando tudo com papel vegetal e, Matisses em gestação, decorando a cartolina para louvar a pátria, as leveduras de Pasteur ou as barbas de um imperador.

As professoras não gostam da Internet. Essa maldita rede, tirou toda poesia e horror dos horrores, banalizou o conhecimento.

Mas sabichão que nasce sabichão sabe se modernizar. Se não se pode mais rivalizar com a rapidez da Wikipedia, tem um outro jeito, e por enquanto, imbatível.

O jeito é ser trend-kicker, ou seja, chutador de tendências. Sabe aquele cara que te vomita em 5 minutos o que esta pegando internet afora? Aquela rede social incrível que ta bombando e que você nunca ouviu falar, aquele blog de um japonês que só escreve num htmlês pra inglês ver, aquele sueco de 18 anos que ficou milionário vendendo cadarço de all-star, aquele mega-hiper-cool produtor de mashups com bilhões de views no youtube? Tudo comprovadamente super-hype: afinal de contas, números é o que não faltam na internet.

Tempos hipermodernos são assim mesmo: um mito, uma moda e um pentelho a cada segundo.

60 milhões de Internautas não é nada

Na semana passada, o Ibope revelou seus novos números sobre o acesso à Internet. Milhões de pessoas, em menos de um mês, passaram a acessá-la, segundo o instituto. O brasileiro é extremamente precoce, rápido no aprendizado e todos os dias descobrimos novos rincões inexplorados, no pais. Ainda deve ter muita gente brincando de esconde-esconde com as metodologias de pesquisa.

Pesquisa é uma questão de ponto de vista. Mas para que serve? Se a torre de controle já sacou que quase todo mundo acessa a Internet, imagina se aterrissarmos no Brasil de todos os dias.

“A maioria dos conteúdos da Internet é em inglês mas, embora isso cause alguns problemas de inclusão digital, isso vai ser resolvido, a nível de Brasília”.

Essa tal de rede é muito popular, isso o Ibope garantiu, além de outras características muito interessantes como por exemplo de que as pessoas ficam muito tempo conectadas, batendo recordes mundiais todos os dias. Incrível mesmo essa Internet. O Brasil também é muito impressionantemente moderno, rápido e tecnológico. Até os pobres coitados que acessam a Internet fora de casa e que num passe de mágica aprenderam a usar o computador, juntaram-se aos oficialmente conectados.

Mas para que diabo serve esse número? Além de ornar lindas apresentações sobre a pujança do país, além de convencer céticos em extinção, não serve para nada porque a Internet não é nada.

Saber que há 60 milhões de internautas é tão esclarecedor quanto aprender que os brasileiros sabem usar energia elétrica, que torcem para a seleção e que a maioria deles tem dois olhos, uma boca e duas mãos.

O que a gente precisa saber é o que esse povo faz uma vez conectado, onde vai, o que usa, como usa, porque usa. O que a gente precisa descobrir é onde eles deixaram de ir, o que deixaram de usar e porque. Se é que deixaram. A gente precisa saber que povo, ou que povos, são esses.

De resto, “a nível de Brasília”, devem ter ficado muito satisfeitos. Dona Internet também pulou de alegria.

Censura combina com CQC?

O jornalismo é a profissão de dilemas de consciência medicados com cabrestos éticos e regras de conduta. Afinal de contas, além de escarafunchar, debater e analisar os fatos de sociedade, o jornalista torreia seus impulsos e epifanias para que o retrato seja limpo, claro, inequívoco e acima de tudo, honesto.

Assim rezam os ortodoxos.

Mas nos tempos da mídia espetaculosa e seus rolos compressores de audiência, o homem atrás da notícia também estrela a pantomima do carisma. A observação, a  análise, são o palco da intenção e opinião. O script deve cativar e emocionar. Sensacionalismo oblige.

Assim doutrina a mídia de massa.

E eis que surge o big bang: os meios de distribuição de informação explodem ao infinito e os públicos se esfacelam. Quando existe um jornalista potencial atrás de cada cidadão, quando existe um órgão de imprensa em gestação por detrás de cada browser aberto, o ofício quebra todos os juramentos. Improvisa-se com seus próprios parcos meios e métodos.

Todo mundo que já é técnico de futebol vira jornalista.

Temos também um híbrido de tudo isso. O jornalismo honesto, carismático e caseiro, mais conhecido como jornalismo pentelho e mal educado. Aquele jornalismo com pose de inocente mas cheio de malícia. Mascarado atrás de um humor imberbe, ridiculariza-se o mundo, os fatos e as pessoas. É o jornalismo do senso comum e da obviedade ululante.  Quando a inteligência, o carisma e o improviso estão a serviço da sabedoria de boteco, o desperdiço de talento desopila o fígado mas cansa.

Há espaço e utilidade para os doutos vovôs, os super stars maquiados e os palhaços.

Na coluna do Ancelmo Góis de ontem, um repórter do Globo entrevistava um integrante do CQC à La CQC. Nada demais, mas engraçado. E lá fui eu, indicar o link para ilustrar esse post. Mas vejam que curioso: o vídeo indica: “esse vídeo não está mais disponível devido a reivindicação de direitos autorais da Rafinha Productions”. Quem é Rafinha Productions?

É proibido dizer “internet é barato”

Os professores pardais de fralda e as amigas nerds da maga patológica renovam o paradigma que acomete o mercado de produtores de comunicação e conteúdo na Internet: é mais barato. Ainda grassa o argumento de que investir na Internet significa, antes de praticidade, antes de pertinência, de foco, de abertura de novas interfaces e clientes, economia.

Embora existam mais de 60 milhões de pessoas que acessam a internet com freqüência no Brasil, o ambiente permanece sendo um pântano e talvez seja essa mesma a sua natureza. É difícil navegar num terreno tão instável a não ser com mente de explorador. Experiência significa risco e risco significa dinheiro. Não pode ser barato. O primeiro viés de análise nunca pode ser a economia.

Há alguns anos atrás, ainda era aceitável que, diante de uma fronteira assustadoramente revolucionária, os decisores encafifassem suas decisões por detrás da ignorância: se custar barato, vá lá que seja, vamos ver no que dá.

Mas lá se vai uma geração inteira desde as primeiras experiências e já se renovaram as cabeças. Muito pouco mudou de lá pra cá a não ser a vulgarização. Hoje todos falam em nuvem de presença, de colaboração, co-criação, branded-content, por exemplo, como se fossem a pólvora. É bom que essas idéias virem clichê, só não são novas. É bom que os neófitos arrotem teorias e uma selva de referências blogais. Economiza um tempo danado. Os  evangelizadores cansaram. É melhor lidar com a arrogância do novo alfabetizado do que com a ironia do velho careta. Prefere-se engolir uma aulinha do que um sorriso de desprezo.

Mas o que não orna com a nova geração nem com com os reciclados dinos é continuar comprando na xepa. E se tem xepa é porque tem gente vendendo barato.

São lindas essas novas-velhas fronteiras. Mas são difíceis, trabalhosas, com entregas complexas , demoradas, necessariamente caras.

Ou então, é isso aí: o fim da feira é barato, meio podre, e dura pouco.

Rede Record que Deus lhe pague

Pascal apostou. Ninguém sabe se Deus existe mesmo, então considere as seguintes alternativas. Se Deus não existe e você morrer infiel, até que você não se dá mal. Já se Ele não existe e você morrer temente a Deus, nada de errado com seus days after. Agora, se ele existir e você nunca comungou de sua palavra, você está ferrado. E se ele existir e você pagou penitência, ajoelhou no milho e pagou o dízimo, o reino dos céus será seu novo lar. O filósofo, matemático, físico e carola vivia no século 17. Seu cristalino raciocínio fez um strike nos céticos iluministas, que já namoravam na época com um pensamento mais livre e agnóstico.

Muita água rolou debaixo da ponte depois disso. Veio a revolução francesa que baniu a igreja do poder de estado. Vieram outras culturas, outras crenças, a liberdade de culto e o melting pot religioso. Vieram também as revolução de costumes, o respeito às minorias, a democracia lutando contra os tiranos e os tiranos contra os libertos.

E hoje as mídias temperam nossa existência. Ver e interagir, criar e colaborar, publicar e sonhar com a fama, declaram nossos novos direitos de humanos.

Que uma igreja tenha todo direito de ter um canal de televisão, uma plataforma de mídia, políticos e lobistas não está em pauta. Que uma igreja possa fazer mágicas dogmáticas com a aposta de Blaise Pascal, entre quatro abóbodas sacralizadas de neon e batalhões de evangelizadores, não interessa. Ela é senhora de sua pregação. Se ela está afim de passar o chapéu, de surrupiar as economias dos fieis em troca do loteamento do céu, azar do latifundiário divino e dos sem-nuvem.

Mas quando uma igreja transforma seu templo em Shopping Center, quando uma igreja entra na lógica do sistema e o óbolo presumidamente espontâneo vira fonte de financiamento, a aposta é outra. Quando a palavra de Deus lastreia um negócio e os vendilhões invadiram o templo, a esmola é lucro e como tal deve ser taxada.

Deixai a Rede Record em paz e transformai sua igreja em contribuinte.

Se pode botox, photoshop pode

–    Edna para Marina: Querida, você por aqui? Quem diria que você iria se render à tecnologia! Você tá um show na foto!
–    Marina para Edna: Obrigado, fofa. Quanto tempo né? Viu minha menina que linda?
–    Edna para Marina: Loirona linda, um pecado! Como crescem rápido, não é mesmo?
–    Marina para Edna: A Pita é morena. A loira sou eu hahahaha
–    Edna para Marina: Ah tá, claro, nossa, os anos não passam para você. Beijão.

Uma tia antiga era muito vaidosa. Ela não podia ver uma superfície brilhante que ela já posava, com olhar “fatale” e a boca trejeitando “je suis comme je suis, je suis faite comme ça ” (olhar caô e trejeito de cachorra, em livre tradução contemporânea). Seu melhor lado era o esquerdo, de esguelha, e como ela estava sempre se mirando, a gente só via o direito, o ruim. O bom, era só pra ela.

Você nunca reparou que ninguém percebe que aquela foto lá não foi exatamente ontem, nem naquele todo dia que você vive? Que nunca comentaram aquele ligeiro borrado providencial no rosto? Ou ainda a prestidigitação do fotografo cujo olhar lhe fez tão belamente natural ou naturalmente belo?

Nunca, porque todo post num perfil amigo ou prospect, tem telhado de vidro. Basta clicar de volta e checar as mesmas providências estilísticas no tratamento do remetente.

Para quem serve tantas horas esculpindo um perfil na web? Antes dos outros, o exercício de auto-definição e auto-projeção é bom pra si. O narcisismo é um prazer difuso, a termo, e o gozo em perspectiva é infinito.

Para despir-se do ego, precisa ter um. Cultivez votre jardin, mon cher Candide!

Quem não twitta se estrumbica

A luz ainda não despontara por cima da tampa escura e Ibiajara já driblava as sombras adormecidas da floresta. Há muito ele perseguia a égua redomona. Dias percorrendo os pastos naturais, farejando as pegadas, assuntando os murmúrios do vento e as revoadas assustadas. Ela se enfronhou na mata e o capataz perseguiu sua malícia. Quando o dia salpicou o solo, o caboclo perdeu-se. Girou, girou, girou, perdeu-se. Restava-lhe o coco da safada que ele não perdera das vistas. Era seu guia no labirinto. E foi no quinto dia de breu, que ele aplacou a fome comendo do fungo alucinógeno que salvou-lhe a pele e o emprego: a redomona voltou para o picadeiro.

O elo perdido pode ter sido um cogumelo alucinógeno que nossos primos primatas comiam quando perseguiam animais pelas fezes. Foi o despertar da consciência e a consequente queda: o homem perdeu-se quando desconectou-se da Terra em troca de uma pretensiosa ligação com Deus. Nossa interdependência com o além dá-nos vantagens competitivas. O aquém está à nossa mercê, para servir.

Pois um dia, a soberba vai estrumbicar o homem.

Assim como os fungos que, há bilhões de anos, sacaram que não há possibilidade de sobrevivência sem interdependência, a Internet é nosso sistema redentor. A  moeda de inserção é a quantidade de pontos de contato e a capacidade que desenvolvemos de nos relacionarmos com eles.

A Internet e a extraordinária força das redes sociais e sistemas de co-criação reproduzem uma ecologia de interdependência entre os homens e suas obras. Mais chance de destaque e sobrevivência tem aquele com mais relacionamentos, amigos, contatos e seguidores. Mais chance de cotejar a verdade, aquelas criações com mais suporte e colaboração.

Se você acha que observar de longe, sem macular a preciosa existência é mais digno de sua superioridade, que chá você tomou para acreditar em Papai Noel?

Obrigado, Sarney

Num país distante, um laboratório científico de primeira linha criou uma máquina que, através de sofisticados cálculos de cenários, confere às decisões políticas nível de assertividade incontestável. Tudo passa por ela. As nomeações para os cargos públicos têm a intenção dos indicados checadas por poderosos detectores de mentira, os discursos são escarafunchados nas entrelinhas e a vida financeira, social e íntima de todos os políticos é vigiada. Os sábios cientistas que projetaram a parafernália democrática contaram ainda com a ajuda de médiuns de variadas correntes que, graças a seus transes místicos, inter-relacionam todas as medidas com os desígnios divinos. Finalmente, Gaia também participa da vida pública: nada é feito sem o consentimento da mãe Terra, das árvores, dos golfinhos, focas, baleias, tartarugas marinhas, cracas e coquilles Saint-Jacques.

Nesse país, a imprensa investiu fundos colossais na construção da máquina e encontrou, graças aos seus dividendos, uma tábua de salvação: jornais, TVs, rádios e até os blogueiros sobrevivem hoje exclusivamente desses recursos, pagos pelo erário. Tornaram-se “diários oficiais”, house-organs do governo (ou da máquina) que, evidentemente, ninguém lê, e onde, consequentemente, nenhuma empresa anuncia.

O país é muito bem gerido, rico, promissor, respeitoso das minorias e maiorias, socioambientalmente responsável e chato de galocha.

Que graça teria viver num país assim? Que graça teria ser governado por uma Madre Teresa de Calcutá formada em Harvard? Ou um Karl Marx professor do IBMEC? Ou o Lula com PhD em astrofísica e literatura angolana? Ou pelo Sarney com voto de pobreza e sem família?

A grana é nossa, mas que o bigode cínico do Sarney é impagável, isso é.

Xixi no banho faz bem pro ego

Todos os dias inventam uma dieta e todos os dias um novo sintoma da gripe suína. E todos os dias também cria-se uma forma de salvar o planeta do pesadelo que nem Noé salvará.

Para emagrecer, é mais importante a disciplina do des-comer do que o que se ingere. Não duvido que a fumaça dos fumantes é vetor do vírus H1N1. E fazer xixi no banho, acredite ou não, além de economizar água, é um ato de altruísmo: devolve para a natureza ureia e água limpa.

Nem toda invenção pega. E pouco importa pegar porque a intenção dessas ideias não é de incentivar a bulimia, nem internar os proscritos em quarentena, nem riscar do mapa as válvulas criminosas.

As campanhas de conscientização são quase sempre chatas, professorais ou de uma pieguice emocional digna de PowerPoints virais. A ciência presumida não tem nenhuma importância, ela é só um artifício de mobilização, uma chamada, um motivo para se comunicar. É justamente por acreditar demais na precisão científica que essas campanhas são ineficientes.

Por que será que um assunto sério não pode ter humor ou pelo menos fazer sorrir? Por que será que tem que desaposentar o Cid Moreira cada vez que queremos dar um alerta comunitário urgente?

Nas mais otimistas das previsões, em 50 anos, 50% de todas as praias do mundo vão desaparecer. É muito provável que seu sonho de surfar na Micronésia se torne inoperante em breve. Você acredita nisso? Não. Nem eu.

Você acredita que fazer xixi no banho é bom pro planeta? Não. Nem eu.

Mas, de tanto me divertir com o assunto, economizar água virou pauta: fecho a torneira enquanto escovo os dentes, morro de frio me ensaboando e sim, fiz xixi no banho hoje.

E ri sozinho do meu sarcasmo humilhado pelo bom humor.