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SPAM, I LOVE YOU.

Rola muita polêmica por conta dessa prática. Polêmica essa que beira a hipocrisia: ninguém gosta, mas muitos usam e abusam.

Fundamentalistas falam em atentado à privacidade, rabos-presos preferem o eufemismo CRM, anarquistas cantam o requiem do e-mail.

Aos argumentos:

Se mandar e-mail não solicitado é atentado à privacidade, o que dizer da minha caixa de correio, a física, que vive entupida? O que dizer da propaganda eleitoral gratuita que entra na minha casa na hora em que estou de cueca na frente da TV? O que dizer da CPMF, do exame médico para freqüentar a piscina e do gordo ridículo que passa talquinho obscenamente nas partes, na academia? Em tempos de reality shows, coisa mais antiga essa de falar em privacidade!

Mas existem técnicas sofisticadas para fazer um marketing de relacionamento one-to-one. SPAM com cartas de nobreza. É mais sofisticado, informatizado, cheio de regras e graças, segmentações, etc. Maravilhas da moderna tietagem pelos gurus do Marketing. Na maioria das vezes, porém, o verniz cai na primeira análise. E CRM vira mídia de massa com endereçamento postal. Em outras palavras, SPAM.

Finalmente, há aqueles que falam que o SPAM está incontrolável, prejudica a rede, os servidores e o diabo a quatro. Sei lá, e tanto faz. Que inventem, então, algo mais maravilhoso que o e-mail para substituí-lo. Apocalípticos à la Gilder não estão mais na moda.

Minha posição é mais simples:

1) SPAM funciona.
2) Se posso conviver com os odores nauseabundos do Tietê, o que são duzentas, trezentas mensagens não solicitadas na minha caixa postal?
3) Se as contas de e-mail estão difíceis de administrar, vamos ensinar como funcionam os filtros anti SPAM, vamos comprar mais e maiores servidores – mais banda também – e vamos deixar de pão-durismo.
4) Como tudo na vida, como tudo na Web, qualquer tentativa de enquadrar e proibir dá com os burros n´água.
5) Vamos continuar nos revoltando contra correntes indesejáveis, piadas de mau gosto e e-mails do iBest. A estratégia é educativa.
6) De vez em quando, eu morro de rir com alguns SPAMs. E mais vale uma boa gargalhada do que mil discursos inflamados e teorias empoladas.
7) Vamos deixar de ser frescos.

O que ninguém viu ou quer ver das pesquisas da Internet.

A Internet é mídia para todos.

Desde sempre, digo, desde que a Internet é a Internet, as cabeças pensantes que analisam o meio assumiram que o público consumidor desse meio pertence ao mesmo meio delas: pessoas bem-nascidas, bem-apessoadas, modernas, antenadas e com a conta bancária recheada de dólares para gastar em Nova York, Londres ou Paris, cidades essas, aliás, onde moram virtualmente, mesmo comendo o pãozinho do seu Manoel todo dia de manhã, na padoca da esquina.

É natural e confortável pensar que um meio tão novo tenha berço de ouro. Afinal de contas, em um país como o nosso, as classes dominantes encastelaram-se atrás de sua presumida superioridade de consumo, seja por medo, seja por preguiça de olhar além de seus Morumbis-beaches.

No entanto, parece claro também que em um meio como a Internet, cujo conceito filosófico é de aproximar as pessoas, democratizar a sociedade e revolucionar as transações de consumo, é de se supor que exista um paradoxo latente entre proposta e prática.

Isso sempre nos deixou perplexos e, por que não dizer?, inconformados. Por tabela, o trabalho diário com marcas populares, vendidas indiscriminadamente para todas as classes de pessoas e aqui mesmo, no Brasil, que abriga pacificamente Morumbis-beaches e Heliópoilis-gandas, deixa-nos decepcionados com o futuro da Internet como meio de comunicação.

Existem muitas explicações para justificar o acesso restrito das classes C, D e E à Internet. Nem preciso enumerá-las porque sempre serviram de muleta para justificar o paradigma de que o computador, a linha telefônica e a Web estão definitivamente confinados no guetto dourado das classes AB.

Mas analisando com mais cuidado a pesquisa IBOPE-POP de maio, parece que os números apontam para uma direção oposta. O mais surpreendente é que ninguém tenha se debruçado sobre a penetração da Internet nas classes C, D e E.

Pois fizemos essa singela observação.
Aí vão os resultados:

Penetração da Internet em casa e/ou no trabalho – crescimento de fevereiro 2000 a maio 2001.

– Classe A: de 63% para 83%
– Classe B: de 29% para 43%
– Classe C: de 9% para 17%
– Classes D/E: de 4% para 8%

Apenas com esses números, constata-se que o crescimento em números relativos foi de respectivamente:

– Classe A: 31%
– Classe B: 48%
– Classe C: 88%
– Classes D/E: 100%

Daí a primeira conclusão: o crescimento da penetração da Internet em casa e/ou no trabalho foi tanto maior quanto mais pobre era a classe social.

Mas tem mais. Em números absolutos essa conclusão fica ainda mais impressionante. Vejamos (em milhões de pessoas):

– Classe A: de 1,9 para 2,4
– Classe B: de 2,6 para 4
– Classe C: de 1,2 para 2,4
– Classes D/E: de 0,5 para 1

O crescimento é portanto de:

– Classe A: 26%
– Classe B: 53%
– Classe C: 100%
– Classes D/E: 100%

Segunda conclusão, portanto, é que como as classes A e B têm um crescimento muito menor do que as classes C, D e E (sinal claro do empobrecimento da população), quando olhamos o crescimento da penetração da Internet com números absolutos nas classes C, D e E, o resultado fica ainda mais significativo.

O que queremos sugerir aqui é nada mais nada menos do que uma hipótese de que as classes C, D e E têm tido cada vez mais e cada vais mais rápido acesso à Internet. É claro que esses números merecem mais análise. Mas a hipótese está levantada.

Eu faria uma pequena ressalva apenas na nossa conclusão. Esse crescimento que apontamos é um pouco inferior quando formos analisar os números de penetração da Internet apenas em casa. Claro. Mas isso não inviabiliza em absoluto a hipótese de que a Internet é um meio em vias de se tornar popular. Isso porque a Web tem algo que nenhuma outra mídia tem: ela é mídia, INCLUSIVE, no local de trabalho, enquanto as demais, as tradicionais atingem mais e melhor o público em casa. A Web, os veículos da Web atingem o público, o consumidor quando ele está em casa E quando ele está trabalhando. Isso é muito relevante porque propõe uma maneira diferente de atingir o consumidor. Não mais aquele cara atrás da TV em casa, à noite com a família, mas o mesmo cara também atrás do seu computador no seu local de trabalho. Daí, piramos para papos de convergência e coisa e tal. Mas não quero entrar nessa seara porque esse não é o tema deste artigo.

Finalmente, gostaríamos de abrir o debate e, temos certeza, esse debate vai ser muito interessante porque vai nos ensinar a ver o consumidor de uma forma totalmente diferente. Vai nos ensinar a fazer veículos on-line totalmente diferentes. Vai nos ensinar a fazer propaganda na Web de uma forma totalmente diferente. Vai nos ensinar finalmente a olhar para essa mídia com os olhos que ela merece, a saber, como uma mídia de verdade.

Internet: a briografia da imprensa.

Tenho ficado muito puto com a cobertura que uma certa imprensa faz da agora mal fadada nova economia.

Para aqueles que acham que vivem, rezam e comungam pela Internet desde criancinhas, até se esquecem que ainda era ontem e a Web ocupava uma coluninha obscura de certas revistas de tecnologia.

Daí, virou meio cult falar do assunto. Ele pipocou calmamente aqui e ali, nichadinho no material de leitura obrigatório de qualquer digerati, de qualquer moderno.

A grande imprensa, aquela de fácil digestão escrita por jornalistas fanáticos por suas jurássicas máquinas de escrever, não encontrava na Internet qualquer interesse. Até que de repente ouviram falar daquela mocinha que foi enganada por um sujeito tarado atrás de um computador. Opa, isso é legal. O povo gosta. E a Internet virou instantaneamente o hit das páginas policiais. Sites neozistas e de pedofilia que viviam no mais absoluto anonimato, vomitando suas obscenidades para meia dúzia de abjetos seres ganharam notoriedade. A Internet era o inimigo público número e uma onda de neo-ludistas ressurgiram das cinzas.

De repente, não se sabe ainda por qual conjuntura diabólica, o povo da grana passou a se interessar por essa possível fronteira. Talvez apenas e simplesmente porque sobrava demais. Então cagaram grana na cabeça daqueles pobre coitados que estavam começando, por convicção e paixão, uma atividade na grande rede. Dinheiro pacas. Um monturo. Instantaneamente, Internet virou assunto das páginas de economia e finanças até atingir as primeiras páginas dos jornais. Só se falava nisso e ficamos com o saco na lua de tanta espuma. Um horror.

E como não poderia deixar de ser, depois do inconsciente porre, vem a ressaca. Dor de cabeça, dor na alma. A grana ficou curta, curtíssima, sumiu. Quebradeira, demissões, etc e tal. Pronto, da primeira página diretamente para a de Falências e Concordatas. É óbvio que por conta de uma diabólica reciprocidade, o espaço tinha que ser proporcional ao anteriormente ocupado. Saco, de novo.

Mas o que resta de tudo isso? O que restará daqui a 10, 20, 30 anos? O mesmo que aquele famoso e disputado bal masqué que a Imperatriz Leopoldina deu no Palácio em mil oitocentos e bolinha e que foi noticiado com fervor quase religioso pela imprensa. Vocês não lembram? Nem eu. Não tem a menor importância nem relevância. Tudo faits divers. Conteúdo efêmero, supérfluo, pra encher linguiça.

Fico então me perguntando, e agora, o que vai acontecer? Pra onde mais uma vez irá migrar o assunto Internet e que tais? Muitos desejam raivosamente um expresso da página de Falências e concordatas diretamente para o obituário. Tragédia vende papel.

Mas nada disso importa muito não é mesmo? Faça uma análise consciente, clara, fria, lúcida. A Internet é ou não é do caraio? É sim. Isto sim é que importa.

O resto são palavras impressas no embrulho do cocô do meu cachorro.

Ensaio sobre Interatividade na Propaganda.

Jack estava deitado em sua cama. Ele estava exausto. Assim mesmo, Jack levanta-se: 15 horas de sono ininterrupto tinham amortecido sua mente. Em um gesto automático, ele vira-se para o device de rede ao lado de sua cama. No monitor, uma loira dança sensualmente. Jack fixa o olhar seduzido pela performance da garota. Sua mente em estado de semiconsciência desperta e concentra-se na cena. Com o pointer do aparelho, Jack aproxima a imagem. Jack aciona o pointer mais uma vez e shuuuuuu, lá está ele dentro da pista, acompanhando a menina. Ela gosta e o arrasta até o bar para tomar uma cerveja. Os dois bebem e riem muito. Riem e dançam. Dançam e riem. Jack está satisfeito e desliga o device. O comercial da cerveja era envolvente.

Quem disse que a Internet é interativa não sabia ao certo do que estava falando. Temos que admitir que esse termo é impreciso e misterioso. Não pretendo entrar na semiótica da palavra. Quero tão- somente me concentrar nas diferentes maneiras de encarar o conceito na propaganda. Ainda, tentemos nos concentrar nas definições mais imediatas da palavra. Interação, aqui, deve ser entendida como a ação do agente com uma interface eletrônica ou robotizada e sua resposta. Não prentendo falar de uma interação mais pirante como a ação conjugada de dois agentes, capaz de produzir um resultado simbiótico dos dois. Poderia ser mais excitante mas muito menos prático.

Uma análise horizontal da interatividade na propaganda.

Interatividade on demand

Este é o tipo de interatividade de primeira onda: clicou viu, viu, clicou. É o zapping da TV ou o zapping do clique em um banner, em um link. Procurar uma matéria no índice de uma revista é interatividade on demand. Escolher o refrigerante em uma “vending machine”, idem. Que coisa sem charme, não? Pois então, digamos que este tipo aqui não pode ser chamado de interatividade, embora 99% de tudo que se vê na Internet pertença a esta interatividade on demand.

Interatividade manipulada

Sabe aquele joguinho dos festejados anúncios laureados em festivais? Você joga uma bolinha em um buraquinho ou em dois buraquinhos ou em três buraquinhos. Quanto mais buraquinhos você acertar, melhor. Bacana, não? Porque se você acertar um, você ganha um desconto; dois lhe dão direito a mais desconto e 3, mais ainda. Super-hiper-ultra-criativo. Ou aquele outro que você passa o mouse e gruda, ou passa e chacoalha, ou treme, ou acende, ou apaga. Excitante, não? Pois essa interatividade aí é manipulada, ou seja, o produto da interação do usuário foi determinado pelos criadores da peça. Ah, isso não é interatividade, não é mesmo? Interatividade supõe liberdade de ação e não manipulação. Pena que 99% de tudo aquilo que é chamado de “criativo” na Internet pertença a esta interatividade manipulada.

Interatividade de resultado

Mas sejamos sérios. Interatividade não é “on demand” nem pode ser manipulada. Interatividade de verdade é aquela na qual o produto da ação do usuário responde a seus interesses ou impulsos. Como sempre, é mais fácil entender a partir de exemplos. Um banco on-line, por exemplo, no qual pode-se aplicar, transferir e pagar contas proporciona uma interatividade de resultado porque a resposta é sempre fruto de uma ação do agente. Um terminal de caixa eletrônico é igualmente interativo. Um video game multi-usuário, também. Novelas e gincanas on-line idem. Interatividade de resultado exige uma interação organizada com um banco de dados, operações complexas e uma arquitetura de relacionamento sofisticada. Interatividade de resultado é praticamente impossível de realizar nos formatos de publicidade de que dispomos hoje na Web.

Interatividade de imersão

Esta interatividade, a verdadeira, pertence ao universo da ficção científica. Ela se caracteriza pela imersão do agente em um ambiente virtual com a sensação física e psicológica de pertencer àquele mundo. Alguns games mais sofisticados chegam muito perto deste tipo de interatividade, principalmente no que diz respeito à sensação psicológica. A física consegue ser simulada também em alguns jogos, mas de maneira ainda primária. Um filme no cinema chega muito perto desta imersão psicológica, mas não podemos falar tampouco de interatividade uma vez que o espectador assiste passivamente a ele. Já na Web, não existe interatividade de imersão, ainda.

Uma análise vertical da interatividade na propaganda.

Interatividade racional

Vamos agora introduzir uma outra dimenção do conceito de interatividade. Primeiro a interatividade “racional”, a saber, aquela que consiste na interação objetiva, de causa/efeito, quase matemática do usuário. Todo o tipo de interação que se opera com o cérebro consciente do usuário é deste tipo. Não pretendo entrar em meandros psicológicos mas gostaria de me concentrar apenas no que diz respeito à propaganda. Uma propaganda racional é aquela que aborda de forma quase analítica os benefícios e atributos de um produto ou marca: o sabão em pó X lava mais branco porque possui os ingredientes Y e Z que, comprovadamente, têm essa propriedade. Ou, ainda, compre a marca X porque ela é mais barata. A interatividade da publicidade on-line é quase sempre racional.

Interatividade emocional

Sabe-se, no entanto, que os impulsos que motivam a compra ou fidelidade de marca não são necessariamente de natureza racionais. Podemos até admitir que argumentos racionais são menos perenes em termos de comunicação do que aqueles que trabalham com o envolvimento emocional do consumidor. Quando se vê um cowboy cavalgando em uma planície para “vender” um estilo de vida associado a uma marca de cigarro, por exemplo, o efeito que se pretende é obviamente emocional. Ainda, quando se vê um ET chacoalhando com uma loira deslumbrante em uma danceteria para “vender” um clima, uma atmosfera associada a uma marca de cerveja, idem. A propaganda de qualidade que sabe elaborar neste registro de forma consistente opera uma espécie de interatividade inconsciente no consumidor. Se perguntarmos racionalmente porque ele fuma aquele cigarro ou bebe aquela cerveja, ele irá sempre dar respostas objetivas de gosto, por exemplo. Mas em um blind test, a maioria das pessoas é incapaz de reconhecer o cigarro que fuma ou a cerveja que bebe. No entanto, ele fuma a marca do cowboy e bebe a cerveja que desce redondo. O poder da propaganda é justamente sensibilizar o consumidor em camadas não conscientes e, desta forma, “agir” em seus gostos e preferências, modificando-os. Da ação continuada desses impulsos emocionais ao longo do tempo com a análise constante dos seus efeitos no público, talvez possamos falar de interação emocional da marca com o consumidor e do consumidor com a marca. Na Internet, ainda é extremamente difícil, quase impossível, criar campanhas que sustentem este registro emocional.

Por que a publicidade on-line deve evoluir

Se tentarmos cruzar as duas análise, iremos concluir:

– Interatividade on demand é sempre racional.
– Interatividade manipulada é racional.
– Interatividade de resultado é quase sempre racional.
– Interatividade de imersão é sempre emocional.

– A propaganda on-line, em função das restrições técnicas do ambiente, ainda não é adequada para interatividades de resultados e de imersão.
– A propaganda on-line, pelos mesmos motivos, não possui uma dimensão de interatividade do tipo emocional.

– A propaganda off-line não tem interatividade horizontal.
– A propaganda off-line de qualidade tem alta interatividade emocional.

A análise final é simples: a publicidade on-line, na Internet, pode e vai revolucionar a publicidade no dia em que pudermos superar as deficiciências técnicas do ambiente. A publicidade on-line é a única que permitirá interatividade de alto nível (de resultado e imersão) com interatividade emocional. Basta para isso que consigamos superar as últimas barreiras tecnológicas. Mais do que isso, basta que consigamos superar nosso medo de inovar. Essa é mais uma razão pela qual a publicidade on-line tem sido tão insistentemente debatida nos últimos tempos. Esse é o motivo pelo qual precisamos discutir formatos e conceitos de publicidade on-line, sempre.

Namorodromos existem.

Você está sozinho naquele senta levanta, rangendo os dentes, começando mil coisas ao mesmo tempo, arrumando as gavetas, os livros, correndo atrás do próprio rabo ou simplesmente comendo porque não consegue dormir, nem assistir TV, nem subir pelas paredes, nem se enfiar na privada. E o pior de tudo, você pode estar rodeado de gente e ainda assim se sente só, desamparado e carente. Um aperto no coração.

Os desalmados, nessas horas, saem por aí atrás de aventuras, de Vladivostok a Pindamongaba. Querem ver o mundo e da única maneira que realmente vale a pena, com pessoas. Mas como é difícil conhecer pessoas. Como é difícil encontrar pessoas. Como é difícil.

Você chega em algum lugar e fica ali observando. Aquela pessoa quem sabe? Ou aquela outra? Tipo mercadores em feira de gado. Belos dentes, belo porte, muita ou pouca gordura, velho ou jovem demais. E quando ela parece interessante ou não repulsiva demais e você arruma coragem suficiente para abordá-la, ainda lhe resta o mais difícil, falar amenidades, pousando de bacana ou intelectual, fazendo toda aquela mise en scène babaca. Com um pouco de sorte, o indivíduo em questão, ou melhor, o personagem e sua máscara, topa um algo mais. Mas o “algo mais” é só “algo” mesmo. E “algo” é pouco para quem está com o coração apertado.

Como é difícil não? A ditadura da máscara, manja? As pessoas se relacionam sempre e primeiro com as máscaras das outras. E quando a fantasia cai, geralmente é decepcionante e tarde demais.

Que tal imaginarmos um ambiente em que não há máscaras ou melhor, onde as máscaras não são fingimento? Onde estar de máscara não faz a menor diferença na relação?

Que tal um lugar em que exista um certo pudor ou melhor, em que não haja censura? Onde ser pudico ou escancarado não muda nada?

Que tal um canal em que as pessoas se relacionam não pela aparência mas pela dinâmica da linguagem verbal? Um meio em que as pessoas se falam sem se ver, sem se cheirar, sem se tocar?

E que tal pensar que isto talvez exista e que lá, todo mundo entra sem cerimonia, sem atestados de antecedentes, sem carro do ano. Um no men´s land que a ninguém pertence.

Lá, é assim: você começa a falar com pessoas, trocar convicções ou fantasias, sem hierarquia. Você entra sem protocolo e cai fora sem constrangimento. Lá, você subverte e se subverte. Não tem esse negócio de timidez nem pudor. Daí, você conhece as pessoas pela ordem inversa. Primeiro o conteúdo, depois a forma. E tudo ali, na hora, bateu voltou. Sem pensar demais, sem armar o jogo. Ainda que no começo existam máscaras mas rapidinho elas ficam sem graça, óbvias demais, falsas demais.

Pois eu vos digo: este paraíso das noites de angústia insone existe e se chama Internet. Vem namorar na Web você também. É bom demais.

Fernand Alphen

Box de Dicas:

www.netmeeting.com (vídeo conferência)
Bom para começar porque é de graça. Mas é meio fraquinho.

www.icuii.com (vídeo conferência)
O melhor de todos. Disparado. Não é tão caro assim mas é imbatível.

www.mirabilis.com (comunicador instantâneo)
Básico. Para começar e manter uma relação, esse software grátis é simplesmente indispensável.

Salas de bate papo.
Existem centenas, milhares. Todos os portais têm. É um bom começo para aquela azaração inicial. Tipo dar tiro pra tudo quanto é lado.

A Internet morreu.

Primeiro foi o Big Bang. Deu um pipoco e foi aquela confusão, destroços para todos os lados, uma poeirada, um tohu-bohu. E como não podia deixar de ser, veio o verbo. Desandaram a falar e vomitar um monturo de palavrões difíceis, novos, sofisticados. O povo saiu como pode atrás de seus profetas, trocando também de credo a cada suspiro da Nasdaq.

Falava-se de Internet, de internauta, de banner, click troço, page vixe, pop-up the sailor man. Papo recorrente e chato.

Mas parece que a poeira deu uma baixada agora e estamos começando a enxergar alguma coisa.

Mas estranho, muito estranho, está tudo igualzinho. O mundo continua mundo, as pessoas pessoas e a Internet, bem a Internet, o que é isso mesmo?

Já está mais do que na hora de parar de falar de Internet. Uma hora isso tem que acabar. As pessoas não ficam falando de eletricidade a vida toda não é mesmo? Nem de ondas de rádio. A Internet está aí e não interessa mais falar dessa coisa. Estamos metidos nela de tal maneira que nem percebemos quando estamos dentro ou sobre ou por cima ou por baixo dela.

Por isso, proponho o fim dos jargões e das palavras chatas.

Portal, doravante, deverá ser chamado de veículo de comunicação.
Banner é um anúncio. Page view é impacto. Clique é, sei lá, clique é bonitinho então fica. Dot com é empresa, companhia ou firma dependendo da sua importância. Webmaster é zelador ou leão de xácara. Webdesigner é designer, diretor de arte ou simplesmente criativo. E site, pelo amor de Deus, site não é nada ou é coisa demais. Pode ser loja, pode ser brochura, pode ser jornal, TV, boate, clube, casa de massagem, sei lá. Vamos deixar de ser criativos com palavras e sermos criativos com os produtos, as marcas, os serviços.

Proponho ainda a morte dos profissionais da Web e a volta dos padeiros, livreiros, jornalistas, publicitários, vendedores de carro.

Proponho a morte dos departamentos de Internet, das revistas de Internet, desses horrorosos encontros de dot.com guys.

Proponho a morte dos Internautas. Quero que eles voltem a ser pessoas, como nunca deixaram de ser. Quero que voltem a ser vistos como consumidores e não extraterrestres.

Proponho que se aposente o termo nova economia e principalmente, essa coisa chamada Internet.

Internet e todas essas coisas ligadas a ela é coisa do passado. Coisa de enciclópédias e biblias sagradas.

A revolução do seu Samuel.

Lambris de madeira, lustres de cristal, espelho barroco, cinco telefones na mesa e um surpreendente video wall de controle de todo o escritório. Do alto de seus 77 anos, seu Samuel tronava sobre um império construído nos escombros de mais uma memorável história de guerra, fuga, imigração, lombo de burro e lojinha no centro.

“Eu vou lhes dizer o que eu penso da Internet. Depois meus filhos continuam o assunto.

Eu costumo fazer sauna, sabem? Eu gosto de ir lá para ouvir e ficar atualizado. Um senhor estava lá, contando que o namorado de sua neta havia lhe sugerido vender suas 200 lojas e montar uma na Internet. E não é que o homem está fazendo isso? Só não fez ainda porque não tem o dinheiro necessário para pagar a demissão de seus 500 funcionários.”

Neste instante, seu Samuel interrompe o relato, olha discretamente para as câmeras, para a foto do ancião barbudo no porta retrato, toma fôlego e retoma com ares proféticos:

“Pois eu acho o seguinte: a Internet vai provocar uma grande revolução. Uma revolução como nunca foi vista antes.”

Eu já ia me aprontando para interpor mais uma obviedade do tipo “mais ela já começou Seu Samuel” quando o homem levanta e dedo em riste vocifera:

“Mas não é nada dessa revolução que vocês estão pensando não. As pessoas vão correr na rua para quebrar todos os computadores do planeta. Fogueiras serão erguidas nas praças para queimar essas máquinas todas. Enormes autos da fé em nome do direito ao trabalho, em nome da humanidade. O que está acontecendo no mundo é uma violência. Uma vergonha. Todo mundo vai voltar a pegar o lápis para fazer contas, escrever bilhetes e cartas de amor. Vamos todos voltar a nos olhar nos olhos e falar com a boca e com o coração.”

Seu Samuel senta novamente em sua poltrona, suspira e interroga novamente o sábio do porta retrato.

“Então eu vou dizer o que acho da Internet. Depois vocês falam com meus filhos. Vocês vão fazer o site da minha empresa. Uma coisa bonita e atraente. Mas vender NEM PENSAR. Se o meu cliente quiser comprar, ele vai vir aqui na minha lojinha, sentar na minha mesa, olhar as minhas jóias e conversar comigo. Vender, só na minha lojinha.”

Seduzido pela autoridade e paixão do Seu Samuel, olhei envergonhado para meu colega. Onde estava, naquele instante, meu entusiasmo, minha crença, meu discurso moderno? Um grande vazio se interpôs entre mim e aquele simpático velhinho. Sem argumentos nem forças, olhei para o barbudão do porta retrato com um aperto no coração, um gosto amargo na boca e uma vontade de arremessar ao longe meu palm pilot e meu celular. Uma enorme vontade de voltar pra casa, regar o jardim, bater um bolo e escrever uma carta para o meu amor.

Uma história da Internet.com

Histórias são sempre um emaranhado de fios e fatos trançados por um olhar. Não existem histórias imparciais. E é por isso que são verdadeiras.

Hoje eu vou contar uma.

A história da Internet, sob o ponto de vista do negócio. Mas atenção, é uma história. Portanto, obviamente pessoal. Obviamente parcial. Obviamente verdadeira.

Fase 1 – BARBUDINHOS.COM

Barbudinhos da Vila Madalena, nerds e maconheiros sonhavam com um mundo democrático e puro, no qual poderiam inserir-se ao abrigo da desgastada sociedade de massa.

A Internet era essa bandeira.

Estavam construindo uma rede open-source, não comercial, escancarada para todas as tendências e credos.

Assim nasceram as lindas iniciativas dos pioneiros de primeira hora.

O norte desses pioneiros, portanto, era O SONHO.

Fase 2 – ENGOMADINHOS.COM

Mas eis que os barbudinhos estavam passando fome.

Daí, chegaram os engomadinhos com esmolas atraentes.

Alguns barbudinhos toparam e o negócio passou a se sustentar às custas do óbolo dos engomadinhos. Outros barbudinhos desistiram.

O norte dos já nem tão barbudinhos era o SUSTENTO.

Fase 3 – INVESTIDORES.COM

Apareceram mais e mais engomadinhos, só que esses aí não eram mais oportunistas. Eram investidores profissionais.

Barbudinhos foram perdendo participação. Business plans e outros bichos foram servindo de mola para o negócio.

E os investidores deixaram-se contaminar pelas perspectivas.

Como uma bola-de-neve, outros e mais outros dinheiros aportavam diariamente numa cascata exponencial.

Agora o norte dessa gente toda era conseguir MAIS INVESTIDORES.

Fase 4 – MARKETEIROS E PUBLICITÁRIOS.COM

E, de repente, algum contador desavisado teve a infeliz idéia de fazer contas.

Tinha muito dinheiro na jogada e perspectivas de retorno totalmente sem lastro.

Os contadores avisaram os engomadinhos que, por sua vez, arrocharam os barbudinhos.

E, para controlar os barbudinhos, chamaram uns marketeiros.com profissionais que por, sua vez, contrataram uns publicitários.com

O norte aqui passou a ser: CORRE NEGÃO.

Fase 5 – CONSUMIDORES.COM

A pressa era tanta e o desespero tamanho, afinal de contas o equilíbrio de um castelo de cartas não é tão simples, que barbudinhos, engomadinhos e contadores, todos .com, esqueceram de uma agente na história: o público / consumidor. O .com, claro.

E o consumidor começou a questionar, xingar e espernear.

Porque o público estava pouco se lixando para os barbudinhos, muito menos para os engomadinhos, contadores e marketeiros.
Ele queria conteúdo e serviços.

O norte agora era: FERROU?

Fase 6 – PADEIROS.COM

Então os engomadinhos, agora no comando, se lembraram que quem faz pão é o padeiro, quem vende livro é o livreiro, quem escreve o jornal é o jornalista.

Olharam para suas empresas e perceberam que lá só tinha barbudinhos, marketeiros e contadores.com. Mas o patrão era um banqueiro, nem um pouco .com, portanto eles eram todos bancários.

E a lógica do banco é diferente da lógica da livraria, do jornal e da padaria.

O norte agora passou a ser: PROFISSIONALIZAR.

Fase 6 – SEM COM

Mas o que queremos? Jornalistas, Livreiros, Padeiros.com?

Será que existem PADEIROS.COM?

Não existem, assim como não existem barbudinhos.com, engomadinhos.com, investidores.com, marketeiros.com, consumidores.com, publicitários.com.

Existem JORNALISTAS, LIVREIROS E PADEIROS.

Existem PUBLICITÁRIOS E PONTO.

Muito além dos discursos.

Não costumo usar este espaço nobre para fazer qualquer tipo de comentário ou para enaltecer indiretamente atitudes e conquistas da empresa na qual trabalho. No entanto, não posso furtar-me a comentar, como colunista que sou desta coluna, há 4 anos, uma decisão que provocou tamanha polêmica e que arremessou o mercado em direções opostas. Refiro-me, obviamente, à decisão tomada pela agência de orientar-se, definitivamente e de forma simbólica, para a sua vocação primordial: trabalhar a comunicação de seus clientes, com pertinência técnica, criatividade e de forma abrangente.

Quando se falou na “primeira agência digital de propaganda do Brasil”, a despeito de interpretações rasas ou superficiais, dizia-se que a F/Nazca, além de ser totalmente digital na sua prática de trabalho (com ferramentas digitais), é digital no conceito. Alguns leram o “primeira” como primeira no tempo. Outros, como primeira, por ser a maior com esse conceito, ou, ainda, “primeira” porque é a melhor. Mas isso não é importante. Crucial é tentar entender o que quer dizer “digital de propaganda”.

E aqui, começa o primeiro paradigma a ser quebrado.

Aos que leram digital como sinônimo de Internet, gostaria de dizer que
esse assunto, Internet, para a F/Nazca, ao menos, não existe. Não é um assunto, aliás. Vamos tentar entender o negócio da comunicação de uma forma um pouco mais estratégica e menos preocupada com ações táticas.

Quando o cliente tem um problema de marketing a resolver, várias ferramentas se apresentam classicamente, e uma delas, apenas uma delas, é a propaganda. Uma agência de propaganda é, portanto, um parceiro indispensável. Conforme foi afirmado, não existe “agência de Internet”, assim como não existe “agência de TV”. Alguém conhece agências de avião ou agências de navio? Não, claro. Quando o assunto é viagens, fala-se com agências de viagens. Ninguém, querendo viajar, pensaria em contratar uma agência de avião para comprar seu vôo, uma agência de carros para alugá-lo, uma agência de hotel para fazer sua reserva, e assim por diante. Da mesma forma, agência de Internet é um discurso, e vazio. Ou, se preferirem, é uma definição tática e não estratégica.

Agora, vejamos o segundo paradigma. O que é mesmo uma agência? Uma agência agencia, não é mesmo? Logo, uma agência não produz. Sua força está no seu conteúdo intelectual e, portanto, em idéias, de um lado, e a operacionalização das partes que produzem (e veiculam), de outro. Uma agência que produz nem agência é. É óbvio que, quando você planeja viajar, você pode ir à companhia aérea comprar seu bilhete, à loja de aluguel de carros e ao hotel fazer suas reservas. A companhia aéra “produz” vôo; a de carro, aluguel de carro; o hotel, quartos. Não há agenciamento. Compra-se diretamente na fonte “produtora”. Da mesma forma, quando se tem um problema de comunicação para resolver, pode ir-se diretamente às fontes produtoras. Mas por que será, então, que o mercado profissional prefere sempre ir a uma agência? A resposta é óbvia. Porque o mercado quer “comprar” o conteúdo intelectual de uma agência de propaganda antes de tudo, e, complementarmente, a operacionalização das “fontes produtoras”.

Pergunto-me às vezes por que é que as pessoas têm a infeliz mania de reinventar a roda a cada suspiro do mercado? Pergunto-me, também, por que é que as pessoas procuram encontrar seu nicho de forma reativa, no extremo oposto de seus concorrentes?

Por que é que as pessoas, as empresas, enfim, não olham primeiro para seu próprio umbigo para, somente depois, pensar na forma adequada, para elas, de eliminar o barrigão? Não existe solução universal e passe-partout. Esta visão darwinista da realidade é boba e passageira.

Essa foi a lição da decisão acima citada. Uma decisão que é única porque foi pensada, cultivada, construída. Uma decisão que é única, porque verdadeira. Muito além dos discursos.

Pesquisa na Web: o tradicional revisitado.

Aconteceu na semana de 10 a 12 de abril o congresso mundial da ESOMAR em Dublin cujo tema tinha o sugestivo nome de Net Effect 3.

Que a Internet é a bolha da vez, ninguém mais tem dúvida mas nesse mar de informação, especulação, profecias e tendências é certo que todos estão estressadamente perdidos e aflitos. O Net Effect é tão profundo e novo que todos os agentes da nossa sociedade estão sendo provocados bem no olho do furacão. Existe pouco espaço e timing para recuar, refletir e planejar.

Paralelamente a esse efeito pertubador, discursos neo-maio de 1968 estão na ordem do dia, revolucionando práticas antigas ou passando um rolo compressor sem pena nem dó em metodologias que se provaram eficientes no passado.

Neste cenário apocalíptico, é um alento ver velhos e calejados atores dando uma visão madura da situação.

Esta foi a primeira impressão que tivemos ao chegar no congresso da ESOMAR e que se traduziu pouco a pouco em conforto e segurança na medida em que cases e técnicas iam sendo expostos. E de lá saímos com a certeza que se muita coisa mudou e está mudando não é necessário nem inteligente fazer tábua rasa para reconstruir o mundo.

O propósito do congresso era portanto de relatar de que forma a pesquisa como ferramenta de marketing podia ser usada nesse “novo” ambiente e como tirar proveito das particularidades no meio.

Vale dizer ainda, a título de introdução que a pesquisa online está em um estágio de sofisticação que não suspeitávamos e que seu uso está se disseminando de uma forma decisiva nos principais mercados do mundo.

Vamos aos principais pontos abordados e àqueles que mais chamaram nossa atenção.

Prós e contras da pesquisa online.

A título de definição qualificamos de “pesquisa online” toda técnica de pesquisa que se utiliza do suporte da Internet para ser levada a cabo tanto no campo quanto na avaliação e análise dos resultados.

Os dois grandes trunfos que fazem toda a diferença nesse tipo de pesquisa são:

– Redução do tempo de realização e tabulação dos resultados
– Redução significativa de custo.

Acessoriamente, algumas qualidades adicionais podem ser elencadas como:

– Facilidade de acessar targets mais difíceis
– Abertura extremamente simplificada para a realização de pesquisas internacionais.

É evidente, no entanto, que, ainda que poderosos, os trunfos da utilização do suporte da Internet para a pesquisa não deverão, ao menos no horizonte visível, substituir por completo as pesquisas off line uma vez que:

– A penetração da Web no universo a ser pesquisado nem sempre é representativa
– Inputs não verbais não podem ser analizados e considerados
– Em pesquisas qualitativas por exemplo o fator dinâmica do grupo fica em segundo plano
– Existe uma impossibilidade práticas de estimular os pesquisados com materiais / produtos físicos.

Por fim não podemos esquecer que numa relação online, a informação é sempre formalizada de alguma forma. Portanto, todas aquelas atitudinais ou comportamentais são de difícil reprodução e análise quando se faz uso da Internet como suporte, ao menos no estágio em que ela se encontra hoje.

Técnicas mais usadas na pesquisa online.

Mais um alento aqui. Algumas das técnicas de pesquisa clássicas são perfeitamente aplicáveis na Internet:

– Qualitativas

– O Focus Group já é extremamente usado, fazendo-se valer de softwares especialmente desenvolvidos para este fim (chat assitido com mediador). O email puro e simples também é usado quando a presença simultânea dos entrevistados não é necessária.

– Entrevistas em profundidade são largamente usadas também, particularmente quando é necessário acompanhar o usuário em um teste de interface por exemplo. Aplicativos muito sofisticados estão disponíveis para esse fim.

– Quantitativas

– Paineis de consumidores são largamente usados nos Estados Unidos e na Europa, alguns deles com mais de 6 milhões de integrantes conhecidos com grande precisão em termos de perfil.

– O chamado “pop-up survey” a exemplo das pesquisas Cadê-Ibope ou da F/Nazca – Zipmail podem ser muito eficientes quando se deseja conhecer perfis de públicos.

– Mystery Shopping

Essa prática é relativamente nova mas vem sendo usada com resultados muito interessantes em alguns dos maiores sites de e-commerce do mundo. Essa prática consiste na visita inesperada de um pesquisador que irá realizar periodicamente compras nos sites e avaliar a partir de então o nível do atendimento e dos serviços.

Os desafios da pesquisa online.

O uso da Web para a realização de pesquisa é extremamente tentador e, embora não haja nenhuma prática revolucionária em termos de metodologia, existem algumas questões chave a serem resolvidas, a saber:

– A escolha do método certo para atender o objetivo traçado, embora não seja propriamente uma novidade, tem nesse ambiente outras implicações de ordem técnológicas. Como deve ser um questionário online? Qual é o número de pessoas ideal de uma cyber quali? Quantos devem ser os mediadores? Quais são suas características?

– A questão do recrutamento é também chave. Como garantir a integridade das informações de um painel de consumidores? Como minimizar o turn-over dos integrantes? Como “fidelizar” os integrantes?

– Finalmente a questão da privacidade é uma das mais debatidas e que aparentemente, ao menos para os integrantes da ESOMAR, está em vias de ser totalmente normatizada. Para esse fim, a associação já elaborou um código ético de normas que deverá ser respeitado e que prevê uma série de compromissos e deveres muito completa.

Pesquisa de mercado e e-commerce

A grande onda de iniciativas do tipo “bandeira na lua” ou seja “preciso lançar urgentemente o site custe o que custar, até mesmo a qualidade do serviço” em que o grande desafio consistia em adquirir, no mais curto período de tempo a maior base possível de clientes já passou. A maioria dos grandes sites de e-commerce do mundo está hoje muito mais preocupada em manter (retain), fidelizar e relacionar-se de forma individual com seus clientes. Para esse fim, a pesquisa online é sem dúvida uma poderosíssima ferramenta que serve de suporte a todas as decisões estratégicas, não só do ponto de vista de comunicação, mas até mesmo de direcionamento do negócio.

Data mining X pesquisa online

E uma pratica hoje comum e que possui uma empatia tecnica inegavel com o meio o uso de tecnicas de data mining de bases de dados de usuarios de sites. Essas ferramentas ja nasceram com a Internet. Gracas a elas e possivel fornecer um nivel de customizacao de conteudos e servicos automatica e transparente em qualquer site “profissional”. Assim, pela competente analise de habitos de compras e navegacao em um determinado site de compras por exemplo, e possivel e recomedavel selecionar ofertas, adaptar conteudos, estimular compras em total sinergia com o perfil do publico. Esta “inovacao” e sem duvida um divisor de aguas na desejavel relacao one-to-one tipica do novo meio. Mas sera que esse tipo de pratica e suficiente para fidelizar clientes? E evidente que nao e mais uma vez as tecnicas tradicionais de pesquisa (agora usando um novo suporte) vem socorrer toda as grandes estrategias online. Porque e obvio que, se fazer um data mining e importante, as informacoes que dele provem estao sempre baseadas em criterios objetivos de atitudes de navegacao e habitos. No entanto, o que dizer daqueles subjetivos? Como avaliar a partir de uma analise criteriosa dos log files de um site uma questao importante como intencao de compras? Como avaliar razoes e motivos da compra? O Data mining, por mais sofisticado que seja nao e capaz de analisar dados nao formais. E aqui, mais uma vez, a pesquisa, numa nova roupagem, mas ainda pesquisa, vem socorrer essa imperiosa necessidade. Nem tudo se resolve entre bits e bytes ou em linhas de codigos.

Afericao de audiencia: a busca de um padrao

Uma das maiores resistencia por parte dos anunciantes para dirigir esforcos mais consistentes para a midia online tem sido a dificuldade de encontrar padroes universais de medicao de audiencia. Existem pelo menos uma meia duzia de formas de calculo que nao falam entre si e que dificultam muito a avaliacao racional dos meios digitais. Por outro lado, muitos veiculos estao preocupados com a proliferacao das chamadas ad-serving company que tem como proposta basica se substituir aos tradicionais institutos de pesquisa. A dificuldade aqui e que ao inves de buscar um padrao, os veiculos estao ficando a merce dessas empresas. Na hora de planejar uma campanha, as agencias sao obrigadas a comparar aboboras com abacaxis e a tomada de decisao e totalmente imprecisa e pouco “cientifica”. Da mesma forma, nao existe padronizacao alguma das terminologias dos dados secundarios coletados. Nasceu no ano passado nos Estados Unidos um progeto que congrega os mais variados agentes do meio que promete uma padronizacao de afericao de audiencia nos moldes das que existem em outros meios. Trata-se do FAST que, como o nome sugere, e um assunto urgente e vital para que a midia online seja trabalhada de forma tecnica e precisa. Se tudo correr bem, este projeto devera estar concluido no segundo semestre no mercado americano e aportar por aqui no final do ano.

Dois exemplos de ferramentas: VRROOM e Insight Express.

A ESOMAR tambem apresentou uma serie de softwares e aplicativos facilitadores para a realizacao de pesquisas online. Destacamos dois deles a titulo de exemplo embora muitos outros foram demonstrados e surpreenderam o auditorio pelo seu grau de sofisticacao.

VRROOM (www.vrroom.com) : Trata-se de um software de elaboracao de Focus Group com chat online. O aplicativo e sofisticado e permite conduzir pesquisas que simulam a perfeicao as tradicionais salas com espelho. Este software permite por exemplo a participacao do cliente, a exclusao de entrevistados indesejados, testes de interfaces ou pecas de webvertising com avaliacao grafica online, transcricao automatica, seguranca total (o teclado dos usuarios pode ser bloqueado caso a peca em questao for sigilosa), etc. Vale a pena conferir.

Insight Express (www.insightexpress.com): O conceito aqui e bastante inovador. E basicamente um painel de consumidores que permite, online, fazer-se um rapida sondagem para testar conceitos, ideias ou ate mesmo pecas criativas. Atraves do site, define-se qual e o perfil do target, qual o tamanho do painel desejado e, em algumas horas, e possivel obter uma sondagem da avaliacao do grupo. Os resultados sao fornecidos de forma grafica, com tabulacao automatica com possibilidade de customizar o cruzamento dos dados. Tudo isso custando de US$ 300 a US$ 5000 dependendo da sofisticacao. O Insight Express nao tem a pretensao de ser uma “pesquisa” mas e uma poderosissima ferramenta ate mesmo para direcionar uma pesquisa mais acurada.

A guisa de conclusao, vale mais uma vez ressaltar que, embora estejamos todos vivendo o sonho da nova economia nos quais incontaveis paradigmas vem sendo quebrados, armas e ferramentas antigas ainda sao eficientes, principalmente quando turbinadas por esse novo meio.

Nao existe, em absoluto, uma especie de “concorrencia” entre velha e nova economia, entre virtual e real. Isso e bobagem. O virtual precisa do real para aprender e o real do virtual para sobreviver.

Internet, start-up´s e propaganda.

É demente imaginar que em um país com 3 a 4 milhões de pessoas conectadas à Internet mais de 7% de todos os investimentos publicitários na Rede Globo em Janeiro de 2000 e 8% na Editora Abril, sejam feitos por empresas ligadas à Web (5% do total do investimento publicitário nas mídias Revista, TV e Jornal).

É mais demente ainda pensar que a receita destas empresas se equipara, quando muito, à de uma pizzaria ou posto de gasolina.

Isso sem falar da montanha de dinheiro para aquisições, investimentos de infra-estrutura, compra de mão de obra inflacionada, etc e tal.

O que está acontecendo exatamente? Está sobrando dinheiro ou entusiasmo? Histeria coletiva, corrida de diligência ou agressividade calculada?

Não importa muito analisar os argumentos pseudo-racionais que justificam tanta grana em circulação. Ficaríamos assustados com a simplicidade das motivações.

Mas se olharmos apenas para o fenômeno, sem conjecturas mirabolantes e proféticas, é simples de entender: estão todos correndo contra o relógio, comprando a parca clientela a preço de ouro e alimentando as expectativas especulativas dos investidores numa espécie de furacão lissérgico.

O raciocínio é mais ou menos o seguinte: “tenho uma grana que os investidores disponibilizaram. Meu desafio é, em X dias, colocar para dentro do site Y pessoas cadastradas, ter Z páginas vistas ou mostrar o barulho na mídia para os investidores. Se eu alcançar essas metas, eles liberam mais com uma nova meta. E assim sucessivamente num toma-lá-da-cá danado.”

É uma pressão terrível que só tem uma saída: investir muito em publicidade (e pouco no produto/serviço/site). Ou, investir antes em publicidade (e depois no produto/serviço/site).

Aí, precipitação de um lado, correria do outro e o resultado é uma propaganda de péssima qualidade, afoita, sem conceito pra cá e um site ruim, feio, desapontador, com falhas de segurança, navegação, conteúdo, pra lá.

Nem é preciso exemplificar, basta abrir uma revista ou assistir a TV e em seguida correr para o computador para acessar a promessa. Tédio aqui, frustração ali.

Outra: quem falou que ônibus e taxi são efetivos para uma empresa “dot.com”? Duvido que algum profissional de mídia seja capaz de justificar tecnicamente essa escolha. É a chamada tática de mídia “Maria vai com as outras”. Ou chute, precipitação.

Exceções existem, claro, raras e louváveis.

Agora, será que alguém duvida que os tais investidores são pessoas com os pés bem fincados no chão e que estão querendo ver, lá na frente, resultados concretos?

Alguém duvida que os internautas, os consumidores, são pessoas que não têm absolutamente nada a ver com essa lógica sem lógica?

Tudo em nome de um mito que ganhou uma importância inacreditável: o mito do “tenho que ser o primeiro, entrar antes da concorrência”. Quase um vale tudo. É o mito da Amazon, é claro. Mas, quem pode afirmar que ela foi a primeira livraria virtual do planeta? Não foi. O sucesso da Amazon não pode ser creditado unicamente ao seu pioneirismo. Isto é uma visão tacanha e superficial da realidade. O que fez a Amazon foi sua proposta totalmente original, com um serviço a cada dia melhor e mais completo, conteúdo de alto nível, variedade de oferta, preço, etc, etc, etc. Basta ser um pouco mais calejado nesse mercado para lembrar-se de uma quantidade enorme de iniciativas igualmente pioneiras na Web que simplesmente desapareceram. Quem se lembra do Pointcast, Marimba, Bezerk, Firefly, Onlive, Palace, Vice and Virtues, Alphaworld, Pathfinder, The Well e mais um sem número de lojas web afora? Foram os primeiros, todos falavam deles e de repente, hocus pocus, sumiram, foram vendidos, incorporados ou descontinuados. Idéias que atraíram investidores numa primeira/segunda/ terceira rodada e só.

Mas e aquela pergunta óbvia: quem está ganhando agora com este frenesi? Os internautas? Não muito. Os investidores? Ainda não. Os tocadores de diligência? Só salários e promessas. As produtoras? Trabalho e stress. Sabem quem? Os veículos de comunicação e as agências de propaganda.

Daí uma conclusão simples: estas empresas “ponto com” estão nas mãos da mídia (a velha principalmente) e das agências de propaganda. Se as campanhas fizerem com que as metas sejam alcançadas, uma graninha nova aparece. Menos mau. Senão, bye bye. Isto no curtíssimo prazo.

Clientes “dot com” são mais voláteis e infiéis com suas agências que o público internauta que pretendem atingir. Investidores “dot com” idem.

Aí, fica valendo aquela coisa mais velha que a mídia velha: construção de imagem e fidelização do cliente. Para construir uma imagem, você precisa de uma boa agência de propaganda. Para fidelizar um cliente, um excelente serviço.

Não basta ser o primeiro a ser lançado, o primeiro a anunciar. Isto é uma contingência do mercado? OK, vamos nessa, mas isso é pouco. Tem que haver posicionamento, mensagem coerente e simples, conceito. Em outras palavras, tem que ser propaganda, a boa propaganda.

Porque senão, sabe esse monte de dinheiro que você está investindo (se você for um investidor) e esse monte de dinheiro que você está gastando (se você for um tocador de diligência)? Sabe essa empresa que vai fazer de você um milionário “ponto com”? Bye bye até nunca mais.

Histeria não faz história

Outro dia, fiquei intrigado com a declaração de um executivo cyber: “nós privelegiamos a agilidade em detrimento da qualidade”. É a primeira vez que vejo uma declaração tão honesta e esclarecedora sobre uma certa maneira de fazer negócios online no Brasil.

Honesta porque ejaculação precoce é uma doença e não uma opção.

Esclarecedora porque é reveladora sobre a origem e os objetivos desse tipo de iniciativa.

Entender, a gente sempre entende. Difícil mesmo é, como usuário e cliente, aprovar.

Diante da alucinada e patológica histeria que está sitiando todas as iniciativas online no país (e aqui, nos Estados Unidos, é muito pior), o tempo parece ser o único e implacável inimigo. Os outros: a concorrência, o produto, o serviço, o atendimento, o relacionamento….isso fica para depois, quem sabe um dia, depois do IPO.

Mas parece que esqueceram-se que o cliente não faz a menor idéia e não tem o menor interesse em saber que tal e qual serviço online foi feito nas galés, com ameaças de pelourinho e tudo por enlouquecidos profissionais motivados por promessas milionárias, quem sabe um dia, depois do IPO. Melhor dizendo, o usuário é muito mais pragmático do que esses senhores. Ele não vira cliente assim com tanta facilidade. Se o serviço é ruim, lento ou caro, bye bye quem sabe um dia, depois do IPO.

Iludem-se esses IPO boys ao achar que a agilidade do lançamento do site garante o sucesso. Ora, desde que o mundo é mundo e a Web é Web, é a idéia, a grande idéia que move o mundo. A Amazon foi uma grande idéia. Não é mais. Foi, para Jeff Bezos, não para as centenas de caçadores de IPO que copiaram o modelo amazonico.

E aí, fico aqui me perguntando o que levaria um executivo a afirmar que não procura qualidade mas agilidade? Pois eu acho que o cliente não está nem aí para a agilidade. Ele quer qualidade, sempre qualidade, acima de tudo qualidade. Inclusive na agilidade do pedido, do atendimento, da entrega. Mas não é essa a agilidade que interessa os moços do IPO. Claro. É a agilidade de tentar provar ao capital ocioso de Wall Street que esse negócio de Web no Brasil dá certo. Enquanto é tempo.

Tomara que isso não dê o maior barraco lá na frente e que as idéias, as boas e criativas idéias não sejam atropeladas por tanta pressa. Quem sabe o Kama Sutra, destaque de venda do referido site, não seja uma leitura básica para começar a entender que a pressa é inimiga da arte do sexo.

Exercício de des-abstração. Internet? Não fazemos.

– Bom dia Seu Fábio. Ouvi muito falar da sua empresa. Eu gostaria de convidá-lo a participar de um processo de seleção que nossa organização está iniciando visando escolher o parceiro ideal para liderar nossas ações de comunicação. Eu apenas gostaria de lhe perguntar se a sua empresa também faz criação?
– Hã, como?
– Isso, criação, e também mídia, planejamento, pesquisa, essas coisas da propaganda, o Senhor entende?

Surreal não é mesmo? Agora, façam o seguinte: substituam por exemplo as palavras grifadas por webvertising, programação, webdesign, arquitetura de informação, Internet.

Assim:

– Eu apenas gostaria de lhe perguntar se a sua empresa faz Internet?
– Hã, como?
– Isso, Internet, e também webvertising, programação, webdesign, arquitetura de informação, essas coisas da Internet, o Senhor entende?

Nada de surreal agora. Pior. A frase ficou quase tão comum que já está ficando chata. Mas o interessante é que a primeira é tão sem sentido quanto a segunda.

Para muita gente, a Internet ainda é uma nebulosa abstrata, na qual trafegam, com isonomia, uma fauna de cyberloucos, psicodélicos, visionários, profetas, gafanhotos e outros bichos. Mas deixemos, por ora, o embate psico-social de lado. Minha idéia é menos ambiciosa e apaixonante: como é que as empresas estão reagindo à invasão venusiana da data-esfera (sic)?

Numa tentativa de tipificação, existem no Brasil 4 tipos de reação padrão:

1) Internet, hã?
Essas são aquelas gigantonas engessadas há décadas em pólices de comunicação castradoras. Para elas a Internet é uma bactéria trazida por alienígenas que está contaminando as populações de forma exponencial. Para elas portanto, o assunto Internet é um caso de saúde pública e não de comunicação.

2) Internet, sei!
Essas são outras igualmente atrofiadas na sua capacidade de aceitar e entender mudanças. A diferença aqui é que as tais pólices de comunicação são cabrestos mais soltos e que estimulam o papel exploratório dos funcionários. Mas exploratório não significa opinativo e muito menos decisório. Para essas empresas a regra é o parti pris chupado de algum manual ou revista de vulgarização pseudo científica, pseudo neurolinguística. Citando: “Internet é a nível de processo, sinergias e reengenharias, o futuro, a democracia, a grande revolução. Internet, acredito muito nela. Viva a cibernética”. Após o discurso inflamado, a Internet volta a ser aquele assunto chato de nerd.

3) Internet, vejamos…
Aqui, temos empresas mais ousadas e em processo endêmico de reestruturação, ebulição e interrogação. Essas são aquelas organizações esfuziantes, cheias de idéias e com alto índice de amor à camisa. Para essas, Internet é o que ela é de fato, uma grande bagunça, uma enorme promessa e uma membrana fascinante. Aqui, via de regra, estamos sempre inventando, refazendo, questionando. Nessas empresas, a regra é a insatisfação com os resultados “ah, essa cenoura que nunca chega”. Organizações desse tipo ainda estão estudando e para elas a Web não sai muito da esfera da comunicação. Ainda não enxergaram a rede com seu potencial de reinventar o seu negócio.

4) Internet, ufa!
Posto que estamos sempre nos referindo a grandes corporações, é extremamente difícil encontrar esse tipo de atitude frente à Web, com exceção de algumas empresas de tecnologia ou outras dot com companies. Falo do Brasil claro. Por razões óbvias, essas empresas sacaram a Web como um enorme potencial de criar marcas, serviços, fidelização, consumidores e dinheiro. Para elas, Internet não é um assunto, tampouco tema de uma matéria. Internet é o ambiente no qual respiram. Alguém aqui já pensou em fazer uma matéria dirigida a um público de marketólogos e marketeiros que fala de oxigênio, ozônio e gases poluentes. É certo que não.

Empresas do tipo “hã” devem aposentar seus dirigentes. Não há tempo para reciclá-los. Jurássicos demais.

Para as “sei”, quem sabe a lobotomia seria mais indicada porque não existe nada mais irritante do que essa presunção medieval.

Os “vejamos” vão ler essa matéria e enlouquecer imediatamente suas equipes em intermináveis reuniões apocalípticas.

Já os “ufistas”, cuja capacidade de absorção de novas idéias é imediata e intuitiva, sequer vão ler essa matéria. Eles não têm tempo a perder com o passado, só o presente lhes pertence.

E quem discutirá o futuro?

Ora, a fauna de cyberloucos, psicodélicos, visionários, profetas, gafanhotos e outros bichos. Deus os proteja.

A histeria do virtual.

Lembro-me que no ínicio, sempre que o assunto da mesa ao lado era Internet, eu levantava a orelha, aguçava o olfato e gesticulava impaciente como se o assunto me dissesse respeito diretamente. E mais, eu geralmente ficava indócil com o teor generalista das conversas. Ou pior, quando o assunto era temperado com irritantes faits divers do tipo hacker invade o pentágono ou dona de casa ingênua é seduzida por garanhão safado da Internet, eu me desesperava com o destino estúpido da humanidade. A cada instante me dava aquela irresistível vontade de levantar da mesa e desmascarar os safados. Afinal de contas estavam mexendo com a minha Internet. Que atrevimento! Isso para não falar dos bacanudos arrotando frases aleatórias colhidas fora de contexto nesses manuais de auto ajuda que abarrotam as bancas de jornais todas as semanas.

Agora o fenômeno se reproduz estranhamente e às avessas. O assunto virou onipresente. Em todas as rodas, vira e mexe, fala se da Web. Podemos dizer que vencemos os céticos. Mas de uma arrogância preconceituosa pulamos num piscar de olhos a um outro tipo de prepotência igualmente irritante. Falo evidentemente deste upgrade repentino que os garagistas pioneiros sofreram na hora em que todos as luzes e todos os focos se voltaram para eles e suas idéias precursoras. E quando falo de luzes, estou me referindo obviamente a dinheiro.

Sabem aquela história do pé rapado que ganha na loteria esportiva e compra um tanque de ouro para sua esposa lavadeira? Pois então, como vocês bem sabem, o dinheiro é cego, surdo e mudo. Mas é também extremamente exigente. Agora ele chove aos borbotões e molha a campina seca e fértil. Mas o sertanejo sabe que não adianta plantar nestas rajadas generosas dos céus porque o sol volta logo e o milho verdinho aborta suas espigas.

Mas o primeiro impulso é quase irresistível: alçar-se ao pedestal dos predestinados, fazer pouco caso dos conselhos e da experiência e sair atirando para todos os lados. Poucos se dão conta que existe savoir faire além da Internet. Poucos humildemente reconhecem que nem tudo é tão diferente e novo na data esfera.

Porque se é verdade que uma boa idéia germina e cresce rapidamente neste novo cenário, a concorrência também é infinitamente maior. Isso para não dizer que praticamente não existe mais segredos. Copiar e fazer melhor é baba. Boas idéias viram commodities rapidamente sem pudores e não me toques.

Quem sabe o valor, o verdadeiro valor de um negócio dot com esteja muito além da idéia?

Porque se é verdade que hoje está muito mais fácil encontrar dinheiro aparentemente fácil para iniciativas na web, devemos nos lembrar que o dinheiro é o mais volátil dos combustíveis.

Quem sabe o verdadeiro valor de um negócio dot com esteja muito além do dinheiro?

Então se não é a pioneira idéia tampouco os generosos recursos, o que uma empresa dot com deve perseguir a todo custo?

Quem sabe não devessemos esquecer os complexos do começo e baixar a crista do momento presente e pensar um pouco na importância da construção de uma marca.

Quem sabe o valor de um negócio, com com ou sem com, não esteja diretamente ligado ao calor da marca?

E como é que se constrói uma marca? Com comunicação planejada e criativa, ou alguém duvida dessa assertiva? E não se faz planejamento e criação afoitamente. Comunicação integrada e inteligente não se faz à doidivana. Nem no mundo físico, nem no virtual, nem no transcendental.

O Yin e o Yan dos meios.

As vezes me preocupa um pouco aquele discurso que já virou lugar comum: a mídia Internet é interativa e a TV é passiva. Essa afirmação é óbvia mas nem sempre nos perguntamos o porque da diferença. Preferimos aceitar essa máxima como dogma.

Mas queria sugerir alguns pontos que longe de procurar respostas pretende tão somente acordar o debate.

O ambiente: passividade, interatividade ou atividade on demand?

Interatividade na minha concepção significa “ação com participação”. Em outras palavras, é uma ação do agente com participação inteligente do objeto. Interatividade significa no limite que não há objeto, apenas agentes. Gosto da metáfora do vírus. Sem portador, ele não tem vida. É quase um mineral. No entanto, quando encontra um agente, passa a ter vida, reproduzir-se da interação com o agente. E aqui, cabe definir a fronteira entre o que é interatividade e on-demand. Definitivamente, os dois conceitos são distintos. On-demand é a TV. Eu clico, ela acende. Eu zapeio, ela troca de canal. Ou, on-demand é a maioria ainda do que se vê na Web hoje. Clico num hipertexto, ele me dá a matéria que pedi. Só isso.

Já interatividade sugere que há inteligência do lado de lá da interface, seja ela uma inteligência pré programada como em um game, seja ela humana como em um chat. O exemplo máximo de interatividade que podemos imaginar hoje são experiências de imersão na interface.

A Web é muito útil pois ela automatiza e multiplica a capacidade de entrega on-demand de conteúdos. Mas a Web só é revolucionária quando consegue ser interativa, coisa que jamais a TV ou as outras mídias passivas podem ou poderão ser.

Os agentes: espectadores ou expectadores?

Em uma mídia passiva não temos usuários, temos espectadores, ou seja pessoas que assistem. Está caracterizada, através do público a vocação das ditas mídias passivas: ele não quer nada, ele assiste. O querer, a gente pesquisa, mas não mudamos on demand. Os programas “interativos” da TV, os “você decide” são o máximo de interatividade que se pode alcançar nessa mídia. Assim mesmo, o que vemos é uma simulação de participação, uma vez que a saída é sempre escolher pela maioria das respostas e não dar a resposta que pedi e quero. A eterna lógica do mínimo denominador comum, pensamento chave das mídias de massa, novamente abafa qualquer tentativa de tornar interativa a mídia.

Já na mídia dita interativa, não temos espectadores e sim expectadores ou seja pessoas que esperam. Aqui, igualmente, está sacrementado o objetivo máximo e ideal dessas mídias para o público: ele quer escolher (on-demand) e idealmentemente interagir.

A Web é extremamente competente para atender expectadores e ainda muito primária para espectadores. Espectadores procuram emoção, sensação, pulsos inconscientes. Na Web isso ainda é tecnologicamente impossível. No entanto, na mídia passiva, expectadores são e serão sempre frustrados. Aí está o nicho da Web que ainda devemos aprender a explorar.

Tendência: de que convergência estamos falando?

Durante décadas, a mídia passiva reinou soberana. Eis que surge um obstáculo dialético: a Internet. E agora falam em convergência. Convergência de quê? Dos devices, dos meios de transmissão, concordo, vamos nessa. Mas convergência dos conceitos não. Não ainda. Cabe-nos entender ainda que somos seres passivos, absorventes, negativos tanto quanto ativos, expansivos, positivos.

A mídia deve ser igualmente passiva e ativa, fêmea e macho, sol e lua, Yin e Yan.

Os Exús da rede.

Ele está nas encruzilhadas, nas porteiras, nas carrancas. Mensageiro dos orixás, ele é o abre-caminhos. Os orixás não se revelam assim à toa, mas com Exú é tudo mais fácil, mais rápido e mais à mão. Mas se Exú assusta os mais comportados, ele também é o Hermes do panteão grego ou São Pedro do altar católico. Já na membrana digital, na Internet, ele tem outro nome e se chama Portal.

E porque a primeira pergunta do internauta neófito é sempre “por onde começo”, e porque há uma necessidade urgente de justificar investimentos, e principalmente porque todo mundo parece que tem sempre as mesmas idéias, pipocam aqui e ali mais e mais portais na Internet brasileira. Nas encruzilhadas, onde esperam-se placas cheias de setas, eis que surgem bibliotecas, shopping-centers, parques temáticos, complexos hoteleiros, e também singapuras, favelas e mangues crivados de palafitas. Agora, o pior, é que todos tem a mesma cara ou melhor, a mesma falta de cara.

Se tentarmos entender o que é um portal, podemos dizer que é um enorme site de um provedor de acesso ou um provedor de acesso de um enorme site que tem por objetivo indireto de guiar o internauta em sua navegação pela rede e o direto de tornar-se um media site.

Nada mais equivocado do que chamá-los de portais porquanto não são entradas para a Internet e sim cárceres de conteúdos. Onde lê-se entrada para a Internet, deveria entender-se saída e onde vê-se cárceres de conteúdos, subentende-se cárcere do internauta. Um portal deveria portanto ser uma saída para a Internet e tornou-se um cárcere do internauta.

Quando falo de saída para a Internet penso particularmente no que é de fato essa nervura de bits. Não há lógica na Internet, não há ordem nem tampouco principio e fim. Há sim um conceito que se limita a ser um fluxo livre de informações, um espaço sem dimensões nem tempo, no qual o indivíduo é livre para transitar, armazenar e construir. É isso a Internet. E não tentemos organizar esse magma porque ele é por principio gerador anárquico e nisso está sua força. Um portal tem por missão sair de um espaço solitário para um universo povoado das mais variadas experiências.

E quando falo em prisão, vejam a lógica: o provedor de acesso configura o browser de forma a ter a sua Home Page como página default do mesmo. Então, enxergando nisso um potencial enorme de comercialização de espaço publicitário, a idéia é resolver a navegação do seu cliente naquele site ou portal. Então, ele persegue conteúdos mais e mais atraentes que aprisionem o internauta. De repente ele resolve não mais somente cobrar pelo acesso mas também pelo conteúdo. Está configurado a intenção carcerária.

Do ponto de vista prático, o que vemos hoje e particularmente nas últimas semanas é um pipocar maluco de iniciativas paralelas de portelização da Web brasileira. UOL, ZAZ, Starmedia/IBM, MSN, Zip.net, Yahoo, AOL, sem falar em todos os sites “portais” dos provedores de acesso se engalfinhando atrás de um público/audiência crescente, é certo, mais ainda parca.

Mas isso nem é o mais importante. O mais estranho nisso tudo é o fato dessa explosão estar em desproporção diante de uma certa lógica da Internet que se quer multi-faceteda, focada e customizada.

Não fosse apenas pelo fato de estarem canibalizando-se uns aos outros, os mau chamados portais não tem caráter nem tampouco parecem ser administráveis.

Talvez eles sejam um mau necessário. Talvez? não, com certeza, pois foram e são a força que propulsiona a Internet como mídia. Mas em sua própria lógica inserem-se as sementes de seu fim ou se preferirem, transformação, transformação essa que passa necessariamente por um processo de pulverização de seus conteúdos/audiências.

Mas quando vejo os veículos de comunicação, os verdadeiros donos da informação aglutinando-se, vide prostituindo-se vergonhosamente nesses cárceres, fico preocupado com o nosso negócio publicitário. A mídia volta a ser comprada por audiência, quantidade de público e adiamos a chance de buscar qualidade e eficiência.

Bolhas de sabão em webcity.

Meu Deus do céu o que foi aquilo, ontem à noite, aquela entrega do Oscar (não riam!) da Internet brasileira?

Não quero entrar em polêmicas e discutir se esse ou aquele prêmio foi ou não merecido.

Acho que, em grandes linhas, foram premiados os melhores dentre aqueles que concorriam. O que não necessariamente significa que sejam os melhores da Internet brasileira.

Também não ficaram tão aparentes aqueles favoviritismos óbvios dos anos anteriores. Tampouco apareceram aqueles prêmios de armário à la Sofia Loren/A vida é bela. O mesmo para aqueles clássicos favorecimentos comerciais. O que não necessariamente significa que estes “pequenos deslizes éticos” não tenham rolado.

Digamos, para resumir, que tudo estava mais bem organizado. Ano a ano, as derrapadas são menos grosseiras. O que não necessariamente significa que não continuem acontecendo.

Mas sejamos honestos. Valeu pelo esforço nobre de valorização da Web no Brasil. O que não necessariamente significa que seja tão nobre assim.

Mas o que vale discutir é se um concurso megalomaníaco como esse, com critérios de julgamento vagos e pouco valorizados é útil ou um mar de sabão que se desmancha na primeira sopradinha.

Para que tanta pompa se os profissionais ralam como condenados, remunerados por uma rara moeda: o entusiasmo?

Para que tanto provincianismo quando estamos falando com e para pessoas conectadas e antenadas com outros discursos, outros padrões de comparação e valorização de resultados concretos e mensuráveis?

Para que iludir o cliente glamourizando um peixe que veio para responder a uma clamor preciso e por que não dizer pertubador dos consumidores, leitores, enfim, das pessoas e não para valorizar arroubos hedonísticos?

Então lembro-me daquelas bolas amarelas distribuídas no final da festa do Ibest 99. Bolhas de sabão. Muita espuma para pouco sabão. Ou melhor, muita espuma para um mau sabão.

O dervixe e os web-designers.

Um dervixe reputado por sua sabedoria e paciência, qualidades raramente encontradas em uma mesma pessoa o que o tornava particularmente venerado, foi procurado por três web-designers, excitados e impacientes, qualidades muito encontradas nessa categoria de gente, o que faz delas pessoas especialmente irritantes, ainda mais para um contemplativo e sorridente ser de Luz.

Os três aventureiros aproximaram-se de Al Web Sabiah, esse era o nome do dervixe, e perguntaram:

– Al Web, você que muito sabe e muito tem para dar, diga-nos como alcançarmos o sucesso.

O dervixe, coçou pacientemente a omoplata direita e disse:

– A resposta a essa pergunta deverá ser individual, intransferível e vai exigir de vocês grandes sacrifícios.

Todos aceitaram em únissono, gritando e pulando como loucos, o que fez Al Web franzir o cenho e coçar o terceiro artelho esquerdo.

Acontece que os três compadres eram tão diferentes em intenções e saber quanto podem ser três caroços de uma mesma romã.

O primeiro Al Uno era sonhador e mentiroso. O segundo, Al Duo, por sua vez, pragmático e chato. Já Al Trio, o terceiro, era cuidadoso e medroso.

O dervixe, que já havia perdido todos os dentes de tanto morder em caroços de romã, particularmente naquela salada Fatouche do Arábia da Hadock Lobo, sabia muito bem com quem estava lidando.

Disse então Al Web para Al Uno:

– Você vai para além da transcaucasiana. Lá, você vai encontrar uma terra inóspita mas povoada de ingênuos e dóceis índios. O sucesso está lá, mas cuidado. Mentira é como leite de cabra, coalha rápido e quando coalha dá uma dor de barriga!

Para Al Duo, Al Web não poupou tampouco conselhos e disse:

– Al Duo, você vai para lá das montanhas Kut-u-Khan. Lá, você vai encontrar gente muito rica e generosa. O sucesso vai sorrir-lhe. Mas toda atenção é pouca. A caverna de tesouros, não aceita desaforos.

E a Al Trio, o mais jovem, disse o dervixe, já cansado de tanto esticar a mosca de sua barba venerável:

– Al Trio, se você quiser sucesso, você deverá ir para o deserto de Mob-id-Ikh. Lá você não vai encontrar ninguém. Ninguém para roubar-te as tâmaras da viagem. Mas, meu filho, preste atenção às cobras, às cobras, às cobras. Muito cuidado com as cobras.

O dervixe, pediu para ficar a sós e voltou-se para suas rugas cavadas em um movimento de extrema concentração meditativa ou se preferirem, sono profundo.

Os meninos foram-se ainda transtornados com os conselhos do sábio. Transtornados não. Amedrontados. Apavorados.

Al Uno partiu para a Transcaucasia e mentiu tanto, tanto e tanto que acabou contratado como bobo da côrte em Petrogrado pelo grande Czar onde fez carreira.

Al Duo, em sua montanha, roubou, roubou, mas roubou tanto que sua fama ultrapassou fronteiras e ele foi mandado buscar por Abu Pim Pol, rei da Tailandia, para um projeto meio astrônomico meio faraônico.

Al Trio, coitado, ficou lá no deserto e foi mordido por uma cobra.

E assim é contada a história em muitas feiras e caravansarás da Ásia menor. Muitos analistas modernos conseguiram identificar naquelas figuras os grandes arquétipos do homem:

O sonhador mentiroso porque nada combina mais com o sonho do que a mentira já que o sonho é sonho e só merece ser sonhado, não vivido.

O pragmático mala porque a vida sem sonho é muito chata e não merece ser vivida.

O medroso porque o medo não vale a pena. Nem na vida, nem no sonho.

A saída? Acredite, estava lá, na mensagem do presidente!

Primeiro foi assim: cantaram que a Internet era o que ligava. Desesperanças de fim de milênio, falta de grandes causas, morosidade. Talvez. Ou então, efemérides, o stress da informação, overdoses diárias. O fato é que todos embarcaram na onda, sem nenhuma preocupação com a nota falsa, o acorde troncho. Mas quem tinha o diapasão estava em outra praia mais rentável. Portanto o canal era plantar a barraca na praia, fazer um montinho na areia e esperar. Isso foi legal durante um bom tempo. Mas a ressaca já passou.

Está mesmo na hora de colocar alguns pingos nos seus respectivos.

No começo da barraquinha, os sites institucionais eram brochurewares. Tinha lá aquelas coisas que só interessam a quem se interessam por elas, com o perdão do pleonasmo. Mas lá estava, lá estava a reveladora, a profética, a bem aventurada “mensagem do presidente da companhia”.

Mas aí, foi tão fácil, tão fácil, tão fácil e barato, que alguns resolveram inventar. E aí, inventaram comunidades, conteúdos dinâmicos, discursos interativos e todo o resto que sabemos. Só que esqueçeram-se de verificar, lá na brochureware o que o presidente dizia: “qual é o core business da empresa?, qual à missão? o foco?” E aí, neguinho começou a desafinar feio.

Explico-me melhor.

Falando de conteúdo. Quais são as empresas cuja vocação é de dar conteúdo, informação? Os veículos de comunicação, certo? Certo. Agora, por que diabos uma marca de absorventes vai resolver falar da condição feminina? Sim, sim, porque tem a ver. Claro que tem. Mas qual é a vocação da empresa? Dissertar sobre a condição feminina ou estudar o volume do fluxo mensal da mulher? Ora, ora, daí a César o que é de César! E por que uma mulher iria acreditar ou confiar na visão da condição feminina que sua marca de absorvente lhe dá? Ora, ela com razão vai preferir a visão da Camile Paglia ou da Rita Cadillac e elas vão com certeza preferir falar desse assunto em veículo de comunicação, não é mesmo? Dá mais holofote, ora! Então, a regra é: Conteúdo, OK, mas apenas e apenas aquele que é da minha competência dar.

Falando de comunidade. Minha marca suscita algum tipo de ligação visceral com o consumidor? Vocês conhecem alguma mulher que resolve fazer uma tatuagem de sua marca de absorvente? Seria no mínimo original, o gerente de marketing pode até pensar em lançar a moda, fazer uma promoção e tal e coisa, mas ele vai ser chamado de lunático. Agora, por que vocês acham que a garota vai entrar em uma comunidade de usuárias de absorventes da marca X? Pra quê? Ora, ora, essas aí, vão procurar sites cuja vocação é de criar essas tais comunidades não é mesmo? Então, desista mano, de achar que sua marca é o objeto do desejo de todos os consumidores. Porque afinal de contas quantas Harley Davidson você conhece?

E por aí vai. Mas a moral dessa história é a seguinte: Que tal pararmos de querer inventar a roda? Que tal lermos a mensagem do presidente?

E que tal acreditar na Internet como mídia? Quero vincular a marca do meu absorvente à condição feminina? Então, vou atrás dos sites que tratam desse assunto e pronto, invisto minha grana lá! Simples não? Quero que as minhas consumidoras usem tatuagem de absorvente? Vou lá nas comunidades que existem aos borbotões na Web e lanço a moda anunciando a minha promoção.

É que agora, a praia é outra. A web cresceu, sofisticou-se. O internauta também. A Internet não é mais uma mídia alternativa. É de circunstância integrar as estratégias de comunicação. O diapasão que dá o tom chama-se estratégia, negócio, pesquisa e criação. Plantar sua barraquinha e inventar a roda não interessa mais a ninguém.

Internet, pra quê?

O que existe de mais fascinante na Web comercial é sem dúvida o fato de estarmos sempre exercitando as meninges, o dedilhado e o gogó à caça de soluções que raramente encontram paralelos.

Porque sempre que queremos pensar em comunidades cibernéticas, acusam-nos de neo-românticos. Se falamos que ela é content oriented, somos megalôs. Se dizemos que ela é Mídia, irão tratar-nos de estraga prazer.

Então. É sobre essas três visões que eu gostaria de raciocinar e propor uma leitura pretenciosamente histórica sobre a utilização da Web comercial.

Comunity, comunity, comunity.

A Web era uma terra de corajosos idealistas. Corajosos porque as ferramentas eram toscas e os resultados incertos. Idealistas porque a perspectiva de torná-la rentável, quimérica. Nasceu nas BBS, no IRC, nos Moos, lá longe no tempo e no espaço. De neguinho pra neguinho, broder to broder.

Um montão de comunidades nasceu e morreu. Era legal. Foi legal.

E aí, chegou o carinha mais wired de uma mega marca e resolveu catar umas migalhas no budget pra investir na web. Na ora, bingo, “O que liga é comunidade, mano!”

Tudo quanto era marca famosona resolveu entrar nessa onda. Era uma tal de comunidade de sabonete, comunidade de pasta de dentes, comunidade de chocolate em pó. Uma farra mesmo.

Era sempre assim, quer ver?

A gente entrava nesse universo e já de cara perguntavam pra gente a música que mais curtíamos, o prato que mais traçávamos, nossa marca de bola de gudes, rolemã ou sutiã. Pronto. Que lindo. A turma ia se encontrar ali, naquele paraíso comunitário e curtir momentos lindos patrocinados pela generosa multinacional.

Mas algo aconteceu, porque nem as mais festejadas comunidades sobreviveram ou se renovaram. E hoje, ninguém mais se orgulha de pertencer a esses universos. Ninguém mais tem saco para preencher aqueles formulários chatos que vão alimentar ridículos bancos de dados inúteis de usuários minguados de uma grande marca de consumo de massa.

Nessas comunidades, faltou anonimato. Faltou também sacar que o broder que entrava nelas não vestia a camisa daqueles produtos.

Os projetos soçobraram por falta de público.

Content, content, nothing but content.

E depois, ficou claro que parecia muito fácil na Web dar conteúdo. Assim nasceram a era dos Soap Opera sites. A Web comercial estava começando e poucas iniciativas profissionais de veículos de comunicação pareciam preocupar-se em criar